Pamella:
- Nervosa?
- Talvez um pouco. – eu forço a mim mesma a ser minimamente honesta com minha melhor amiga, mesmo sabendo que ela sabe a verdade. Óbvio que sabe – Eu só queria saber onde a gente vai. Não que eu me preocupe demais com isso, eu só não quero, tipo, colocar um vestido e pagar calcinha.
- Então põe uma calça.
- Eu posso precisar de mais flexibilidade. O que nem a calça nem o vestido dariam, mas tá frio lá fora pra colocar short. E a saia acaba caindo no mesmo problema do vestido, de...
- Meu Deus, Pamella. – ela fala, um tanto divertida – É o primeiro encontro de vocês, não o casamento.
- Eu não vou me casar. E, se eu fosse, eu não teria que me preocupar com roupa, porque eu usaria um vestido já escolhido...
E uma almofada me acerta. Ela faz isso toda vez que corto alguma de suas tiradas. Uma parte de mim se incomoda. Eu nunca tive muito espaço para me expressar em casa, então acabei preferindo ficar mais calada na maior parte do tempo. Não gosto de pensar que, em uma das minhas tentativas de interação social, era melhor ter ficado calada.
É só uma brincadeira, eu lembro a mim mesma. Coisa de melhores amigas.
Enquanto (finjo que) espanto esse pensamento e os outros que ameaçam vir com ele, caminho de volta ao guarda-roupa. Calça jeans e camiseta vão ter que servir. Afinal, eu mesma disse ao Scott, quando ele disse que queria planejar nosso primeiro encontro oficial e precisava deideias, que seria melhor alguma coisa mais divertida e informal, ao invés de clichê e/ou chique demais.
Pense em alguma coisa que você goste de fazer com seus amigos por diversão, eu disse. Ele só bem que poderia ter falado no que pensou, ao invés de fazer surpresa.
O interfone toca enquanto estou me entupindo de água, e, é claro, minha bexiga decidiu haha, vou zoar essa garota.
***
- Oi, eu achei que você fosse subir. – falo, meio mais nervosa do que deveria estar, quando o encontro se levantando dos degraus em frente ao prédio, onde estava sentado – Desculpa a demora. Quer um copo d'água ou alguma coisa?
Ele ri e penso que talvez eu possa parecer quase tão perdida quanto realmente estou.
Pamella, vocês já saíram antes... Várias vezes.
Mais uma vez eu comparo ficção e vida real: na ficção, quando amigos viram um casal, é tranquilo; eles são naturais, é tão fácil simplesmente beijar, abraçar, dizer palavras bonitas e segurar as mãos; agir como um casal que já está junto há anos.
Na vida real – na verdade, para mim –, a coisa é um pouquinho diferente.
Enquanto meu cérebro tenta assimilar a mudança de Scott e Pamella, os amigos-que-fingem-não-ser-de-certa-forma-coloridos para Scott e Pamella, o casal, ele para em algum lugar parecido com Scott, aquele com quem eu tenho saído e com quem eu já estava até mais confortável e confiante, mas que, depois de as coisas ficarem sérias, acabou voltando a ser alguém que me deixa nervosa e tudo o mais.
Com muito esforço e repetindo mentalmente tudo o que aconteceu na praia, consigo chegar ao ponto Pamella e Scott, aqueles amigos que se gostam e sabem disso há um tempo considerável, então acabaram decidindo levar adiante, e isso não é motivo pra pirar. E aqui estão eles, saindo sozinhos! De novo! Agora vê se cala a merda da mente e não estraga tudo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Palavras e "Riscos"
RomanceDe diferentes cantos da Inglaterra, vêm duas garotas. Pamella é sempre feliz. Alexia é sempre o que se espera que uma adolescente seja. Ambas camuflando todo o resto de todo mundo, cada uma com sua forma de lidar com seus sentimentos. As duas...