Alexia
Parte de mim fica feliz por ter alguém cuidando de mim no hospital. O resto de mim fica em pânico por estar em um hospital, onde as pessoas descobrem coisas e é tão frio que acho que, caso alguém decida acender uma fogueira, as chamas irão congelar.
- De qualquer forma, você sabe que deveria falar com a polícia, certo?
Cindy Looper, a mulher loira sentada à minha frente e olhando nos meus olhos, é o mais próximo que tive de uma mãe depois da minha avó. Ela me trouxe um cobertor bem grosso.
- Eu não posso.
Minha voz soa tão fraca que me sinto tão frágil como uma unha prestes a quebrar.
- Ei, - ela segura minha mão, mas mantém seus olhos nos meus e a voz calma – você sabe que não estaria sozinha; existe toda uma estrutura por trás de denúncias assim, e...
- Eu não posso. – interrompi.
Ela me olha por alguns segundos. Sinto que está prestes a bufar. Seus olhos não sei se mostram tristeza, preocupação, cansaço ou decepção. Talvez tudo isso. Não sei se ela realmente se preocupa, mas acho que todos os médicos devem se preocupar um pouco com seus pacientes.
Cindy me acompanha desde o começo do pesadelo.
- Sinto muito. – eu digo – Eu simplesmente não posso.
Ela respira fundo.
- Eu realmente não posso te forçar, mas acho que vale a pena pensar. Pode ser que te ajude com muita coisa.
Concordo com a cabeça. Ela manda trazer um leite quente para mim. Diz que tem que atender outra pessoa. Sai. Fico com medo.
Não quero que a Cindy me deixe sozinha também. Ela sabe de tudo o que eu contei, e sei que descobriu grande parte do resto. Sempre que eu venho, me dá umas balas de vitaminas e insiste para que eu coma alguma coisa. Ela sabe.
***
Pamella:
Samantha sumiu.
Leonard e eu procuramos por toda parte, ligamos para várias pessoas. Ela sumiu.
Não sei para onde ele está me levando, mas não o deixei vir sozinho. Se ele sabe onde ela pode estar, quero ir também.
Rezo o caminho todo. Ela tem que estar bem. Ela está bem. Ouviu, Deus? Ela tem que estar bem.
Começo a ter falta de ar. E se ela não estiver nesse lugar, onde quer que ele seja?
Nada pode ter acontecido àquela voz desafinada, àquela risada fácil, àquela garota que engasga enquanto sussurra. N A D A.
Minha nossa, quantas coisas diferentes podem ter acontecido! Lembro das histórias das meninas que foram sequestradas e só conseguiram ser resgatadas anos depois, que minha mãe me contava quando eu tinha onze anos e queria voltar sozinha para casa.
Não faço muitas perguntas ao Leo durante o caminho, em parte porque não quero distraí-lo, e em parte porque estou quase chorando, e quero me concentrar em manter o controle.
Ela não pode estar em perigo. Deus, ela é minha irmã e tem que estar bem. Isso é uma ordem.
Sua mãe abre a porta e diz que ela está no quarto. Leo e eu concordamos que eu vou subir primeiro.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Palavras e "Riscos"
RomantizmDe diferentes cantos da Inglaterra, vêm duas garotas. Pamella é sempre feliz. Alexia é sempre o que se espera que uma adolescente seja. Ambas camuflando todo o resto de todo mundo, cada uma com sua forma de lidar com seus sentimentos. As duas...