Um Recomeço

Trinta e cinco

Acordei assustada mas dormi menos de 1 hora. Lucas estava dormindo serenamente ao meu lado, então decidi tomar um banho antes de ir para o hospital.

Nem acredito no que acabou de acontecer. Acho que eu e Lucas finalmente fizemos as pazes, e da melhor forma. Enzo vai ficar estérico quando eu contar. Mas pensar nele me dá um aperto no coração. Preciso ver como ele está, já deve estar acordando.

Saio do banheiro, coloco o meu vestido e procuro pela minha calcinha. Lucas está dormindo em cima dela, então preciso fazer o sacrifício de acordá-lo. Ele se mexeu um pouco e o lençol não está o cobrindo mais. Tento não me abalar com a imagem dele nu.

- Lucas! Lucas, acorda!

- Hmmmm...

- Acorda, dorminhoco. Preciso pegar a minha calcinha embaixo de você.

Ele abre seus olhos sonolentos.

- Não acredito que tomou banho sem mim. Quando vai parar de fazer isso?

Ele pergunta e nós rimos. Lembro-me que ele ficava muito irritado quando eu tomava banho sem ele.

- Vamos, por favor. Não é hora pra isso.- Consigo pegar a minha calcinha e a visto sob seus olhares maliciosos.- Nem pense nisso. Preciso ir embora.

- Tenho que ir para o restaurante também. Me espere tomar um banho.

Ele vai até o banheiro, caminhando nu. É uma visão privilegiada que ele me dá e gosto de saber que apenas eu tenho o direito de tocar e fazer o que bem quiser com o seu corpo.

Minutos depois saímos da garagem do seu prédio. Ele fica assustado quando digo que vou ao hospital.

- Eu vou te contar, Lucas mas não agora. Tenha paciência, ok?

- Só não quero que exista segredos entre nós dois.

- Isso não é um segredo. Eu vou contar pra você. Prometo.

Ele suspira derrotado.

- Tudo bem.

Ficamos um tempo em silêncio. Stay da Rihanna toca no rádio. Eu adoro essa música. Canto baixinho o refrão.

Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso

Algo no seu jeito de se mexer

Faz com que eu acredite não ser possível viver sem você

Isso me leva do começo ao fim

Quero que você fique

- Você canta muito bem!- Tomo um susto com o grito do Lucas.- Meu Deus, você é perfeita. Já sei um lugar perfeito pra levar você.

- Lucas, não exagera.- Sorrio constrangida.

- É sério. Você é demais, impossível não ficar apaixonado.

Meu coração se aquece com a declaração dele. Vê-lo assim tão descontraído e dizendo que é apaixonado por mim me deixa o amando ainda mais.

- Chegamos. Está entregue.

- Obrigada pela carona.- Me curvo e lhe dou um beijo, calmo e apaixonado.

- Podemos almoçar juntos amanhã?- Ele pergunta.

- Eu ligo pra você, tudo bem?

Ele fica rígido ao meu lado.

- Sem segredos, Mel. Eu não quero que as coisas dêem errado com a gente de novo.

- Eu vou contar, Lucas. Só não é o momento. Preciso mesmo entrar mas eu vou ligar e vamos nos encontrar amanhã. Eu te amo.

- Também te amo.

*****

Entro devagar no quarto do Enzo, com medo dele ainda estar dormindo mas assim que abro a porta o vejo, sentado na cama com uma bandeja de comida em seu colo.

- Meus pacientes sempre reclamavam da comida de hospital, agora sei o motivo.

Ele notou a minha presença antes que eu dissesse algo. Sua aparência estava um pouco melhor, embora ainda pálida.

- Vou providenciar uma comida pra você.- Digo. Dou um beijo em sua bochecha e me sento ao seu lado.- Acordou faz muito tempo?

- Não. Uns 20 minutos, eu disse que dormiria muito. Pelo jeito sua tarde foi boa, enquanto eu estava hibernando.

Coro com suas palavras.

- Não precisa ficar envergonhada, Mel.

- Desculpe. Bem, foi muito boa.- Sorrio com a lembrança.- Ele me pediu em namoro.

- E quando ele vem falar comigo?

Enzo pergunta sério e eu fico sem entender.

- Como assim?

- Bom, nosso pai sempre fez esse papel mas eu acho que sou mais apto a isso agora. Ele tem que vir me pedir permissão.

Gargalho até sentir minha barriga doendo.

- Enzo, você é tão engraçado.

- Tudo bem.- Ele também ri.- É brincadeira. Estou feliz por vocês, finalmente se acertaram. E pelas bochechas coradas e a roupa amassada vejo que foi da melhor forma.

Coro novamente com suas palavras mas não tenho tempo para responder. Rodrigo entra no quarto, depois de duas batidas na porta.

- Rodrigo! Que surpresa!- Me levanto e o abraço apertado.

- Vim visitar esse carinha que resolveu ficar doente. Como você está, Enzo?

- Bem. Fiquei bastante cansado com a quimioterapia mas agora estou me sentindo melhor. Reagi melhor que o esperado.

- Isso é bom. Eu preciso ir, não estamos em horário de visita. Só entrei porque sou conhecido entre as enfermeiras.- Ele pisca.- Amanhã eu volto bem cedo. Mel, podemos conversar.

- Vão fofocar sobre mim?- Enzo pergunta e logo depois come um pouco da salada de frutas.

- Não se ache tanto, cara. Só estou com saudades da minha gatinha.- Ele me abraça forte.

- Cuidado, ela tem namorado agora.

Meu irmão, língua grande, fala fazendo com que eu cortasse sua cabeça apenas com o olhar. Eu iria contar para Rodrigo mas não assim.

- Sério? Me conte tudo sobre isso, vamos.

Fomos para a cantina do hospital. Percebi que estava com fome, já que não almocei e tive aquela atividade durante a tarde. Pedi dois sanduíches naturais e um refrigerante em lata. Eu não deveria beber refrigerante, eu sei, mas quem resiste? Com certeza eu não. Rodrigo pediu apenas um suco. Quando nossos pedidos chegaram ele não hesita em perguntar.

- Então? Eu fiquei alguns dias fora e quando volto você está de namorado novo?

- Não é bem um namorado novo...

- Não me diga que você está namorando um cara de 60 anos.

Eu dou uma risada alta e ele fica sem entender.

- Quero dizer que estou namorando o único namorado que eu tive em toda a minha vida.

- Aquele cara?- Pergunta surpreso.

- Sim. Sabe aquele dia que fomos a um restaurante e você fez questão em conhecer o chef? Então. Ele mesmo.

- Caralho. Estou realmente surpreso. Você está feliz?

- Estou. Eu o amo, Rodrigo. Sei que a gente já tentou alguma coisa e pode não ser tão confortável dizer isso...

- Tudo bem, Mel. Eu quero que seja feliz. Sou seu amigo antes de qualquer coisa.

- Obrigada, Rodrigo.

Eu agradeci com sinceridade. Rodrigo é tão legal, e eu o amo. Não queria perder sua amizade.