Prólogo

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O cheiro nauseante de tabaco permeava o ar como algo venenoso. Caleb odiava qualquer tipo de droga, legalizada ou não. Mas seu irmão parecia apreciar um velho charuto cubano depois de uma refeição. Ele se olhava no espelho, provando na cabeça uma coroa feita de papelão e clipes de papel. Parecia altivo, confiante. Quem olhasse para ele nunca veria o assassino covarde e tumultuador que realmente era.

- Nasci para ser rei. - Disse Cassius, abrindo um sorriso largo para o seu próprio reflexo. - Você não concorda, querido irmão?

Caleb assentiu com a cabeça, lidando com o inimigo de maneira amistosa. Uma das lições valiosas que havia recebido de seu falecido pai.

- Ainda não entendi o motivo de sua visita. - Cassius ajeitou seu paletó impecavelmente e caminhou para perto de Caleb, sentando-se de frente para ele. - Não acha que é um risco grande demais invadir um território onde você não é bem vindo?

Caleb enrugou seu cenho, repousando seus cotovelos sobre os braços da cadeira. Dois de seus homens de confiança se encontravam de pé, atrás dele. Cuidando para que a conversa com seu irmão fosse civilizada e pacífica.

O lugar ao redor era fétido e muito úmido. Um pequeno galpão de madeira apodrecida localizado nos extremos de Acqua, à norte de Bevelly. Haviam poucos suprimentos, apenas para uma noite. O grupinho de Cassius não costumava parar em um só lugar por muito tempo.

- Me ofereceu sua cordialidade e um almoço espetacular. - Rebateu Caleb, tentando soar solicito. Estava usando sua melhor máscara inexpressiva. - Achei que era bem vindo. Me enganei completamente?

- De maneira alguma. Só estou curioso.

- Os anos entre aquelas paredes não lhe fizeram nada bem. Você tem conhecimento de meu grande coração, sabe principalmente de minha capacidade inapta de guardar rancor, especialmente de minha família. É meu irmão. Devo perdoá-lo.

Cassius cruzou uma perna sobre a outra e jogou a cabeça para trás em uma gargalhada de puro deboche.

- Aprecio seu bom humor. - Disse ele, apontando seu dedo de unhas impecáveis na direção de Caleb. Sua aparência impecável permanecia intacta depois de tantos anos na prisão, e mesmo com tão poucos recusos desde que havia saído de lá. - Esperou a minha fuga para me perdoar? Tempo demais, não acha? - Ele parou de gargalhar, mas permaneceu com um sorriso irônico em seus lábios. - Diga-me, qual foi minha tão grave ofensa?

- Assassinato. Você a matou.

- Só estava tentando defender os meus direitos! - Cassius gritou, então baixou a voz. Ele estava tentando se mostrar controlado. - Nápoles deveria ter sido minha. Fui treinado para governar.

- E agora, Nápoles não será de ninguém. - Disse Caleb. - Não está instigando todas essas pessoas que te seguem a lutar por uma ideia de democracia? Prometeu liberdade, um presidente. E não um rei, como você quer.

- Pessoas são manipuláveis. Estou apenas esperando o momento certo.

- Pertubando a paz não conseguirá nada, Cassius. Desista disso. Volte para o seu lugar como Duque de Bevelly. Serei benevolente.

Cassius jogou a cabeça para trás em uma longa risada de escárnio.

- Você perdeu o juízo.

Caleb não esperava receber uma resposta positiva à sua oferta de paz, mas levando em consideração todas as vidas perdidas, tentar não era condenável.

- Não, você perdeu o juízo. Não sabe como tudo isso acaba?

- Você morto e eu no poder.

- Ninguém o apoiará. iniciará um reinado de ódio.

- E fazer o quê? Deixar o seu fedelho governar depois de você? - Cassius negou com a cabeça. - Luke não é adequado. Ele é só um moleque romantico e idiota.

- Luke é um homem. - Corrigiu Caleb. - E foi preparado a vida toda para o trono, assim como nós dois.

- Isso é uma grande piada. Você tornou a monarquia uma grande piada.

- Fala da Seleção?

- Apenas parcialmente. Observei a Clarissa nos últimos meses. Como a deixou se tornar naquele monstro consumista?

- Minha filha não é assunto seu.

- É claro que é. Você me tirou tudo, extamente tudo o que eu queria. Lembra-se de nossa Seleção?

- Claramente.

- Você sabia sobre o meu interesse por Bella. Fizemos um combinado.

Por um momento, a mente de Caleb revisitou a época em que havia conhecido sua adorável esposa e apaixonado-se por ela.

- Eu mantive minha palavra.

- Você me traiu! - Cassius berrou, inclinando-se para frente. Os guardas atrás de Caleb avançaram, mas ele os parou apenas levantando a mão. - Covardemente. Pegou a garota e a levou para o seu lado no trono que deveria ter sido meu.

- Inveja?

- Ira!

- Pode reclamar o quanto quiser, Cassius. O passado não volta. Ser rei signifca ignorar suas próprias vontades. Você não sabe o que é isso. Você não sabe o que é ser um rei.

- Você está enganado.

- Vá em frente. Ataque, destrua. Bagunce o quanto quiser. No final das contas, eu sou o rei. Continuo tomando as decisões importantes enquanto você brinca com a vida das pessoas. - Havia raiva e frustação em sua voz. Ele realmente esperava um final diferente. - Vamos embora, pessoal. Isso tudo foi um erro.

Caleb levantou-se de sua posição sentada e cruzou o ambiente tóxico até a porta. Olhou o irmão uma última vez, imaginando o inevitável confronto futuro entre os dois. Lamentava o resultado daquela conversa, lamentava que as coisas tivessem que ser assim. Mas se guerra era o que o irmão tanto desejava, então guerra era exatamente o que ele iria ter.

A Seleção - O Chamado Para a RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora