Capítulo 25

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     Alex:

   1... 2... 3... 4... 5...

   As gotas escorrem muito devagar.

   6... 7... 8...

   Devo continuar e aproveitar para tentar atingir alguma veia ou descobrir o número de cortes necessários para morrer.

   Eu poderia partir daqui mesmo, no meio da aula e me cobrindo de vermelho. É quase poético.

   Ela morreu de si mesma, algum dramaturgo antigo poderia ter escrito. De dentro para fora, mas causado de fora para dentro, por conta de impulsos internos alheios. Oh! Como é complicado o mundo da emoção daqueles que se cobrem de um vermelho inconstante.

   É realmente interessante como a morte pode ser relatada graciosamente. O que não foi o caso, porque esse foi um pensamento meu, então já está automaticamente condenado a ser uma merda. "A maçã não cai longe da árvore", já diz o ditado.

                                                           ***

   Honestamente, por que ainda me dou o trabalho de vir às aulas? Não sou inteligente, não tenho metas ou perspectivas de vida nem ninguém por quem valha a pena sobreviver por muito tempo. Assim que eu cansar de vez eu vou simplesmente... Puf.

   Então qual o sentido de ficar sentada ouvindo coisas que não vou absorver e lendo coisas que não vão ser úteis?

   Eu saio para o banheiro.

   No caminho, tem um garoto encostado na parede do primeiro corredor que pego. Ele desvia o olhar do celular para mim, eu tenho certeza. Eu aperto o passo.

   Ele desviou o olhar. Por que ele desviou o olhar? Será que está me seguindo ou encarando ainda? O que ele está olhando? O que ele estava "checando"? Eu devo me preocupar se minha bunda se encaixa ou não nos padrões dele? Se não, devo fazer isso acontecer? Se sim, devo ficar feliz? Ficar preocupada? Preocupada por quê? Por alguém considerar isso aceitável, por isso ser relevante ou por ser checada?

   Alguém está me seguindo, eu sei.

   Aperto o passo.

   Dobro no outro corredor...

   ... E continuo sentindo a presença de alguém atrás de mim. Agora tenho certeza de que é real, porque ouvi uma risada perto do meu ouvido e eu sei que ele quase segurou meu braço.

   Aperto tanto o passo que praticamente corro, o que me deixa um pouco tonta, mas não posso pensar nisso, tenho que continuar e correr mais e não posso olhar para trás porque ele pode encarar isso como um convite ou então ele pode estar mais perto e eu vou entrar em choque e vou parar e ser cercada pela frente e eu não aguento mais andar rápido CADÊ ESSA MERDA QUE NÃO CHEGA eu preciso olhar para trás mas não posso e meu coração bate tão rápido que vai explodir e

   - Ai! – uma garota diz, esfregando o braço.

   - Desculpe. – digo, ainda ofegante. Como eu vim parar no chão?

   - Tudo bem. – ela me ajuda a levantar. Seus olhos são verdes; da cor do arco em seu cabelo loiro – Você parece meio... ahm... nervosa. Posso ajudar em alguma coisa?

   - Na verdade, eu estava indo ao banheiro, mas aí um cara começou a me seguir e...

   Ela me olha com uma interrogação enorme no rosto. Se expressões faciais pudessem soltar falas, esta diria algo do tipo "Oi? Ficou maluca?".

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