thirtieth-seventh day ☹

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Camila está com o olhar pesado e o rosto inchado. Ela não havia dormido, comido e muito menos parou de chorar um segundo sequer. Cabello está em um daqueles dias que ela somente quer ficar deitado ao lado de Lauren, conversando sobre seu dia e lhe dando mais uma razão para viver.

Camila não queria ir ao hospital, mas se ela não fosse visitar Lauren, quem iria lhe dar um motivo para viver? Camila estava sendo a única com algum pensamento positivo ali e Alycia tirou isso dela quando disse aquelas palavras, mas a garota apenas não consegue deixar Lauren para trás.

Mas e se Lauren já tiver deixado Camila para trás?

Camila andava em passos curtos e lentos em direção ao quarto de Lauren, sua respiração calma e ela parecia mais um corpo sem vida andando. Sua aparência estava um lixo. Os olhos cansados com sombras escuras ao redor indicando a falta de sono, as roupas amarrotadas, o cabelo completamente bagunçado. Ela estava tão destruído por fora quanto por dentro. Mas então, ela ouviu.

- Eu preciso que você assine isso. - Camila parou no corredor assim que ouviu a voz da doutora Delevingne, ela colocou a cabeça perto da porta do quarto para ver o que estava acontecendo. Clara e Taylor estavam chorando baixinho enquanto a mulher segurava alguns papéis na mão.

- E-eu... Não vou assinar! - Clara disse firme. O que está acontecendo? Camila pensou.

- Ela não tem nenhuma chance de sobreviver? - Taylor perguntou, o tom de voz tão baixo que Camila teve que chegar mais perto para ouvir.

- Normalmente o paciente em coma evolui para melhora do nível de consciência ou para a morte encefálica, e Lauren certamente evoluiu para a melhora, mas é como se tudo o que fizemos ou o que tentamos fazer é em vão. Ela já deveria ter acordado. - A mulher explicou e Camila teve que fechar os olhos e suspirar para não ter que chorar novamente. Ela já estava entendendo tudo. - Clara, Lauren está em um coma profundo com 85% de chance de morrer...

- Mas ainda têm os 15% de chance... - Fora Camila quem dissera. As três mulheres desviaram o olhar para a porta onde havia uma Camila acabada e com lágrimas acumuladas nos olhos. - E doutora, eu vou apostar tudo nesse 15%.

- Isso não é um jogo, Camila. - Ela rebateu. Odiava ter que fazer isso, mas é o seu trabalho. - Você não pode apostar tudo e simplesmente esperar que ganhe, isso é uma vida. É a vida do Lauren, não um jogo.

- Lauren é a minha vida! - Camila gritou, olhando para Taylor e a doutora. - Se você desligar os aparelhos e-eu... Eu vou morrer junto com ela...

- Querida..

- Você não pode esperar mais algum tempo? - Camila sugeriu e a doutora negou.

- Vai fazer quarenta dias...

- Esperamos quarenta dias então podemos esperar mais algum tempo, certo? - Camila limpou as lágrimas, ela não deixaria Lauren ir.

Não estava em seus planos deixar Lauren ir, de jeito nenhum. Por Deus, ela estava cansada de tudo aquilo. Estava cansada de ficar sozinha. Estava cansada de ter que olhar para Lauren e não ver seus olhos verdes, cansada de não ter o som da voz de Lauren para lhe distrair de alguma aula. Ela estava cansada de tudo isso e mais um pouco.

Clara diria que está orgulhosa de Camila, mas ela apenas não consegue mais passar por tudo isso de cabeça erguida. Dói tanto ter que ver sua filha em um estado vegetativo como aquele, sem poder ver o lindo sorriso dela depois de um dia cansativo de aula. Ou não ouvir sua filha falar sobre suas bandas favoritas ou ter uma discussão com Taylor ao amanhecer para saber quem usaria o banheiro primeiro. Era tudo tão ruim... E saber que sua filha não está acordando é apenas mais doloroso ainda.

Depois de uns segundos se olhando, Clara puxou Tyalor para fora do quarto, chamando a doutora e dizendo que elas precisavam de mais um tempo para pensar no que fazer. Delevingne suspirou e assentiu, ela sabia que eles iriam ser duros no começo mas iriam ceder no final.

Então, Camila estava sozinho com Lauren, mais um dia...

Camila se lembrava do primeiro dia. No hospital. Ela se lembra de quando a ambulância chegou no colégio e Alycia só sabia gritar com Camila, lhe dizendo coisas horríveis, mas ninguém olhava para Nicholas, o motorista do carro. Ninguém olhava para ela e transmitia seu ódio ou qualquer outro tipo de sentimento, era como se tivesse somente Camila ali e era ela quem dirigia o carro. Então, quando a ambulância chegou, Alycia disse que os encontraria no hospital, Camila nem sequer conseguia falar nada. Era como se tudo a sua volta fosse apenas imaginação... Você nunca acredita que algo possa acontecer, até que ela aconteça com você.

Camila assistia filmes em que um dos principais morria ou que sofria algum tipo de acidente, mas ela nunca achou que fosse acontecer de verdade. Aquilo parecia mais uma cena de filme do que realidade, e ela queria que fosse imaginação.

Quando Camila descobriu que Lauren estava em um coma induzido pelo efeito de concussão cerebral, ela não soube como reagir. Era como se as palavras tivessem sumido de sua boca e estava em estado de choque. Ela não conseguia imaginar o cérebro de Lauren sendo jogado nas paredes do crânio quando ela caiu no chão. Era impossível imaginar qualquer coisa do tipo. Mas ela só queria que Lauren acordasse.

Não importa se Camila acordasse no primeiro ou no último dia, ela só queria ver a morena mais uma vez fora daquele hospital.

- Eu apenas quero ver você novamente e colecionar momentos novos... Isso não é um bom motivo? - Camila perguntou, sua voz sempre baixa e carregada de soluços - Porque eu acho que não temos momentos o suficiente para a vida, eu... Não vou te deixar partir, Lauren. Não está na sua hora, não está...

Naquele momento, Camila prometeu para Lauren que iria continuar lhe dando motivos para viver e que não importa o quão duro o dia possa ser, ela não iria desistir de Lauren, não iria deixá-la ir.

Não me deixe ir, Camila.

50 reasons to Live - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora