Capítulo 35

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Miguel circulou pelo salão de baile, habitualmente reservado apenas para eventos importantes. Ali com certeza devia haver o triplo de pessoas das quais o pai dele havia deixado clary convidar. Mas diferente de como acontecera na Festa das Cores, o palácio não havia sido aberto ao público dessa vez. Apenas amigos e amigos de amigos de seus pais, alguns colegas de Clary e grupos aleatórios de pessoas influentes em todo o país, às quais a irmã provavelmente nunca havia sido apresentada antes, estavam presentes na festa.

Um quarteto de cordas produzia música clássica por todo o ambiente, fazendo com que os convidados mais jovens tombassem a cabeça na menção de dormir, e era muito provável que nisso tivesse o dedinho culto e elegante de Bella. A mãe tinha monitorado tudo de perto, cada mínino detalhe para que Clary não acabasse se excedendo nos preparativos. Mas a irmã de Miguel sabia como driblar melhor do que ninguém, e ele tinha absoluta certeza de que quando ela colocasse seus lindos pezinhos sobre o centro do salão, uma música mais animada e cheia de batidas emocionantes explodiria dos altos falantes.

Tirando o foco de seus pensamentos da música e de Clary, Miguel passou os olhos ao redor entre o público, procurando por Lucy. Eles haviam combinado de se encontrar apenas no salão, pois Lucy demoraria um tempão para ficar pronta. Um garçom passou por ele, oferecendo uma bebida. Ele aceitou, agradecido, e sentiu alívio ao sorver um gole grande.

Algumas pessoas vieram cumprimentá-lo, fotógrafos dispararam flashes, cegando-o repentinamente. Esses eventos eram o inferno. Miguel adorava festas, mas quando podia se mover sem que algum idiota o pegasse em uma posição desfavorável e isso acabasse indo parar na primeira página de alguma revista de fofoca. Essas sempre vendiam mais. Essas e aquelas que envolviam relações amorosas.

Ele pensou em Sophie. Seu beijo com ela provavelmente renderia um bom dinheiro para quem tivesse pegado uma foto do momento. O lago em que tinha acontecido ficava dentro dos domínios do palácio, então era pouco provável que algum paparazzi metido conseguisse invadir. Ainda sim, um frio desagradável e nebuloso subiu vertiginosamente ao longo de sua espinha, provocando calafrios.

Quando Luke voltasse, Miguel teria uma conversa séria com ele. Botaria as cartas na mesa, contaria a verdade. Não apenas a verdade do que havia acontecido, mas também a verdade sobre o que estava sentindo. Emoções confusas, sem nome, fatais. Como uma doença que vai te matando aos poucos, e você nunca consegue descobrir o que realmente é. Tudo o que ele conseguia extrair de seu subconsciente era que, o que quer estivesse sentindo, precisava parar. Pelo bem de todos.

Com essa conclusão em sua cabeça, ele levantou os olhos e deu com a noiva de seu irmão entrando pela porta do salão de baile. Ela usava um vestido dourado e comprido, possuía pouquíssimos detalhes ao longo da barra: pedrinhas pequenas semelhantes a cristais. Um decote exuberante revelava uma linha pálida e imaculada de pele no centro de seu busto, parte de seus seios pequenos formando um arco singular, sexy como o inferno. Seus cabelos coroavam de cachos escuros uma simples e modesta tiara, daquelas que as garotas costumam usar nos bailes de debutantes e nas formaturas escolares. Seus olhos castanhos estavam encobertos pela máscara dada por Miguel, que ele havia mandado seu mordomo trazer de uma lojinha francesa no centro de Bevelly. Havia ficado perfeita em Sophie, ela estava deslumbrante.

Miguel ficou embasbacado, sem conseguir desviar o olhar. Observou Sophie deslizar pelo chão de mármore quadriculado, o queixo levemente erguido em concentração, provavelmente na tentativa de não demonstrar seu medo de cair no meio das pessoas. Com os olhos encobertos não era possível ver em que direção ela estava olhando, mas de modo que sua cabeça tombou significativamente para o lado e seus pés ficaram presos ao chão por volta de dois ou três segundos, Miguel constatou que ela devia estar olhando para tudo, menos para ele.

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