Pamella:
É assim que acontece: as pessoas chegam, ficam e vão embora. Mesmo que digam que não, elas vão embora.
Me chame do que quiser, mas já não acredito mais que alguém vá ficar.
Não que eu deixe que alguém veja isso, mas não acredito.
Então o vejo ir embora, porque realmente não há nada que eu possa fazer além disso.
Durante todos os anos que passei gostando do Thomas, isso era o que eu mais temia: que ele fosse embora.
Não que eu achasse que nós dois fôssemos ficar juntos para sempre. Para ser honesta, esse foi um dos motivos para passar tanto tempo escondendo do mundo o que eu sinto por ele: eu sempre soube que ia acabar.
A proximidade e o tempo que as pessoas levam para sair da minha vida são proporcionais.
Ainda vamos à formatura juntos, como amigos. Mas e depois? Cada um vai seguir um caminho diferente e a comunicação vai ficar cada vez menor, até sumir.
Sempre tive consciência disso, mas não sei até que ponto isso me conforta.
As pessoas costumam dizer que precisam ouvir mais a cabeça, que devem pensar mais e ouvir menos o que o coração diz. Eu faço isso. E odeio.
Pensar demais te deixa consciente demais e isso tira a graça e o sentido de certas coisas. As pessoas de hoje fazem os relacionamentos, de todo e qualquer tipo, moverem muito rápido.
Eu não.
Levo muito tempo para verdadeiramente assumir algum sentimento por alguém. Antes de dizer que amo uma pessoa, preciso conhecer qualidades, defeitos, coisas aleatórias, algumas manias e nem assim uso o termo para sempre. Convenhamos: não vai durar para sempre e amor é um sentimento forte demais para ser assumido quando não existe.
É como ser uma estranha num mundo onde, se você perde o primeiro dia de aula onde ninguém se conhecia antes, no segundo já parece que todos os grupinhos foram fechados, sem brechas para você. E, se você está lá, mas acaba não se enturmando bem logo de cara, suas chances são ainda menores. Um mundo onde qualquer relacionamento que dura um mês já é considerado fadado a durar para sempre.
Não fui programada para isso.
Estar consciente de tudo, ao contrário do que se pensa, não te impede em hipótese alguma de sofrer quando alguma pessoa se afasta, ou seja, essa merda não serve para absolutamente n-a-d-a. O mundo gira, as pessoas correm e eu fico tonta e para trás.
As aulas ainda nem acabaram e já estou empacotando tudo pra faculdade. Só eu sei quantas vezes quis sair daqui. Não é o pior lugar do mundo, mas quando não se tem liberdade para fazer nada, e pensar é uma das únicas coisas que se pode fazer, ir embora não é uma ideia ruim.
Não sou nada do que se espera de uma adolescente: não fumo, nem fico bêbada, não vou a festas em baladas (não gosto nem de festas normais, na maioria das vezes), não me apaixono fácil, praticamente não faço merda (e acho que nunca fiz nenhuma merda séria), gosto de estudar, mal saio de casa (e, na maioria das vezes em que saio, não vou muito longe) e junto dinheiro há anos para morar sozinha. Meu dinheiro. Eu trabalhei por ele - ok, ok, em parte eu trabalhei, em parte eu ganhei.
No momento, estou sozinha em casa, o que significa que posso cuidar do que provavelmente é meu único segredo: o que eu escrevo.
Passo tudo pro computador e coloco no pen drive que está sempre guardado em um lugar seguro. Depois, rasgo todas as folhas e jogo os pedaços em lixeiras diferentes.
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Palavras e "Riscos"
RomansaDe diferentes cantos da Inglaterra, vêm duas garotas. Pamella é sempre feliz. Alexia é sempre o que se espera que uma adolescente seja. Ambas camuflando todo o resto de todo mundo, cada uma com sua forma de lidar com seus sentimentos. As duas...