Capítulo 21

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No dia seguinte, Clary pegou o dia todo de folga para o planejamento de seu bazar com as selecionadas. Ela fez umas ligações e conseguiu várias parcerias. As pessoas se interessavam por causas beneficientes, a maioria delas pelos motivos errados, como propaganda e favorecimento de imagem. Mas era ajuda, no final das contas, ela não podia dispensar. Sem falar que, de certa forma, suas intenções por trás de tudo aquilo eram as mesmas: ficar bem de novo com o povo e evitar o terrível castigo que esperava por ela, caso falhasse.

Com um sentimento de culpa sobre isso na cabeça, Clary marchou pelo corredor em direção ao salão das mulheres. As coisas ali sempre pareciam começar nos corredores e terminar em algum lugar onde alguma coisa esperava para ser feita. E não importava para onde ela ia ou o que estava indo fazer, alguém sempre aparecia e a fazia se atrasar para o que quer pretendia fazer antes.

Como se respondendo ao seu estranho raciocínio mental, Maya e Jordan se materializaram em sua frente. Jordan tinha uma cara horrível, de quem não dormiu muito bem na noite passada. Haviam grandes bolsões escuros abaixo de seus olhos, seus ombros estavam caídos para dentro, como se carregasse o peso do mundo, seus lábios, dos quais a cor tivera sido completavamente drenada, se entreabriam em um longo e preguiçoso bocejo à cada milissegundo que se passava.

A aparência de Maya também não era das melhores. Seus olhos estavam ocultos por um óculos de sol, mas seus cabelos estavam desgrenhados e ela segurava seus sapatos de salto alto em uma das mãos, enquanto a outra repuxava o cós da calça de Jordan conforme eles arrastavam seus pés pelo mármore frio com a determinação de uma tartaruga.

- Hey, Clary. - A voz de Jordan soou rouca e baixa. Ele parecia ter engolido mil cubos de gelo ou gritado acima de vários paredões.

Clary franziu o cenho.

- O que aconteceu com vocês?

- Balada. - A voz de Maya saiu tão instável quanto a de Jordan. - Saímos ontem à noite para uma rave. Melhor sexo da vida, o seu amigo aqui, Clary.

O queixo de Clary caiu um pouquinho, mas ela tentou disfarçar a expressão de choque substituindo-a por uma cara de Paisagem.

- Que bom que gostou. Espero que tenham usado camisinha, você sabe como seu pai é, Jordan.

- Nós usamos na primeira vez. Isso conta alguns pontos ao meu favor, não é?

- Não sei, deve contar. - Clary deu de ombros. Estava sem graça. - Onde foi essa rave? Não há muitas boates por aqui, há?

- É claro que há. Você saberia disso se saísse mais de casa. - Maya soou quase provocativa.

- Eu sairia mais de casa se você disponibilizasse dois segundo do seu tempo para me chamar. - Clary rebateu, girando seus olhos dentro das órbitas.

- Mas eu te sempre chamo! Você está sempre ocupada, ou com a aula de francês ou com o balé. Qualquer coisa parece mais divertido do que sair comigo para você. Tem medo que o seu papai fique zangadinho?

Clary sentiu vontade de soltar um comentário maldoso, motivada pelo leve tom sarcástico na voz da outra garota, mas aí ela respirou fundo e tentou empurrar o comentário garganta a baixo de volta para seu cume de exasperação.

- Você sabe que não é bem assim, Maya. Tenho responsabilidades. Eu adoraria poder sair com você de vez quando, mas você só me chama quando eu estou ocupada. Parece até que sabe os dias que não posso sair e me chama só porque sabe que não vou. Ontem eu poderia ter ido, mas você não me deu nem um tchauzinho antes de sair.

- Você estava com o Jonathan. Não quis atrapalhar vocês.

- Me poupe, se poupe, nos poupe. Você não queria que eu fosse, se quisesse teria chamado o Jonathan também. Parece que uma noite de sexo com o gostosão da irlanda é bem mais importante que uma noite de diversão com pessoas que gostam de você de verdade. - Jordan parecia alheio à conversa das duas, ali, parado de forma estática e cambaleante ao lado de Maya. As palavras de Jonathan vieram à cabeça de Clary, fazendo-a recordar algo sobre Maya ter dito que ela não se importava com ele. - E depois sou eu que não me importo com os meus amigos.

A Seleção - O Chamado Para a RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora