Capítulo 20

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Devido a uma pequena discussão com Clary, Jonathan passou as últimas 24 horas sem trocar qualquer palavra com ela. Clary não pareceu se esforçar para mudar as coisas e não demonstrou se importar com as circunstâncias da situação. Jonathan sabia que aquilo era o orgulho agindo sobre ela, por isso também não se incomodou e deixou que a áurea depreciativa de tensão continuasse a pairar entre os dois.

- Você está horrível. Não dormiu bem ontem à noite, querido? - Agnes questinou, na mesa do café. As beiradas de seus belos olhos amendoados estavam levemente enrugadas conforme ela olhava de volta para Jonathan com sua xícara de café pairando no ar.

Jonathan se remexeu desconfortavelmente em seu assento. Achara que se mudar para o quarto de Clary seria uma coisa fácil, totalmente o contrário do que realmente fora. Enquanto tateava, perdido, pelo enorme closet da amiga, ela estava deitada em sua larga cama com dossel, trocando mensagens de voz com um amiguinho pelo telefone.

Isso irritou Jonathan profundamente. Ele realmente estava se esforçando mais uma vez para garantir a felicidade de Clary, e lá estava ela, como uma bela garotinha mimada, fazendo pouco caso do fato de ele estar abrindo mão de sua privacidade ao invés de colocar suas necessidades na frente das dela.

Em um rompante de raiva, Jonathan atirou as maquiagens de Clary pelo ar, produzindo um alto barulho ao tocarem o chão. Clary levantou a cabeça, assustada e confusa, provavelmente sobre o que tinha provocado aquele som.

Quando se deu conta do que Jonathan tinha feito, ela correu para perto dos destroços de suas maquiagens, pedaços coloridos de produtos importados que flutuavam vertiginosamente e se apregavam ao solo como terra. Ela gritou e choramingou, xingando e gritando com Jonathan sobre o quão caro aquilo tinha custado à ela.

O estômago de Jonathan se embrulhou. Ele desejou muito socar alguma coisa ou gritar de volta com Clary sobre o quanto sua infantilidade às vezes o exasperava. Mas aquilo provavelmente implicaria em choro e pedaços de porta-retratos voando por cima de sua cabeça, e a última coisa que ele queria naquele momento era mais uma cena.

Então ele saiu porta fora, deixando Clary falando sozinha pela primeira vez em muito, muito tempo. Estava atordoado demais para pensar sobre isso ou qualquer outra coisa. Sua cabeça latejava, quente como uma fogueira, pesada como uma âncora jogada no fundo de um oceano.

Seu quarto foi uma boa escolha para onde ir. Suas coisas tinham ficado em malas em um canto do closet de Clary, por isso ele não tinha muito o que vestir. Tirou suas roupas e tomou um banho gelado, tentando expurgar da mente a má vontade da suposta melhor amiga.

- Dormi perfeitamente bem, mãe. São só minhas notas do curso de fotografia que não andam lá essas coisas. - Jonathan não estava exatamente confortável em mentir para sua mãe, mas falar o que realmente havia acontecido renderia conversa e questionamento sobre o assunto. E isso não era uma coisa que ele queria agora.

Stevan, que até então estivera lendo um jornal, levantou seus divertidos olhos verdes para o filho e arqueou suas sobrancelhas. Jonathan devia ter previsto que seu pai não engoliria essa. Suas notas nunca eram nada menos do que excelentes.

- Isso é conversa, filho. Você é ótimo. - Stevan desconfiou, seus olhos especulativos. - O que realmente aconteceu?

- Nada.

- Tenta de novo.

Jonathan guinchou um suspiro desgostoso, sentindo-se cansado. Ele pousou sua xícara de café com leite sobre o descanso de copos, e fixou seu olhar em coisas aleatórias, como a travessa cheinha de pães de queijo entre a jarra de leite e o bolo de coco no centro da mesa, aos quais sua mãe tinha dedicado uma atenção especial naquela manhã, ou a estátua de mármore frio no fundo do salão, que tinha seus gélidos olhos petrificados voltados para ele.

A Seleção - O Chamado Para a RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora