Capítulo 1

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- Tudo bem, tia Marise. - Sophie suspirou. - Eu prometo. Escreverei para você todos os dias. Só não posso ter certeza de quando e se as cartas chegarão até aqui.

Marise exalou, visivelmente aliviada.

- Não importa! O importante é que não deixe de escrever. Quero saber exatamente tudo o que acontece com você, querida. - Ela sorriu, afastando a franja que lhe caíra sobre o olho.

Marise aporrinhara tanto o juízo da pobre sobrinha até conseguir convencê-la a se inscrever na seleção. Sophie relutara, se opondo veemente contra aquele pedido descabido da tia. No entanto, Marise não parecia inclinada a desistir tão facilmente.

- Pense na sua família. - Dissera ela. - Nas péssimas condições financeiras a qual estamos submetidos. Você fará tanto por nós, minha menina! Nossa vida mudará completamente!

E diante daqueles argumentos, uma Sophie indignada acabara cedendo, vencida pela cansaço.

Quando o sorteio finalmente acontecera, trinta e cinco meninas foram selecionadas. Sophie estava entre elas. Inicialmente, a menina não soubera como reagir e nem o que pensar, não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Ela se enfiaria no meio de um monte de meninas, algumas de sua idade, outras mais novas ou mais velhas que ela. Castas, estilos e personalidades diferentes. Todas empenhadas em conquistar um lugar na família real. E ela não sabia como ou se adaptaria-se a elas.

Um dia depois do sorteio, Sophie recebeu a visita de algumas pessoas. Suas medidas foram tiradas, algumas informações essênciais lhe foram passadas, até que estivesse rasoavelmente pronta para a chegada no castelo.

- Também quero receber cartas suas. De todos vocês. - Falou Sophie, se dirigindo aos pais. - Vou sentir saudade.

Uma torrente de lágrimas inundou o ambiente. Braços envolveram Sophie em um aperto firme. Ela não sabia como aguentaria ficar tanto tempo longe de seu pai, o homem a quem mais amava e admirava no mundo. Ou de sua mãe, a pessoa mais gentil e carinhosa na qual já havia posto os olhos. Ou de Paggie, a menininha de quatro anos que passara a vida ajudando a cuidar. Até sua tia maluca lhe faria falta.

Quando a imperiosa limousine, de um azul profundo, parou na beira da calçada, Sophie congelou, suas pernas virando mingau. Ela olhou para o pequeno rosto de Paggie, coberto de lágrimas incessantes, e desejou envolvê-la em seu abraço e não soltá-la nunca mais. Seu pai parecia indiferente, embora ela soubesse que, em seu interior, ele estava destroçado. Não devia ser fácil ver sua única filha partir sem tempo definido de volta.

Sophie respirou fundo, tomando o controle de seu corpo e deu dois passos para fora de casa. Lá fora, pessoas gritavam seu nome, desejando-lhe boa sorte. Cartazes e mais cartazes subiam e desciam em seu campo de visão, como alguém pulando e pulando, em uma enorme cama elástica. A suposta fama não agradou muito a Sophie, ela não gostava de aparecer. Sempre fora discreta e preferia o anonimato. Ali, no meio daquela multidão insandecida, ela se sentia completamente exposta.

- Acene, querida. Não seja mal educada. - Marise sussurrou ao se aproximar da menina.

Sophie abriu um sorriso tímido e levantou o braço. Fez um leve movimento com a mão e voltou a repousá-la na lateral de seu corpo. Aquilo era bizarro, a sensação de saber que uma quantidade exorbitante de pessoas te conheciam e sabiam o seu nome. Ela deu mais dois passos, sendo acolhida por braços musculosos que a conduziram para dentro da limousine.

Ali era confortável, ela decidiu. Escuro, úmido, onde ninguém a veria. Dentro do luxuoso carro, além da enorme tevê de tela plana, haviam duas garrafas de champanhe afogadas no gelo. Assim como balas de ortelã, jujubas coloridas e chocolates de todos os tipos. Também haviam morangos, ao lado deles um minúsculo recipiente de cristal cheinho de chantilly. Ela se inclinou um pouco, grudando seu rosto na janela da limousine, e a última coisa que viu fora a mãozinha de Paggie se agitando determinadamente pelo ar, como se pedisse "não vá embora".

A Seleção - O Chamado Para a RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora