Alex:
O Matt me emprestou uma camisa e deixou que eu escolhesse a cama na qual quero dormir. Mas não consigo.
Ele disse que poderia dormir no sofá, se eu preferisse, mas eu não conseguiria ficar sozinha aqui, também.
Levanto e tento andar na escuridão total que está o quarto, mas paro dois passos depois.
- Quer que eu acenda a luz?
Minha voz quase não saiu, mas consegui responder que sim. Ele liga o abajur. A luz reflete em Matt, que está sem camisa e me olha com preocupação. Ele tem algumas pintinhas na clavícula e espalhadas pelo peito. Quero tocar cada uma delas, mas tenho tanto medo. Não posso. Não consigo. Quero. Não quero.
Eu devo parecer uma idiota. Minha respiração começa a mudar e eu fico tonta e congelo. Foco. Foco. Foco. Essas pintinhas estão me deixando maluca. FOCO, ALEXIA! Não posso. Não consigo. Eu vou lembrar. Já estou lembrando. Preciso esquecer. Não posso. Mas agora eu quero... Imagine tocar todas essas pintinhas e beijá-las e... Você não quer. É uma armadilha.
- Pesadelo?
O Matt não faz ideia de como eu queria que a resposta fosse sim.
Ele passou as últimas horas me ouvindo chorar e contar histórias da minha vida...
- Não. – então me pergunto se foi a melhor resposta. Limpo a garganta – Eu não consigo dormir.
E tentou me fazer sentir melhor o tempo inteiro...
Ele se oferece para buscar água ou qualquer outra coisa que eu precisasse, e estranha quando respondo que não precisa. Mais uma resposta errada para a coleção.
E ficou em silêncio quando eu quis silêncio, mesmo quando eu não falei isso...
- Hm... Ok.
E ele esfrega os olhos e parece um zumbi porque estava morrendo de sono e continuou acordado por minha causa.
- Você levantou por algum motivo especial ou...?
Engulo em seco.
Por que eu levantei? Ah, eu provavelmente iria buscar uma faca ou alguma outra coisa que pudesse aliviar essa coisa angustiante entalada na minha garganta e se espalhando por mim. Medo do escuro. Medo de estar no mesmo quarto que um garoto. Medo da pessoa em quem eu mais tenho confiado.
- Só pra estalar a coluna.
Ele ri.
Banheiro. Eu deveria ter dito banheiro.
- Ok. Avise se precisar de alguma coisa. – concordo com a cabeça – Boa noite.
No momento em que deito, ele apaga a luz de novo. Um desespero muito forte me dá um soco no estômago. Respiro fundo para não perder o fôlego, mas é como se tivesse uma mão no meu pescoço. Sei que vou chorar se eu não me controlar.
Criança idiota. Criança idiota.
- Matt?
- O que foi?
- Eu tenho medo do escuro...
Ele liga o abajur e olha e sorri para mim como se a gente tivesse cinco anos e eu tivesse acabado de confessar que fiz xixi na cama e ninguém poderia descobrir. Como se, no dia seguinte, ele fosse me dar cobertura quando eu dissesse pra minha mãe que foi meu bichinho de pelúcia. Há tanto tempo não recebo um olhar destes que cheguei a duvidar que realmente existissem.
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Palavras e "Riscos"
RomanceDe diferentes cantos da Inglaterra, vêm duas garotas. Pamella é sempre feliz. Alexia é sempre o que se espera que uma adolescente seja. Ambas camuflando todo o resto de todo mundo, cada uma com sua forma de lidar com seus sentimentos. As duas...