Capítulo 4

987 61 13
                                    

O dia estava seco e ensolarado, perfeito para a prática de atividades ao ar livre. Miguel tinha acabado de intrevistar cinco selecionadas, sentia seus músculos e ombros tensionados, e precisava relaxar.

O príncipe subiu até o quarto, calçou tênis, e substituiu o desconfortável terno que estava usando por jeans escuros e camisa pólo azul-marinho. Arrumou o cabelo rapidamente em frente ao espelho de corpo que servia como porta para um armário imbutido onde ele guardava armas, então abriu o mesmo sem dificuldade aparente, e tirou de um compartimento pequeno seu arco e aljava de couro marrom, repleto de flechas.

Miguel caminhou para fora do quarto, batendo a porta atrás de si, e seguiu pelo longo corredor até as escadas que davam para o hall de entrada do castelo. Ele gostava de mirar o velho carvalho no jardim, que estava naquelas terras já há muitas décadas. O rapaz colocou a aljava sobre o ombro, sustentando o peso das fechas em suas costas largas, e começou a se preparar.

Quando tinha nove anos, o pai dissera a Miguel e ao seu irmão, que eles deveriam escolher algum tipo de esporte para praticar, algo que eles realmente gostassem, que lhes dessem a sensação de plenitude e liberdade. Inicialmente, Miguel tentou o kenjutsu, pois era a arte macial favorita do rei. Porém, o menino não demorou a perceber que, apesar de habilidoso e preciso em seus movimentos, manipular espadas não o faria feliz.

Miguel desistiu do Kenjutsu, e demorou alguns meses para experimentar um novo esporte. Depois do que pareceu ser um tempo muito longo, o hipismo lhe pareceu uma boa alternativa. Ele era um bom cavaleiro, com saltos tão experientes quanto os de um veterano. Ficou insistindo naquilo por algumas semanas, mas ainda não conseguia sentir a euforia que procurava sentado sobre uma sela.

Depois daquilo, tentou outros esportes, mas foi apenas em seu aniversário de quartoze anos, quando estava no meio de uma aula particular de francês, que Caleb lhe presenteou com seu primeiro arco e flechas. Era um arco tradicional, com camadas de madeira, curvatura nas lâminas, e formato peculiar. Miguel não conseguiu conter a empolgação, correu até o pai, arrancou o estojo de suas mãos, e disparou com ele para fora, ansioso em começar a atirar flechas nos troncos das árvores.

No final do dia, ele acabara entortando e cegando as lâminas no arco, perdendo muitas flechas do kit que seu pai havia lhe dado, e ganhado vários ematomas pelo corpo. Entretanto, foram necessárias apenas algumas semanas de treinamento para Miguel se transformar em um arqueiro de primeira.

E lá estava ele: pés alinhados com o ombro, braço esquerdo empunhando o arco, juntas flexionadas condicionalmente, olhar de pura concentração. Ele levou a mão à aljava e capturou uma flecha, posicionando o braço entre os olhos e os lábios, para então puxar a corda e soltá-la em direção ao carvalho.

A flecha saiu cortando o vento, furiosa e indomável. Completamente Livre. Miguel absorvia aquela liberdade, a tomava para si, sentindo-se livre também. Após a primeira flecha, várias outras voaram sucessivamente, continuamente, e eram somente detidas pela grossa madeira da àrvore.

— Se divertindo? — Falou uma suave voz femina nas costas de Miguel.

O principe soltou a flecha antes da hora prevista, deixando-a ultrapassar sua linha imaginária, fugir de seu campo de visão, e ziguezaguear sem direção por todos os lados.

— Abaixa! — Gritou Miguel, lançando-se sobre a alta menina que olhava para ele com incredulidade.

Os dois cairam com um baque na grama macia, seus corpos estreitos sendo esmagados pelo chão e pelo peso um do outro. Miguel sentiu um cotovelo mergulhar em seu abdômen, e grunhiu de dor, rolando para o lado, e levando a mão ao local onde fora atingindo.

— Ai, caralho! — Ele pressionava o abdômen freneticamente, o ar sendo sugado para fora de seus pulmões.

— Me desculpe, alteza. Eu... Eu não... Não queria... — Mãos trêmulas surgiram e apalparam Miguel por toda a extenção de sua barriga. — Você está bem? Onde machucou?

A Seleção - O Chamado Para a RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora