Trinta e sete

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Enfim, dei as caras na empresa depois de uma semana fora. Sei que não perdi muita coisa, Cléo é uma excelente secretária e sempre faz o que é preciso. Mas não posso abandonar meu trabalho, principalmente quando tem alguém tentando te tirar da presidência. Sim, meu advogado entrou em contato e pediu que eu deixasse meus olhos bem abertos com Marlon, então não posso dar motivos para ele conseguir tal proeza.

Estava feliz. Pelo que entendi, Enzo está reagindo bem à quimioterapia e em breve poderá ter alta. Isso me deixou eufórica e animada. Hoje eu iria visitá-lo. Dormi apenas duas noites lá, eu não aguentava presenciar sua quimioterapia e minha mãe me obrigou a voltar à empresa. Então foi o que fiz.

Eu e Lucas também estamos muito bem. Parece um conto de fadas, estamos tão apaixonados que sinto que nada pode estragar isso. Depois de tanto tempo longe estamos mais maduros e nosso amor ainda mais forte. Ele é um verdadeiro amigo e companheiro, agradeço à Deus por ter tantas pessoas especiais na minha vida. Quem diria, não é?

Chego à empresa radiante. As pessoas estranharam um pouco, sabiam a atual situação do meu irmão, mas não sabiam a fé que eu passei a ter.

Vestia uma saia lápis vermelha, uma blusa de seda branca e saltos pretos. Estava bem maquiada, cabelos soltos e minha bolsa Chanel. Sentia os olhares masculinos sob mim, alguns me dão repulsa. Alguns homens são machistas, me vêem como um troféu que ninguém conseguia conquistar. Isso porque sempre usei o meu charme de mulher de negócios para conseguir o que queria, mas nunca me envolvendo com ninguém. Eles são tão bobos, caem fácil na lábia de uma mulher bonita.

- Bom dia, Cléo!

Minha secretária digitava rápido em seu computador, quando ouviu minha voz levantou a cabeça e me deu um grande sorriso.

- Bom dia, Mel. Que bom que apareceu. Está linda!

- Obrigada. Está muito ocupada? Preciso que me atualize sobre tudo que aconteceu esses dias.

- Claro.

Caminhamos até minha sala e Cléo diz tudo o que aconteceu. Nada demais, como eu presumia. Todas as reuniões foram adiadas para essa semana já que não eram de urgência, então eu ficaria bem ocupada por um bom tempo.

Ela me deixa sozinha e começo a trabalhar arduamente. Eu amo meu trabalho mas às vezes ler tantos papéis, participar de tantas reuniões e receber cantadas de homens nojentos me cansava. Tudo tem seu lado ruim, afinal.

Peço meu almoço e como enquanto leio o relatório mensal dos meus hotéis. São, sem dúvida, onde mais lucro. A linha de cosméticos têm um bom lucro, mas nada como os hotéis.

Acabo de almoçar e mando um email para o advogado da empresa, perguntando como está o contrato de Eduarda. Fui bem clara que deveria passar por mim antes e vejo uma grande demora.

Meu telefone toca na mesa.

- Sim?

- Mel, tem uma moça chamada Cecília aqui querendo falar com você. É do Instituto Nacional do Câncer Infantil.

- Nossa, me esqueci completamente. Mande-a entrar.

Percebi que a doença de Enzo era mais comum do que eu imaginava. Rodrigo conversou comigo e disse que muitas crianças recebem o diagnóstico de leucemia ou qualquer outro tipo de câncer. Muitas delas não sobrevivem pela situação precária da saúde pública no Brasil. Eu não poderia observar e não fazer nada. Quero ajudar essas crianças.

- Bom dia, senhorita Melanie.- Cecília entra na sala. Uma senhora de uns 50 anos de idade, altura mediana, cabelos grisalhos e olhos azuis.

- Bom dia, Cecília. Me chame apenas de Mel. Pode sentar.

Aponto para a cadeira a minha frente.

- Então, Cecília.- Começo.- Um amigo meu que é pediatra, Rodrigo...

- Sim, o Rodrigo.- Me interrompe com um enorme sorriso no rosto.- Um anjo.- Sorri junto com ela.

- Ele me contou sobre o instituto, disse estar sempre lá ajudando as crianças, já que o recurso pra médico é bem precário.

- Sim. O instituto não é totalmente público. Meu pai era médico e abriu uma clínica especializada no câncer infantil, fazia consultas e tratamento com enormes descontos ou totalmente grátis. O governo nos ajudava com uma quantia mensal de dinheiro mas há 2 anos a verba parou de chegar. Com todas as minhas economias e minha herança que meus pais deixaram eu continuei mantendo o instituto como pude. É muito difícil ver tantas crianças com câncer e sem dinheiro para fazer o tratamento adequado, isso parte meu coração. Principalmente porque perdi meu filho mais velho para essa doença demoníaca.- Ela seca o canto dos olhos.- É bem difícil, Mel. Não temos mais a estrutura de antes e nem metade do necessário.

- Eu entendo, Cecília. Por isso estou disposta a ajudar. Meu irmão está nessa luta e eu me informei mais sobre essa doença. Eu quero que todas essas crianças sobrevivam e vou fazer o que puder para isso acontecer. Levarei pessoas para visitar o instituto e fazer um orçamento para reforma, equipamentos e tudo que for necessário.

Cecília estava visualmente emocionada. As lágrimas caíam em seu rosto e eu segurava as minhas.

- Deus a abençoe, menina. Isso é uma atitude muito nobre.- Ela se levanta e me dá um abraço.- Vá nos visitar também. Você vai gostar de conhecer aquelas crianças. São doces e tão ingênuas.

- É claro que irei. Com toda a certeza. Me passe o endereço de lá, telefone, essas coisas para mantermos contato.

Ela anota o endereço e telefone em um papel e depois de alguns segundos fico sozinha novamente. Já pedi para Cléo procurar um engenheiro civil e um design de interiores. Pretendo ir lá ainda essa semana.

Inicialmente todo o dinheiro que será gasto sairá do meu próprio bolso. Preciso fazer uma reunião com os acionistas da empresa antes de gastar qualquer dinheiro. Mas eu logo conseguiria alguns investidores, tenho certeza que não vai demorar para isso acontecer.


Queria ter postado antes mas não consegui. Estamos chegando na reta final. Próximo capítulo com surpresa! Não esqueçam as ESTRELAS!

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