Capítulo 22

36 1 0
                                    

   Alex:

   - Você sabe que ele tem uma quedinha por você, né?

   - Claro. E elefantes são rosa. Você e a Pamella cismaram com isso.

   - Talvez por ser verdade.

   Eu ignoro totalmente qualquer reação dentro de mim. Não quero nem saber se são boas ou ruins. Primeiro de tudo, obviamente elas estão enganadas, então é inútil sequer pensar em o que eu acho do fato sonhado pelas duas.

   - O professor chegou. Vire pra frente, Samantha! – falo essa parte como se fosse um "sussurro autoritário", fazendo-a revirar os olhos e obedecer.

   - Vocês são iguais. – diz, esticando a cabeça para trás – Seria fofo, se não fosse irritante.

   Reviro os olhos e ela continua:

   - O Matt é super gente boa. Acho que você devia dar uma chance a ele. – como que para fingir ser discreta, completa: - Mas isso não é da minha conta. Nem os sorrisos bobos dos dois. Ou o fato de vocês não desgrudarem. Ainda tem outras coisas, mas também não são da minha conta.

   Realmente não...

                                                           ***

   Meu celular apita, mas não quero olhar. Tudo o que tenho vontade de fazer é ficar deitada na cama, sozinha, de olhos fechados ou então encarando o teto. A Laura e a Jessica devem chegar em cinco minutos e tudo o que eu quero agora é um pouco de paz.

   É estranho querer paz quando, na verdade, já se está sozinho. Não há sequer uma alma viva produzindo som aqui. Ninguém está me cutucando ou irritando de alguma forma. Não estou fazendo mal a ninguém.

   Ainda assim, tudo o que quero é um pouco de paz.

   Fecho os olhos e tento preencher minha cabeça com o barulho das ondas batendo, só para impedir que outras coisas a preencham. Mas não funciona direito, então tendo que causar tsunamis o tempo todo. Engraçado como minha paz vem da destruição do que está dentro de mim.

   Meu tsunami tem um som pacífico, do tipo que dizem dar para ouvir quando se coloca uma concha no ouvido – eu, pessoalmente, nunca consegui -, só que mais alto; como se eu pudesse aumentar apenas o volume, não a intensidade.

   Sei que, se eu abrir os olhos e virar a cabeça para a esquerda, vou dar de cara com a concha que era da minha avó, encima da mesinha de canto.

   Eu tinha oito anos quando ela me deu e reclamei dezessete vezes em uma semana sobre "o som estar saindo errado" e a concha estar "com defeito". Minha avó fez um traço no objeto para cada vez que eu disse algo assim.

   Às vezes, ainda dá para sentir sua mão no meu cabelo e ouvir: Alex, meu anjinho, a concha não quebrou. É só fechar os olhos e pensar na praia; no barulho das ondas misturado com o do vento e as conversas das pessoas ao longe. Isso é o seu barulho da água. O da concha é diferente, porque ela ouve do fundo do mar.

   Estico a mão para pegar o objeto, para fingir que isso a traz para perto de mim – ou me leva para perto dela –, ao mesmo tempo tentando ignorar que meu rosto parece queimar e minha garganta parece fechar.

   Eu respiro fundo. Ouço uma onda. Respiro fundo outra vez junto com a segunda. Minha mão para no meu celular, que decido olhar logo.

   "Matt Fantástico: Como foi de prova?"

   Como ele lembrou que eu tive uma prova hoje? Eu mencionei isso há uns dois dias...

   Respondo com um "Normal" e bloqueio a tela, mas a verdade é que não sei.

Palavras e "Riscos"Onde histórias criam vida. Descubra agora