Melanie
Sentei-me na cama, calcei as botas pretas e suspirei.
Tinham passado três dias desde que tudo acontecera e hoje era o funeral de Blake. Se há um mês atrás me tivessem dito que isto ia acontecer, eu não teria acreditado.
Bateram à porta e eu simplesmente mandei entrar. Ashley abriu a porta e sentou-se ao meu lado. Pus um braço à volta dos seus ombros, sabendo que o que ela mais precisava era apoio.
Desde o Natal que ela tem estado comigo, em minha casa. Tanto os meus pais como o pai dela sabem que a situação é complicada e que eu era, muito provavelmente, quem a compreendia melhor. Não por ter sentimentos românticos por Blake, nem por ter perdido o rapaz que amo, mas sim porque perdi alguém que era como um irmão, e a dor também é muito grande.
- Porque é que isto tinha de lhe acontecer a ele? - perguntou numa voz fraca.
- O Blake disse-me, uma vez, que a vida é como escalar uma montanha.
- Como assim? - questionou, confusa.
- É difícil e tem obstáculos pelo caminho mas, no final, somos recompensados pela vista que temos desde o ponto mais alto. Temos de ser fortes até chegar ao cimo, mas tudo acaba por valer a pena.
- Neste momento, parece-me que nunca vou conseguir ultrapassar isto e esquecer o Blake.
- Não tens de o esquecer. Aliás, não o deves esquecer. É uma parte de ti. Não esqueças, segue em frente.
- Não me parece que o vá conseguir fazer.
- Não tens de o fazer agora. Ninguém te pede isso. Só tu sabes quando estás preparada.
- Obrigada, Melanie. Por estares aqui para mim, a apoiar-me e ajudar-me, apesar de tudo.
- Todos nós percebemos as tuas razões, Ashley. O sangue de caçadora corre-te nas veias, não é uma coisa que algué poderia mudar. Não me agradeças, sou tua amiga é para te apoiar e abrir os olhos que cá estou.
- Adoro-te, Melanie.
- Também te adoro, Ashley.
Ela abraçou-me com força. Um agradecimento silencioso. O apoio que ambas precisávamos.
- Melanie, Ashley, temos de ir. - a minha mãe apareceu à porta do quarto.
- Já vamos. - respondi.
Levantei-me e sorri tristemente, notavasse que ela estava a tentar manter as lágrimas para ela.
- Tens de ser forte, mas ninguém te impede de chorar. É uma maneira de mostrares as tuas emoções. É saudável.
Descemos as escadas e saímos de casa.
Luke estava ao pé dos carros com os meus pais. Quando nos viu veio até nós e abraçou Ashley.
- Vai ficar tudo bem. - mexeu no seu cabelo com ternura, mas olhava para mim enquanto o fazia.
Aquela frase era direcionada para as duas, porque ele podia ser meu namorado mas era amigo de Ashley e sabia que ela também precisava de sentir que não está sozinha.
Dentro do carro, a caminho do cemitério, olhei pela janela e observei a paisagem a passar diante dos meus olhos. As cores pareciam mais tristes e esbatiadas, o céu parecia chorar a morte de Blake com os chuviscos que caíam, tudo, em geral, parecia gritar pela sua falta.
***
Os portões do cemitério eram altos, de ferro e bonitos. Uma beleza triste.
De repente, Ashley começou a respirar com mais dificuldade, tudo se estava a tornar mais real. Para onde quer que olhássemos víamos campas de pedra a enfeitar o chão, não queríamos acreditar que, numa questão de minutos, Blake seria apenas isso... Uma campa de pedra com flores secas e uma memória nos nossos corações.
Depois do enterro, Ashley deitou-se sobre a campa, como se se estivesse a deitar sobre o corpo de Blake, como se fosse possível, de alguma maneira, sentir os braços dele a rodeá-la.
Ninguem falava. O silêncio era como facas no coração. Ninguém sabia como concertar o coração partido de Ashley, ninguém sabia como era a dor de perder a pessoa que ama.
Sentia-me perdida. Acho que, até aqui, ainda não me tinha convencido que ele tinha partido, que nunca mais poderia olhar para os seus olhos, ouvir a sua voz ou ver o seu sorriso. Mas, ao olhar para a sua campa, a campa onde o corpo dele estava enterrado, tudo tinha embatido em mim como uma onda capaz de destruir tudo à sua passagem.
Senti o meu coração partir. Os pequenos pedacinhos a cair como as gotas de chuvas. A minha visão ficou enublada como o céu. E foi como se o Mundo compreendesse o sofrimento.
Ajoelhei-me na terra fria. O Blake era como o irmão que nunca tive. Sempre tinha estado lá para mim, sempre me tinha posto um sorriso na cara, sempre me tinha dado bons conselhos, sempre me tinha ajudado a perceber que não estava sozinha. Mas agora ele já cá não está e eu só reacionei ao ver a sua campa. É como se, até este momento, tivesse sido imune, como se o meu cérebro não tivesse conseguido processar o assunto e só agora compreendesse o que realmente se passava.
Blake tinha ido para não mais voltar.
Palavras não ditas, perguntas sem resposta, vontade de voltar atrás no tempo. Mas de que adiantava? Nada o poderia trazer de volta.
E pergunto-me: Como seria se esta guerra entre lobisomens e caçadores nunca tivesse existido. Blake estaria vivo, Ashley não estaria agora a esgotar a água do seu corpo e a sua energia a chorar, os nossos amigos não estariam silenciosos como estão e o meu coração não estaria em cacos no meio do chão.
Mas a guerra aconteceu e deixou marcas em nós. Não marcas físicas porque o braço onde Ashton levou uma facada e a perna onde Michael levou um tiro já tinham sarado, essas eram as feridas fáceis. As feridas psicológicas demoram a curar e deixam cicatrizes que não desaparecem.
E nós temos de aprender a viver com isso.
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San Francisco • 5SOS → Lobisomens ✔
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