Capítulo 31

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Matt:

   Só volto a ver a Alexia depois que as aulas voltam, na primeira quinta-feira.

Nada mais aconteceu, mas as coisas estão sempre estranhas entre a gente. E eu odeio isso.

Depois de alguns outros sonhos desagradáveis que eu inicialmente expus aos meus amigos inocentemente, mas a Pamella interpretou de formas interessantes – que, mesmo antes de eu abrir parte do jogo sobre os assuntos, levaram à Alexia e à minha mãe –, decidi tomar uma atitude e chamá-la para conversar. E é isso que me traz à porta do seu apartamento.

- Oi.

Acho que "Oi" é sua palavra de cumprimento quando está sem graça.

- Oi.

Sou convidado a entrar.

- Devo dar um oi pras outras meninas também?

- Elas deram uma saída.

Tenho quase certeza de que a Alexia está tentando fazer parecer que Laura e Jessica vão voltar antes do que realmente espera, mas finjo que não noto.

- A gente precisa conversar.

Não falo mais nada de imediato, porque quero que essa frase seja digerida e ela se prepare para a conversa antes de eu soltar todo o roteiro que criei na minha cabeça milhares de vezes.

Mas ao invés de um "Aham", "Eu sei" ou "Matt...", a Alexia diz:

- Eu queria te mostrar umas coisas antes.

E fode com todo o meu planejamento.

As coisas em questão são fotos. Fotos da menina linda que a Alexia era, nos seus tempos saudáveis.

- Quem são esses?

- O que parece uma nova versão do Salsicha e tá me carregando nas costas se chama Chris. A menina que eu tô quase enforcando de tanto abraçar é a Annie. O gordinho é o Michael e a loira que tá fazendo chifrinho nele e em mim é a Stella.

Vemos fotos dela com corações desenhados com cobertura de marshmallow na bochecha fazendo careta com o tal Chris numa cozinha que não é da casa dela, com a Annie ajudando a decorar árvores de Natal, com os dois e mais uma garota dando piruetas e fazendo acrobacias na praia de Brighton, com o gordinho perto de doces, fingindo que iam comer todos. A Alexia me mostra fotos de noites em volta de fogueiras no quintal de alguém, de aulas chatas, de reuniões com os amigos que originalmente eram para fazer algum trabalho, de horários vagos e fins de semana no píer.

A Alexia me mostra fotos de uma adolescente que sorri e dá cambalhotas e se entope de algodão doce enquanto tenta conseguir um bicho de pelúcia num jogo qualquer. De uma adolescente que, mesmo depois de ter sido abandonada pelo pai e praticamente perdido a avó, soube seguir em frente e valorizar os amigos que tinha. Soube fazer o que eu não consegui. Eu fico feliz por esse momento na vida dela, mas não consigo não sentir um pouco de inveja, mesmo sabendo o quão sem sentido é isso. Não consigo não me perguntar o motivo dela estar me mostrando essas coisas, ao invés de tentando resolver o que quer que esteja errado entre a gente.

Olhar essas fotos me faz sentir um fracassado. Eu não consigo colocar essa risada imensa de volta no seu rosto, nem essa paz de volta nos seus olhos. Eu não consigo fazê-la se gostar ou importar consigo mesma o suficiente para trazer de volta sequer uma parte da saúde que ela tinha. E, se algum dia ela precisasse que eu fosse para ela o que o Leonard – e, pouco mais tarde, o Scott também – foi para mim, eu não conseguiria.

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