Melanie
- Melanie, que surpresa agradável ver-te aqui.
- Olá, Liz. O Luke está?
- Não, mas ele já não deve demorar. Entra, querida. Fiz um bolo. - Liz fechou a porta atrás de si. - Queres?
- Pode ser, obrigada.
- Não agradeças. Agora és família. - Pegou numa faca e cortou uma fatia de bolo. - O Luke contou-me as novidades.
- Segui o seu conselho. - Levei a fatia à boca. - Está delicioso.
- Sempre gostei de cozinhar, principalmente pastelaria.
- Tem jeito. De que é o bolo?
- Cocô. Queres um sumo?
- Sim. Acho que vou ter de começar a vir cá mais vezes se me servir sempre um bolinho destes. - Brinquei. - A minha mãe não gosta de cozinhar. Quem prepara as refeições é o meu pai na maior parte das vezes e bolos só de pastelaria.
- Por falar nos teus pais. - Liz deitou algum sumo de laranja num copo. - Temos de combinar um dia para um almoço ou jantar.
- Eu depois falo com eles sobre isso. Talvez mais no fim das férias de Natal da escola? O meu pai tem férias a partir do dia vinte e cinco. - Dei um gole ao sumo.
- Falas com ele e depois dizes qualquer coisa ao Luke.
- Mãe, vou sair com o Michael. - Lydia entrou na cozinha. - Oh, não sabia que estavas aqui, Melanie. - Fiz-lhe um pequeno aceno com a mão.
- Tem juízo. - Lydia deu-lhe um beijo na testa e saiu da cozinha.
- Adeus, Melanie. - A porta da rua bateu.
Liz abanou a cabeça: - Ela acha que ninguém percebeu que namora com o Michael.
- Eles são mesmo maus a disfarçar. - Ri levemente. - Até o Luke já percebeu.
- A minha filha está encantada pelo Michael desde pequena. Desde há um ano para cá que estão mais próximos que nunca. Já os encontrei bastantes vezes aos beijos. É claro que me preocupo por a minha filha ser dois anos mais nova que ele. - Cortou um pedaço de bolo para si. - Não pela diferença de idades, é pouca diferença. O problema é que o Michael está numa idade em que quer explorar mais do que nunca. Já tive dezassete anos, sei isso perfeitamente. - Riu. - Com o tempo, acabei por aceitar a relação deles. Ajudei a criar o Michael. Sei que ele nunca a magoaria propositadamente e consigo ver que ele também gosta dela.
- Acho que eles estão a tentar manter segredo mais por causa do Luke.
- Ele é quem aceita isso pior. Sempre será protetor em relação à irmã. Desde que viemos da Austrália que a protege mais que nunca. Eles sempre foram muito próximos, só têm um ano de diferença.
- Às vezes pergunto-me como seria se eu tivesse um irmão ou uma irmã. Ser filha única é muito solitário. - Beberiquei o sumo. - Andar sempre a mudar de cidade teria sido mais fácil. Talvez.
A porta da entrada abriu para voltar a ser fechada com estrondo. Saltei um pouco na cadeira com o susto e Liz olhou para mim com uma cara confusa.
- Porra, Calum, eu tenho a certeza absoluta do que estou a dizer. - Luke entrou na cozinha, com o telemóvel no ouvido, e começou a andar de um lado para o outro, sem reparar em nós. - Mas tu ouviste alguma coisa do que eu te disse? Ninguém me contou, eu vi com os meus próprios olhos... eu sei lá o que vai acontecer agora... telefonas aos outros? Tenho de acalmar um bocado, não foi uma imagem nada bonita de se ver.
Ele desligou a chamada e passou os dedos pelo cabelo com um suspiro. Levantou a cabeça e arregalou os olhos quando nos viu a olhar para ele.
- Melanie, não sabia que estavas aqui. - Deu-me um beijo na cabeça.
