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Melanie

A noite já tinha caído há algum tempo. Estava escuro e não se conseguia ver quase nada, pelo menos eu não conseguia ver quase nada. Luke estava sentado no chão ao meu lado. Tinha um braço por cima dos meus ombros e puxava-me cada vez para mais perto de si. O silêncio estava a matar-me, fazia-me pensar no que ia acontecer a seguir. Não conseguia ver nenhum dos meus amigos, mas sabia que estavam por perto, assim como o resto da alcateia e os caçadores. Estavam todos à espera do momento certo para agir e começar a "guerra" que sabíamos ser inevitável. Talvez estivessem todos a adiar o momento porque, a partir do segundo, em que alguém se levantasse e desse início a tudo, não havia volta a dar.

- Melanie? – Luke chamou. – O que vamos fazer amanhã?

Fiquei confusa. – Luke, nós não sabemos o que vai acontecer esta noite.

- Quero ser positivo. Recuso-me a pensar que vai acontecer alguma coisa que nos vai impedir de estar juntos amanhã.

- Temos de ser realistas, Luke.

- Acho que não quero ser realista neste momento.

Falávamos em murmúrios. Não queríamos ser nós a fazer com o que tudo começasse, e não fomos nós a fazê-lo.

Atrás de uma árvore uma coisa reluziu tenuemente à luz do Quarto Minguante, e, antes que alguém tivesse tempo de reagir, ouviu-se o som de um grito e o barulho abafado de um corpo a cair. Não foi difícil perceber o que tinha acontecido e, de repente, tudo se tornara mais real.

- Aconteça o que acontecer não quero que saias daqui, Mel, quero que fiques escondida.

- Luke...

- Promete-me, Melanie, não quero que corras ainda mais riscos, não ia suportar se te acontecesse alguma coisa.

- Eu não vou prometer uma coisa dessas, Luke. Não, não faças essa cara, não te vou fazer uma promessa que sei que vou quebrar.

- Porra, Melanie, eu tenho medo. – sussurrou a última parte.

- Eu sei. Eu também tenho.

- Já que não vais prometer ficar aqui escondida vai a correr ter com a Megan. - ele apontou para ela. – Mas tens de ser rápida, para reduzir a probabilidade de alguém vos ver.

- Eu vou. Também prefiro não estar sozinha.

Ele abraçou-me contra si e suspirou contra o meu cabelo. Não o queria largar, não queria mesmo nada soltá-lo. Ele afastou-se ligeiramente e beijou-me, um beijo com urgência e receio, um beijo que não sabíamos se seria o último.

- Amo-te, Melanie. – murmurou contra os meus lábios.

Senti a respiração ficar-me presa na garganta.

- Amo-te, Luke.

Sabia que o amava. Tudo o que sentia era demasiado forte e sem explicação.

O transe em que estávamos foi interrompido por Daniel que veio até nós, a correr, e disse a Luke que estavam a precisar de ajuda.

Ele deu-me um beijo na testa e foi até onde Blake e Calum estavam com três caçadores para os ajudarem.

Corri o mais depressa que podia até ao sítio onde Luke me tinha dito que Megan estava. Ela estava bem camuflada, tanto pelo escuro como pela vegetação, eu quase não a conseguia vislumbrar e sabia que Luke só o conseguia fazer por causa da sua visão de lobisomem.

Nenhuma de nós disse nada quando me sentei ao seu lado. Não havia nada que pudéssemos dizer.

Fechei os olhos e tapei os ouvidos com as mãos, na esperança de não ter de ver ou ouvir o que estava a acontecer à minha frente. Não me valia de nada.

Não sabia quanto tempo tinha passado desde que fechara os olhos, se tinham sido apenas segundos, se tinham passado minutos ou se até já tinham passado horas.

Quando abri os olhos o cenário não tinha mudado. Os caçadores e os lobos continuavam a lutar, uma guerra que ninguém sabia quando ia acabar. Mas, mesmo que nada tivesse mudado, foi como se o meu mundo tivesse parado.

Luke estava de costas, a tentar ajudar Theo que tinha um caçador ao seu lado mas, ao estar atento ao rapaz em perigo à sua frente, não reparou na tia de Ashley que estava atrás de si com uma pistola na mão.

As minhas pernas ganharam vida e mexeram-se sem eu me aperceber, como que por instinto. Era consciente das mãos de Ashley a tentarem agarrar-me e impedir-me de ir até lá, mas soltei-me e corri.

Corri.

Corri o mais que podia.

Gritei o seu nome.

Só parei quando estava entre si e a arma.

A tia de Ashley disparou.

Ouviu-se um grito do meu nome.

Senti-me ser empurrada.

Um peso em cima do meu corpo.

E tudo parou...