Capítulo 19

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Planejar um bazar beneficente não seria muito difícil, considerando a quantidade de eventos e festas que Clary já havia organizado sozinha. O problema era trabalhar em conjunto com um bando de garotas deslumbradas que não conseguiam chegar alinhadas em um vestíbulo sem tornar isso um grande acontecimento.

Não, mentira. O problema era simplesmente trabalhar com elas. Clary não as suportava, elas representavam coisas que ela não gostava de pensar. Mas teria de fazer isso, se esforçar junto com elas para fazer a vontade de seu pai. Ela trabalharia duro para reconstituir sua imagem diante do povo. Pegar algo exposto e feio, e jogar uma camada de boas intenções em cima para parecer bonito e intocado. Clary era craque nessas coisas.

- Vamos começar com o alongamento, alteza. - Srta. Walters instruiu, adentrando o estúdio de balé com uma bolsa grande pendurada no ombro.

Até então, Clary estava sentada no chão de frente para os espelhos, brincando distraidamente com os laços de suas sapatilhas. Quando ouviu a voz da professora de balé, Clary pulou para seus pés, iniciando posteriormente uma série de alongamentos como Srta. Walters determinou.

Clary sentou-se no chão com as pernas esticadas e estirou os braços para alcançar os dedos dos pés. Ela ficou assim por uns 20 segundos, repetindo o mesmo exercício duas vezes antes de cruzar as pernas e colocar os pés por cima das coxas.

Srta. Walters estava em um canto do estúdio, alongando-se na barra enquanto Clary empurrava o calcanhar levemente com a mão. Clary normalmente gostava de silêncio, era bom ficar sozinha com seus pensamentos e essas coisas. Mas hoje ela queria conversar, se distrair um pouco enquanto se alongava.

- Como está sua filha, Julie? - Clary perguntou conforme agachava e colocava as mãos no chão. - Imagino que a tenha colocado na creche devido ao aumento de trabalho que você teve com a entrada das selecionadas no palácio. - Ela ergueu- se lentamente sem tirar as mãos do chão e empurrou seus limites ao máximo até onde conseguia ir.

- Na verdade não, alteza. Minha irmã separou do marido e se mudou para minha casa com a minha sobrinha. Ela fica com a Lea quando venho trabalhar. É uma forma de contribuir com alguma coisa. - A voz da Srta. Walters saiu fina e regular. Seus olhos escuros sempre brilhavam quando ela tocava no nome da filha.

- Lea gosta de ficar com a tia? - Clary deixou o exercício anterior de lado e se apressou para a barra. Ela ergueu a perna direita e repousou o pé na barra, fazendo uma ponta. Então Levantou a mão direita e inclinou- se sobre a perna direita. Começou a contar mentalmente 30 segundos, antes de precisar fazer o mesmo com a outra perna.

- Acho que sim. - Srta. Walters franziu o cenho, provavelmente estranhando a insistência de Clary em puxar assunto. - Mas ela sente a minha falta. Crianças pequenas precisam que os pais estejam por perto o tempo todo.

Clary abaixou a cabeça, remoendo as palavras de Julie. Elas enviaram uma pontadinha dolorosa direto para o seu coração. Quando criança, era muito raro ter os pais por perto. Clary sentiu tanta falta disso que mal podia colocar em palavras.

- Ela se acostuma. Eu me acostumei. - A voz de Clary saiu mais amarga do que ela pretendia.

Quando terminou o alongamento, Clary respirou fundo e se direcionou para o fundo da sala, parando perto de um aparelho de som. Ela colocou uma música suave, que reverberou através das paredes, e se posicionou para começar a dançar.

- Lago dos Cisnes - srta. Walters sorriu satisfeita - boa escolha, alteza.

As pernas de Clary se flexionaram, formando um diamante lapidado. Ela dobrou os joelhos e agachou de modo que eles formassem um ângulo de 90º perfeito com suas coxas e sua canela. Seu peso foi apoiado na parte inferior dos dedos do pé, mantendo os calcanhares fora do chão e flexionando as panturrilhas enquanto se abaixava.

A Seleção - O Chamado Para a RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora