Vinte e três

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2 meses depois...

No início minha rotina foi toda modificada por conta da minha perna e a depressão que minha mãe diagnosticou que eu tenho. Não acho que seja pra tanto mas esses últimos meses tem sido ruins.

Ir para a faculdade e trabalhar é minha única distração e estou me esforçando bastante. Meu pai disse que tenho muita capacidade de conseguir clientes novos mas eu ando muito distraída e isso me atrapalha. Além disso só tenho ficado trancada no quarto chorando.

Sim, eu tenho feito muito isso.

Pode parecer exagero, clichê ou qualquer outro nome que você queira dar mas pra mim é a dor de perder um filho e de perder alguém que você realmente ama.

Eu tenho pensado tanto em Lucas e sentido muito a sua falta mesmo com tudo que aconteceu. Sinto falta dos nossos momentos juntos, dos seus beijos, seu sorriso e sua companhia. Foi tudo muito especial e único, infelizmente acabou de uma maneira ruim.

Como ele estaria?

Saio dos meus pensamentos com a porta do meu quarto sendo aberta. Minha mãe acende a luz e vejo que ela está acompanhada.

- Visita pra você, Mel. Vou deixar vocês a sós. Por favor, não repare nessa bagunça.

Ela diz a última frase baixo mas escuto. Qual é, não está tão ruim assim.

- Então quer dizer que você é irmã do Enzo? Por essa eu não esperava.

Carol está tão linda e radiante que quase chegou a me contaminar. Ela usa um vestido amarelo e uma mochila preta. Tem um sorriso lindo e está com pouca maquiagem, como costuma ficar. Enquanto eu estou de moletom cinza e regata preta, com olheiras e rosto inchado. Ela se senta ao meu lado na cama e sinto seu ótimo perfume.

 Ela se senta ao meu lado na cama e sinto seu ótimo perfume

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Carol tem se tornado uma ótima amiga pra mim. Nos falamos regularmente e temos muitas coisas iguais, embora eu não me reconheça mais como aquela menina doce e delicada. Ela já se formou em química e agora está dando aulas em uma escola muito conhecida na zona sul do Rio. Meu irmão tem sorte de tê-la, mesmo que seja como amiga. Por enquanto.

- Desculpe não ter te contado, eu achei que ele não fosse gostar. Como você está?

- Eu é que deveria perguntar mas já estou vendo. Mel, você não pode ficar assim...

- Me deixa, Carol. Eu não quero melhorar agora, ainda estou muito mal.

- Eu sei que está. Não posso nem imaginar, Mel mas você precisa ser forte.- Me levanto e ela faz o mesmo, mesmo sem gesso eu ainda sentia leves dores na perna.- Você é tão jovem e linda. Tem uma vida toda pela frente. Não pode ficar trancada nesse quarto como se estivesse 100 anos. Você terá outros filhos. E tem tanto homem lindo, Mel. Você não sabe o que está perdendo na faculdade.- Dou meu primeiro sorriso verdadeiro depois de tantas semanas. Ela se aproxima e pega minha mão.- Por favor, se não quer por você faça por todos nós que te amamos e estamos sofrendo juntos com você.

Ela me olhava fixamente e na expectativa de uma resposta.

- Tudo bem, você está certa.

Carol me deu abraço de urso fazendo com que eu caísse no chão. Rimos juntas e ela me convenceu a ir no cinema com ela.

Eu tentaria ser mais forte.

Tomo um banho demorado e relaxante. Opto por uma jardineira rosa e um cropped branco. Calço minhas sapatilhas e abuso da maquiagem para esconder as olheiras. Deixo meus cabelos soltos e pego minha bolsa.

Meus pais estão cozinhando animadamente e Carol está na sala no computador.

- Ah, olha ela aqui! Vem cá!

Ela me chama e me sento ao seu lado. Enzo está do outro lado da tela.

- Olá!- Digo.- Como você está? E onde você está?

- Estou no caminhão de mudança. Terminei a reforma finalmente e estou me mudando de verdade agora. O apartamento é ótimo, você precisa ver. Hoje farei uma festinha de inauguração.- Ele diz sarcástico fazendo eu e Carol revirar os olhos. Mas sei que isso a afetou.

- Vamos marcar uma visita.

- Claro! Já estava chamando Carol para vir na formatura do Rodrigo. Você vem, Mel? É daqui a 2 semanas.

- Ainda não sei. Preciso ver se estarei livre na faculdade.

- Eu queria muito ir, Mel. Mas só vou se você for.- Carol diz ao meu lado e vejo esperança nos seus olhos. Ela estava apaixonada pelo meu irmão, isso era nítido.

- Mais pra frente eu digo algo sobre isso.

- Estou feliz que você esteja saindo um pouco, Mel.

- Mel está saindo?- Uma voz atrás de mim diz. Minha mãe. Ela está com um sorriso lindo no rosto e vejo o quanto fui injusta com ela nesse tempo que fiquei trancada. Ela sofreu junto comigo.- Isso é ótimo filha!

- É sim. Carol é muito chata quando quer. Bom, vamos?- Chamo Carol.- Tchau Enzo. Juízo, por favor.

- Eu digo o mesmo pra vocês, até mais.

E então saímos para aproveitar a noite.

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