Capítulo 32

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                                               Pamella:

Caixa de Coisas Boas.

- Fofo.

- Eu também achei, quando comprei – ela diz, colocando uma mecha do cabelo para trás da orelha –, mas acabou ficando pequena demais.

- Parece um tipo muito bom de problema.

A Samantha ri.

- Culpa sua.

- Por nada.

Vejo-a levantar e pegar uma pasta – essa eu já conhecia – dentro da segunda gaveta do seu guarda roupa e voltar para sua cama, onde estou sentada.

Tudo parece pessoal demais – apesar de ter sido eu quem escreveu uma quantidade considerável das cartas guardadas ali –, mas a Samantha não parece se importar em me deixar mexer nas suas boas memórias favoritas.

- Essa é minha carta favorita.

A primeira minha; de quando completamos um mês de amizade.

- Possivelmente a mais longa – digo, porque foi a maior que já escrevi.

- As pessoas não escrevem mais cartas de cinco páginas pras outras. O tamanho dela só deixa ainda melhor.

- Você tem que considerar que um terço da última é um desenho de dois elefantes que a Maddie teria feito muito melhor.

- Para de falar mal da minha carta favorita!

Eu rio, enquanto me deixo inundar por um sentimento que não conheço direito – uma mistura de orgulho, felicidade e paz.

A Samantha me deixa ler o que escrevi de novo. Falei sobre a Karen e como todo o afastamento (da forma que foi) me fez mal, mas que sabia que estar tão magoada, de coração dilacerado, me fez estar mais aberta ao mundo – e, consequentemente, a novas pessoas –. Disse que, se tivesse que passar por tudo isso de novo e dez vezes pior para garantir que jamais perderia a Samantha da minha vida, o faria com gosto. "Porque, quando a gente tiver oitenta anos e ninguém aguentar mais nossa companhia por perto, eu vou ser a velha do seu lado no asilo, que, ocasionalmente, vai virar a tigela de sopa no seu colo de propósito. E você vai me perdoar, porque também vai fazer isso comigo".

Falei sobre coisas que acho incríveis nela e na nossa amizade – tipo o jeito como ela me faz ser mais aberta e verdadeira com as pessoas e comigo mesma, e como o fato dela já se abrir comigo sobre planos e sonhos logo no início da nossa amizade foi importante para me ajudar a abaixar a guarda com mais frequência e menos medo. Repeti, pela milésima vez, que esse laço é diferente de tudo o que já vivi na vida, e que vou fazer de tudo para mantê-lo. Previ que não teríamos só bons momentos, mas registrei minhas esperanças de conseguirmos lidar com isso.

Terminei com um desenho de dois elefantes, porque são seus animais favoritos, e fiz questão de desenhar o meu mais alto (não é sempre que encontro alguém menor que eu).

É a primeira vez talvez em toda a minha vida que leio algo escrito por mim mesma há quase um ano e não me arrependo de uma palavra. Exceto talvez uma.

- Conjuguei um verbo errado. Pera, vou consertar.

- Não. – diz, antes de eu sequer conseguir tirar a carta das mãos – Quando você for uma escritora famosa e eu ler essa carta em frente aos seus fãs, eles vão concordar que ela tá perfeita assim, mesmo com o verbo errado.

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