Capítulo 30

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Matt

É quase uma da manhã quando meu celular toca.

- Alexia – o Scott fala, me entregando o aparelho que estava na mesinha ao lado da sua ponta do sofá.

As poucas coisas que entendo da ligação são o pé d'água caindo, choro e um "Você pode, por favor, me buscar?" um tanto arrastado.

Tanto o Scott quanto o Leonard ficam tensos quando conto.

- Ela deve estar bêbada – completo.

- E o que você vai fazer? – o Leo pergunta.

Embora a resposta pareça óbvia, considerando meu histórico de pular de cabeça em tudo e não ver muito a razão nas coisas, uma parte de mim não sabe. Uma parte de mim só quer ligar de volta e ter a briga do século, gritando até não conseguir mais que não é legal só lembrar das pessoas quando se precisa delas e que eu realmente sinto falta dela e fico magoado quando recebo tanta indiferença da sua parte, mesmo depois de tudo. Mas a maior parte não quer esperar nem mais um segundo.

- Ela é problema, não é?

Não sei o que leva mais cara de funeral aos dois: meu tom de voz ou a pergunta em si.

E eles não sabem nem metade da história.

Eu me sinto um inútil. Um idiota. Um merda. Um cagão.

Pergunto-me quais dos milhares de pensamentos cabíveis estão com mais força nas mentes deles. Apesar de cada segundo parecer infinito, o Leonard não leva muito tempo para expor o seu:

- E você não já foi problema, também?

Não respondo, mas sei que sim.

- A gente pode ir com você, se quiser – o Scott oferece.

Junto o pouco de coragem e ânimo que me restam, coloco o controle do videogame de lado e levanto do sofá.

- Leo, tem energético na geladeira?

- Não.

- Ainda sobrou café?

Assim que ele vai buscar o café na cozinha, o Scott me chama e diz:

- Você pode ajudar sem se afundar junto.

Agradeço o incentivo – e parte de mim realmente se motiva e tenta absorver –, mas sei que, quando me afundei, ajudei a levá-lo para o fundo do seu poço.

***

A Alexia não está mais chorando quando chego ao ponto de ônibus no qual pedi para me esperar – o que não significa que ela não está com cara de quem foi destruída. Acho que nunca cheguei a Londres tão rápido.

Os vidros estão fechados, mas parece que o ar dentro do carro é totalmente novo quando vejo que está segura.

Quando ela entra, pingando da chuva, ligo o aquecedor e lhe dou o casaco que estava vestindo.

Era de se esperar que a primeira coisa que um de nós dois dissesse depois de quase um mês sem nos encontrarmos – depois dos nossos últimos encontros – e mal conversando fosse diferente do que qualquer taxista diria, mas o que eu falo é:

- Pra onde?

- Não sei. Qualquer lugar, menos meu apartamento.

A escolha mais sensata era o meu, mas esqueci a chave na casa do Leo, junto com minha carteira. A próxima opção da lista talvez fosse o das meninas, mas nem preciso me preocupar com isso, porque a chave reserva delas está no mesmo chaveiro que a minha.

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