A Seleção - O Chamado Para a Realeza

Capítulo 30

Corridas de bike e piqueniques no lago eram coisas que costumavam animar Clary excessivamente, contanto que as fizesse com Jonathan. Quando acordou em uma manhã ensolarada, essas foram as primeiras coisas a invadirem sua mente. Teria o desfile real pelas belas ruas de Caligare em um pomposo carro alegórico em algum momento da manhã, mas agora todos os seus pensamentos estavam direcionados ao seu esporte favorito de infância: passear com Jonathan ao ar livre.

Encontrou com o amigo no lado oeste do jardim, na área sombreada, onde begônias de variadas cores e espécies cresciam livres em pequenos canteiros arranjados por sua mãe. Assim como Bella, Clary gostava de tirar um tempo para cuidar pessoalmente de algumas plantinhas. Fazia um estudo minucioso sobre determinadas espécies das quais gostava muito. Apesar de suas flores favoritas privarem exclusivamente tulipas silvestres, seus estudos abrangiam dentre muitas outras.

Havia lido sobre as begônias: plantas de folhagem característica e flores sedutoras. As espécies para vasos eram muito delicadas, e não toleravam ventos tempestuosos. Para canteiros, preferiam o clima ameno e não toleravam as chuvas de verão. Certas espécies possuíam tubérculos subterrâneos que as conservavam vivas por muitos anos e eram famosas por sua durabilidade. Já outras, sem tubérculos, também podiam durar por um longo período de tempo, chegando a ultrapassar até mesmo décadas. Tinham muitos significados, e costumavam representar amor, lealdade e inocência. Talvez fosse esse o motivo de sua mãe para ter tanto cuidado e carinho por elas.

Jonathan usava bermuda jeans e regata roxa. Seu cabelo louro-escuro estava escondido embaixo de um boné de basquete azul. Ele sorriu ao ver Clary, seu pé se posicionando no pedal da bicicleta preta de aro 29 que ele havia se aventurado, no verão passado, a montar sozinho com a ajuda do pai. Clary achou bobagem na época, o amigo poderia comprar qualquer bike que quisesse, mas preferiu comprar as peças e montar sozinho. Um tempo depois ela soube porquê. Haviam coisas que o aproximavam do pai: câmeras, carros e bicicletas. Stevan era apaixonado por tudo isso, e era normal que Jonathan se aproveitasse desse fato e encontrasse algo para passar mais tempo com ele.

- Pensei em uma corrida até o lago. - Disse o amigo, girando o boné de basquete, de modo que a aba ficasse voltada para parte de trás da cabeça.

Sem a aba cobrindo o rosto dele, Clary conseguiu capturar a pequena sombra de barba por fazer sobre o queixo, o cabelo se derramando para as laterais da face estreita, a linda luminosidade dos olhos verdes sob a luz do sol. Um calor gostoso aqueceu a pele dela. Jonathan passaria perfeitamente por um galã de cinema ou um superastro do rock. Tinha deixado de ser o menino magricelo de sua infância, e passara a ser um homem lindo a quem ela admirava.

- Você sabe que eu vou ganhar. - Desafiou Clary, tentando manter seus lábios impassiveis.

Jonathan riu, franzindo seus olhos nos cantos. Era fofo e charmoso ao mesmo tempo.

- Sempre convencida.

Eles desceram montados em suas bikes uma estreita rampa de cimento e pedalaram através de uma cama vertiginosa de árvores labirínticas rumo ao lago de peixes ágeis, esguios e coloridos que eram capturados por seu pai e irmãos em muitas de suas pescas esportivas para fins recreativos. Pelo caminho, cumprimentaram soldados que estavam trocando de guarda acenando alegremente com suas mãos, e em algum momento do percurso, tentaram soltar suas mãos, uma de cada vez, como faziam quando crianças.

Aquilo havia resultado em tombos feios em um passado longínquo. Jonathan nunca chegou a cair, era ágil como uma raposa, mas parecia estar no destino de Clary se arrebentar sempre que tentava. Revirando os olhos para a lembrança feliz e simultaneamente desagradável, ela soltou apenas uma das mãos do punho de borracha e agarrou a mão esticada de Jonathan. Sentia-se tão leve, tão livre, rindo o tempo todo como uma criança em uma apresentação de palhaços.