Laila
Trinta e um dias depois...
Através da janela do quarto eu via a Sarah sentada no jardim na companhia da minha mãe. Minha filha ainda carregava a sua boneca, aquela que o Anthony a presenteou no seu ultimo aniversario. Eu observava a minha filha e senti um aperto no peito. Já fazia um mês que eu não a via sorrir ou brincar como antes, o único brinquedo que ela sempre levava consigo era aquela boneca da Elza, mas ainda sim eu sabia que não era para brincar e sim para ter o pai por perto de alguma forma. Eu respirei fundo para conter o choro que se formava na minha garganta, era sempre assim quando eu me lembrava do Tony. Aquela angustia de não ter ele comigo insistia em me acompanhar e atormentava as minha manhãs, tardes e noites. Eu me afastei da janela e caminhei pelo quarto, aquele antigo quarto do Anthony que agora havia se tornado meu. Desde aquele dia fatídico em que ele foi baleado eu estou morando na mansão Grant.
Eu fui até o guarda roupa e peguei aquela caixa de papelão que o Anthony havia feito questão de guardar com as cartas que um dia eu escrevi para ele. Aquela lembrança foi uma das poucas coisas que eu trouxe da nossa antiga casa. Eu abri a caixa com cuidado e retirei todas as cartas, li cada uma com calma enquanto me recordava das circunstancias de cada uma. Do olhar que ele tinha toda vez que eu lhe entregava alguma carta. Naquela época ele sempre tinha um brilho no olhar e um sorriso genuíno no rosto. Eu li as cartas e depois contemplei as nossas fotos, senti uma dor e também uma culpa me invadindo enquanto olhava aquelas lembranças que ele havia guardado. O Tony também me escrevera muitas cartas, aquele era um costume nosso, ele sempre me escrevia nem que fosse um bilhete, e hoje eu não havia sequer um pedaço de papel daquela época. Só eu sei o tamanho do arrependimento que eu tenho por ter queimado todas as cartas que um dia ele me deu e agora forçava a minha mente para recordar das palavras que ele me escreverá. Aquilo era o meu passatempo diário, não sei se era bom ou ruim, mas foi a maneira que eu encontrei de manter o Anthony sempre presente na minha vida. Eu passei a mão pela minha barriga, redonda e grande e suspirei com pesar. Parecia que o nosso destino era aquele: sempre planejar, esperar, se alegrar e no fim não conseguir. Eu pensei que seria diferente daquela vez, eu acreditei que o Tony veria os nossos filho nascerem, que ele teria a chance de pega-los no colo...
Ainda estava alisando meu ventre distraidamente e pensava no Tony quando duas batidas na porta me fizeram voltar para a realidade. Eu guardei as cartas, me levantei com a caixa na mão e guardei no guarda roupa outra vez.
-Entre.- eu falei para a pessoa que batia na porta.
A porta se abriu devagar e o Felipe adentrou no quarto e me lançou um sorriso fraco.
-Vim ver como você está.- ele falou.
Eu me virei de costas e fui até a janela.
-Eu estou bem. Só um pouco cansada.- eu disse.
Um pouco não era bem verdade, muito cansada se enquadraria perfeitamente. Era um mês de luta para manter a esperança, muitas orações e visitas diárias ao hospital. O Anthony ainda permanecia internado, em coma e sem previsão para acordar.
-Eu não sei se seria uma boa ideia, mas gostaria de ir até o hospital com você hoje.- o Felipe falou.
Eu me virei para ele e dei um sorriso fraco. Acho que seria bom ter a companhia do meu amigo. Para ser sincera eu estava mesmo gostando de ter o Felipe por perto nesse momento tão difícil e pesado da minha vida. Ele havia chegado do Brasil com a Celine há uma semana. A irmã do Anthony decidiu voltar mais cedo para casa, para ficar mais perto da família nesse momento e o Felipe veio junto com ela. Até porque a Celine e ele estavam juntos agora, tinham iniciado um namoro no Brasil. Pelo que o Felipe me disse eles tiveram um começo bem intenso e conturbado, movido a bastante brigas, mas ele tinha conseguido domar a fera que era a Celine Grant. Os dois formavam um casal bonito, apesar dos contrastes de jeito e personalidade serem gritantes, porque enquanto a Celine era uma mulher fechada o Felipe era uma pessoa aberta e contagiante. Acho que era isso que fazia os dois darem certo, um equilibrava o outro.
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Esse Amor #Wattys2018
RomanceLIVRO REGISTRADO- PLÁGIO É CRIME. Até quando um amor pode sobreviver? Laila era uma jovem sonhadora, apaixonante e decidida. Tinha uma vida sem privações e cheia de confortos, mas lhe faltava o essencial: o amor. Com exceção de sua mãe, Laila não s...