Capítulo 38

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A questão do banho ao deixar o cemitério envolvia toda uma espiritualidade segundo Marise. Para Sophie, tratava-se apenas de higiene e assepsia. Cemitérios, vírus e bactérias andavam do mesmo lado da calçada, e não era nada bom deixar isso no corpo e acabar pagando uma doença. Por esse motivo, Sophie tomou um banho demorado, com sais e óleos deliciosos com cheirinho de morango.

Ao sair do banho, ela colocou uma saia evasê e uma blusa jeans de mangas compridas. O clima estava frio, dava a impressão de que mais tarde iria chover. Ela deixou Jane e Ambre limpando seu quarto e saiu à procura de Luke, disposta a contar tudo sobre Miguel e o beijo para ele. Teria sido bem sucedida em sua tentativa se, na metade do caminho, Miguel não tivesse interceptado-a. Sophie quase gritou com o susto, mas ele pôs a mão em sua boca e arrastou para dentro de um quarto no meio do corredor.

Ele tratou de fechar a porta e esperou que Sophie recuparesse o fôlego depois do susto. Ela o olhou com olhos recriminadores.

- A próxima vez que me assustar assim, esquecerei sua posição na hierarquia deste país e te enforcarei com minhas próprias mãos!

- Desculpa. - Miguel abriu um sorrisinho maroto. - Estava tentando não chamar a atenção dos soldados.

Sophie olhou ao redor. Estava em dos quartos de hóspedes vazios.

- Para que exatamente? - Perguntou ela, notando as poucas diferenças entre seu quarto e aquele. Talvez o papel de parede.

- Precisamos conversar, majestade. Já adiamos demais, não acha?

Sophie respirou profundamente, andando até a janela e afastou as cortinas no impulso de ver a vista lá fora.

- É, eu sei. - Concordou. - Olha, eu não quero ficar entre irmãos. Amo o Luke, verdadeiramente. E o que aconteceu entre nós foi um erro incorrigível e impensado.

- Concordo. O que vamos fazer?

- Eu estava indo dizer tudo a ele, contar a verdade. Mas eu... Eu não sei, Miguel. Ainda me pergunto se a omissão seria preferível.

- Temos que falar sobre isso. Honestamente.

- Não é o que estamos fazendo?

- Não. Você está tentando lidar com essa história como se o nosso beijo não tivesse significado nada. Isso não é verdade, nós dois sabemos disso.

Sophie tirou os olhos da janela, cuja vista dava para a piscina e encarou Miguel com incredulidade.

- Do que adianta discutir sobre o que não entendemos? É inútil.

O rosto de Miguel de repente se acendeu. Qual era o problema com ele? Não notava o tamanho da enrascada na qual os dois estavam metidos? Se notava, ignorava. Homens...

- Você está confusa sobre o que sente por mim? - Questionou ele. Seus olhos tinham um brilho diferente, quase esperançosos.

- Estou.

- Então sente alguma coisa.

Sophie enrugou a testa, cruzando os braços na frente do corpo.

- O que está tentando fazer?

- Eu não sei. - Miguel balançou a cabeça, suas mãos, que estavam caídas ao lado do corpo subiram para os seus cabelos e os ombros dele se encolherem em sua confusão. Ninguém podia negar que ele era bonito. Aquelas mãos de dedos esguios entre os cabelos curtos e negros... Não. Sophie nao podia pensar no irmão de seu noivo como uma figura meramente atraente. - Só não queria estar sozinho, me sentir menos errado. Eu disse a você, te contei sobre o pacto com o Luke. Aquilo me parou, me impediu de chegar até você.

A Seleção - O Chamado Para a RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora