Pamella:
A Samantha diminuiu as brincadeiras sobre eu gostar do Scott, e isso me acalma, porque já não sei mais qual é a parte do meu cérebro que concorda com ela: a racional ou a desconectada, que pensa coisas aleatórias, besteiras e me faz acreditar em coisas nas quais não devia.
Em resumo, a parte desconectada só me ferra, na maioria das vezes – ok, às vezes ela é útil; é graças a essa parte que meu cérebro aprendeu a me distrair com coisas bobas quando eu fico muito mal ou com bastante medo de alguma coisa, mas no momento a odeio.
Acho que toda essa questão com o Scott é mais aquela história de que "Uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade" do que qualquer outra coisa. Queria que todo mundo parasse um pouco de ficar falando coisas sobre mim e ele, para as coisas poderem se mostrar de verdade. É como se eu não conseguisse pensar ou avaliar direito com tanta gente tentando me influenciar.
Fico na dúvida se isso também acontece com ele.
***
- Ah!! Quase que eu esqueço! – falo, meio que me empolgando demais e agarrando o braço da Samantha.
Como em todas as noites de quinta, a sala está cheia.
- O que foi? – ela vira o rosto para mim, revelando a alface quase caindo da boca.
- Segunda eu vou passar a tarde na ONG. Meu carro só vai sair do conserto na terça e, ainda por cima, é lá em Hertford. Você pode, por favooooor, me buscar?
A ideia de ir à ONG fundada pela psicóloga do Leo e umas amigas tem me deixado animada desde quando ele mencionou a ideia, dez dias atrás.
- Segunda agora? Eu juro que eu iria, mas preciso falar com o reitor, depois buscar a roupa da minha mãe na lavanderia lá no fim do mundo, depois ir ao mercado – é, de fato, a vez da Samantha de ir ao mercado –, e depois estudar pra prova de terça. Se eu não fosse precisar da mala, até te emprestaria meu carro. Se você estivesse afim de ir até Birmingham buscar na casa da minha tia.
A Samantha e eu concordamos que não tinha necessidade de pagar estacionamentos e tudo o mais para dois carros. Como ela divide o seu com a mãe, ficamos só com o meu – que eu quis vender antes de me mudar, mas meus pais insistiram que eu deveria ficar com ele, então eles que pagam meu road tax e uma parte das despesas com estacionamento. Mas, na verdade, quase não usamos carro.
- Que horas você sairia de lá? – Matt pergunta – Posso voltar com você de ônibus, se for antes das quatro.
- Eu sairia de lá umas cinco e meia. – respondo – Eu pego um ônibus em Derby, mesmo. Obrigada, de qualquer forma.
- Eu posso te buscar, se quiser. Domingo eu vou visitar meus pais, então posso pegar o carro com eles. – Scott fala. Aquela parte desconectada do meu cérebro comemora em silêncio e começa a perder tempo criando cenários e teorias conspiratórias – Já não vai mais ter sol no caminho da clínica até Derby. Não é muito longe, mas não é bom ficar andando sozinha por aí no escuro.
- Você decidiu fazer uma caminhada às oito da noite e sozinho, ontem. – Leonard denuncia.
- Ah, mas é diferente. A Pamella é uma garota. Não que eu ache que esse direito seja só masculino, mas também não é como se um velho tarado fosse vir pra cima de mim. Sei lá, é bom tomar cuidado. Até porque ela nunca foi lá.
Queria poder contestar, mas, infelizmente, o mundo está muito errado e é realmente um pouco perigoso andar sozinha tarde, dependendo do lugar.
- Isso parece algo que minha mãe diria. – falo. Ele e Matt riem, e Leonard fica meio confuso – Fora a parte que sugerisse que ela fosse um cara.

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Palavras e "Riscos"
RomanceDe diferentes cantos da Inglaterra, vêm duas garotas. Pamella é sempre feliz. Alexia é sempre o que se espera que uma adolescente seja. Ambas camuflando todo o resto de todo mundo, cada uma com sua forma de lidar com seus sentimentos. As duas...