Ashley
- Ashley. - a voz do meu pai acordou-me. - Está na hora de levantar. - abriu a persiana.
Grunhi levemente. Sabia que tinha de me levantar, mas a vontade era muito pouca. Por fim, abri os olhos e deixei-os adaptarem-se à luz que agora entrava pela janela, antes de me levantar da cama. Dei um beijo ao meu pai e fui vestir-me enquanto ele ia para a cozinha.
Ontem tinha deixado apenas a roupa de hoje fora das malas, o resto já estava no carro e muitas das coisas já tinham sido enviadas para o Canadá.
Mudar de cidade e de vida é difícil, mas, em alguns casos, necessário. Deixar a vida que tenho em São Francisco para trás e separar-me dos amigos que tenho é difícil, mas necessário.
Já não é a primeira vez que mudo de cidade. Aos treze anos saí de Bradford para vir para cá, para São Francisco. O meu pai foi informado à cerca da possível existência de uma alcateia na cidade e decidiu que era uma boa oportunidade para ele e que nos iria fazer bem afastarmo-nos daquela cidade que ainda tinha memórias da minha mãe.
Já aí me tinha custado mudar de cidade, mas agora é pior. Sou mais velha e tenho amigos aos quais me apeguei aqui, separar-me deles depois de tudo o que passámos no último ano, tudo o que fizemos juntos, todas as brincadeiras e perigos pelos quais passámos é uma coisa para a qual não estou preparada.
Olhei uma última vez para o quarto onde tinha dormido e passado uma grande parte do meu tempo nos últimos três anos. As paredes eram roxas e estavam agora despidas, depois de eu ter retirado os posters e fotografias que tinha colados. Iria ter saudades do meu quarto, mas não era o que mais me custava deixar. Depois de sair do quarto, com um último adeus silencioso, desci as escadas devagar, como se quisesse adiar o momento da partida, como se quisesse saborear a última vez que iria descer aquelas escadas, como se quisesse guardar tudo na memória. O caminho até à porta da entrada foi feito da mesma maneira, lenta e silenciosamente. Olhei mais uma vez para a sala e a cozinha e saí de casa.
O meu pai estava à minha espera no carro, já pronto para partir. Abri a porta de trás no carro e pousei a mochila, que continha as pequenas coisas que não tinha posto na mala anteriormente, no banco, antes de entrar para o lugar ao lado do meu pai.
- Estás pronta, Ashley? - ele ligou o carro.
- Acho que nunca estarei, mas sei que preciso disto. - olhei uma última vez para a casa, para a ver afastar e ficar mais pequena com a distância.
Depois de tudo o que aconteceu não poderia continuar nesta cidade. Ainda me pergunto se terei cometido um erro ao ter entrado na vida de caçadora durante aqueles meses... Agora deixei isso para trás, percebi que não conseguiria vingar a minha mãe ao matar lobos e isso nem paz na alma me traria. Por um lado, arrependo-me de ter embarcado naquela guerra e ajudado com ela, mas por outro, não me sinto mal por o ter feito. Aprendi algumas coisas enquanto lá estava, aprendi coisas que me ajudarão na vida, aprendi que lá por o sangue de caçadora me correr nas veias não significa que tenha de o ser, a minha mãe orgulhar-se-ia de eu ter aprendido isso, mas, acima de tudo, aprendi que os amigos verdadeiros perdoam os teus erros, compreendem os teus motivos e ajudam-te a ver a razão, mesmo que isso afete a tua relação com eles.
Ter perdido um Blake foi um preço alto a pagar, mas fez-me abrir os olhos. Nunca saberemos quando as coisas acabarão, por isso, devemos aproveitar todos os momentos e dizer tudo aquilo que queremos, porque amanhã pode ser tarde de mais. Havia muita coisa que queria ter dito ao Blake, muita coisa que não disse por cobardia ou segurança, segurança ao achar que o teria sempre aqui no dia seguinte para dizer o que não disse no momento. Poderia ter evitado muita coisa, poderia ter poupado muita coisa, poderia continuar a tê-lo aqui comigo, mas as coisas aconteceram e nada as poderá mudar.
Às vezes precisamos de alguma coisa forte e impactante para nos abrir os olhos, às vezes precisamos de sofrer para encontrar o propósito do sofrimento, às vezes precisamos de olhar para o nosso interior e pensar em tudo o que fizemos e tudo o que aconteceu para podermos seguir em frente.
Ao entrarmos no aeroporto avistei logo os meus amigos. Estavam todos juntos sentados nas cadeiras. Falavam alto e riam. Lembro-me de quando disse à Melanie para ter cuidado com o Ashton, o Michael, o Luke e o Calum e todos os outros por causa desse mesmo comportamento, por não terem medo de quem são e por se mostrarem sempre a si mesmos. Agora, acho tudo isso um comportamento nobre e corajoso, porque nós não devemos ter problemas em mostrar quem somos e devemos aceitar-nos a nós mesmos.
Definitivamente, aprendi muita coisa este ano.
As despedidas não foram longas, sabíamos que, de alguma maneira, nos voltaríamos a encontrar no futuro, sabíamos que iríamos continuar a manter contacto e sabíamos que seríamos sempre amigos, acontecesse o que acontecesse. Era como uma promessa silenciosa. Ainda assim, custava-me deixá-los e não evitei derramar algumas lágrimas, assim como eles. Já me tinha despedido de Blake ontem, também chorei. Ainda estou à espera do dia em que o vou visitar e não vou chorar.
Depois das despedidas entrei no avião e respirei fundo. Iria começar uma nova vida, mas não iria esquecer nada nem ninguém desta. Tudo o que aprendi me irá ajudar e aprenderei mais coisas. Todo o sofrimento valerá a pena um dia e tudo será melhor. Um dia vou olhar para trás e orgulhar-me do meu percurso, mas, por enquanto, só me resta esperar e aproveitar a nova fase da minha vida da melhor maneira possível.
Deixar tudo para trás e começar de novo é sempre assustador, mas ajuda-nos a ficar mais fortes.
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Hey,
Este é o primeiro extra desta história, digam-me a vossa opinião.
Se quiseres propor alguma coisa para um extra comentem para eu escrever.
O próximo será no ponto de vista do Theo.
bia xx
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San Francisco • 5SOS → Lobisomens ✔
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