- Senta-te, Luke. - Pedi. - Estás pálido.
- O que se passou, filho.
Ele olhou para mim incerto e depois baixou o olhar para as mãos. Estas estavam a tremer e o seu pé batia no chão. Estava nervoso. Ou assustado.
- Luke, não gosto nada de te ver assim. O que aconteceu?
- Fomos atacados. - Ele olhou para nós.
Tinha os olhos ligeiramente vermelhos e pequenas lágrimas estavam a formar-se nos cantos destes. Ele mordia o lábio e continuava pálido.
- Oh, Luke. - Levantei-me e sentei-me no seu colo, para me ser mais fácil abraçá-lo.
- Como assim atacados? - Liz pôs uma mão no ombro dele.
- Caçadores. - Escondeu a cara no meu pescoço.
- O que aconteceu? - Perguntei chocada.
- Dois feridos, um morto. Eu vi. Tinha ido para correr. - Gesticulou para a sua roupa desportiva. - O melhor sítio para o fazer é a floresta, conheço-a bem, nunca me perderia. Vi muita gente junto da casa dos Edwards e foi ver o que se estava a passar. Cecilia Edwards, a filha de doze anos do casal, ferida. Monica Edwards, a mãe, ferida. Joseph Edwards, o pai, morto.
- E tu viste-os. - Liz não lhe perguntava, afirmava, sabia.
Ele acenou com a cabeça: - Foi só um aviso. Para nós termos a noção de que eles sabem que há aqui uma alcateia. Descobriram-nos e o pior ainda está para vir.
- Luke, porque é que não vais tomar um duche e depois deitaste? - Sugeri decidida a mudar de assunto. - Eu fico aqui, a fazer-te companhia. Não quero que penses no assunto muito mais. Precisas... mereces, descansar.
- A Melanie tem razão, querido. Vai tomar um banho, a Melanie vai ter contigo ao quarto, depois.
Ele acenou em concordância e levantou-se da cadeira. Observamo-lo a subir as escadas.
- É horrível estarem a passar por isto outra vez.
O bolo e o sumo tinham ficado esquecidos na mesa. O assunto era demasiado delicado para pensar em comer.
- Deve ter sido muito traumático ter visto aquela família assim, despedaçada.
- Nós estamos envolvidas nisto, Melanie. Por muito perigoso que seja, porque é, estamos no meio de tudo.
- Eu sei. Eu soube logo depois de ele me contar. - Olhei para o sítio onde ele tinha desaparecido em direção à casa de banho. - Mas aceitei correr o risco, pela amizade que tenho com todos eles e pelo amor que sinto pelo Luke.
- Disseste amor.
- Acho que não arriscaria tanta coisa se não fosse amor.
Continuamos a falar em vozes preocupadas. Sabíamos que Luke tinha razão. Este ataque à família Edwards era apenas um aviso, o pior estava para vir. Liz também tinha razão, estávamos ambas em perigo, assim como Megan e outras pessoas, não por sermos lobisomens, mas por sermos um alvo que os pode atingir.
Quando subi as escadas e entrei no quarto de Luke ele estava deitado a dormir. Ressonava ligeiramente, tinha marcas de lágrimas na cara e olhos inchados e vermelhos. Estava tão bonito, um bonito triste. Apertava-me o coração vê-lo assim. Ele não merece aquilo porque está a passar novamente. Nem ele nem os outros.
Peguei no telemóvel e mandei uma rápida mensagem à minha mãe a dizer que o Luke precisava de mim, por isso não sabia a que horas iria para casa. Enviei também uma à Megan a pedir para ir ter com Ashton, ele precisaria dela. Esta perguntou porquê mas apenas lhe disse para ir. Deite-me ao lado de Luke e deixei-me adormecer enquanto, inconscientemente, os seus braços encontravam lugar à minha volta, num abraço apertado. Sabia que ele precisaria de apoio ao acordar.
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