→T h i r t y N i n e←

606 54 2
                                    

pessoa

Blake caminhou até ao carro que o pai lhe tinha oferecido como prenda dos seus dezoito anos, um mês antes de ter vindo para São Francisco. Tinha uma missão a cumprir. Iria manter Ashley ocupada e, quem sabe, conseguir alguma informação. Blake não era pessoa de se exaltar nem de se irritar muito, conseguia manter a calma em quase todas as situações e nunca entrara em zaragatas ou confusões. Mas, a verdade, é que há sempre qualquer coisa na vida de uma pessoa que a faz alterar os seus princípios. Essa altura chegara para Blake. Desde que Melanie dissera ao telefone que Ashley era caçadora que ele estava a tentar controlar toda a sua irritação. Mesmo que Melanie não o tivesse dito ele percebera logo que só havia um motivo para Ashley se ter aproximado deles e ter começado a namorar com ele. Para conseguir informações e ganhar a sua confiança para depois atacar.

Estacionou à frente de casa de Ashley e respirou fundo. Tinha de se acalmar antes de sair do carro, a última coisa que precisava era de deitar o plano – que já não era muito bom, - pelo cano abaixo. Quando percebeu que estava mais controlado, saiu do carro e foi até à porta da entrada. Tocou à campainha. Ashley demorou um minuto a abrir.

- Ashley, olá. Estás linda.

Apesar de Blake não o querer assumir, não podia negar a si mesmo que Ashley era uma rapariga atraente.

- Obrigada, Blake. – Ashley trancou a porta atrás de si.

- O teu pai não está em casa? – Blake tentou arranjar informações.

- Não, está a... tratar de uns assuntos. Porque perguntas?

- Por nada, trancaste a porta e, nas outras vezes em que te vim buscar, era sempre ele que me abria a porta. – Abriu a porta do carro para ela entrar.

- És um rapaz observador. – Ela comentou.

Antes de entrar no carro, Blake mandou uma mensagem rápida a Michael a dizer que a casa estava vazia. Tinha-lhes dito que mandaria a mensagem se soubesse se estava alguém em casa ou não.

- Então, Ashley, como foi o jantar com os colaboradores do teu pai? – Blake pôs o carro a trabalhar.

- Foi bom. A Melanie e a Megan também lá estavam por isso não me aborreci.

- A Megan também foi? – Blake fingiu que não sabia.

Fez a curva para sair do bairro onde morava Ashley, ao longe viu o carro preto de Ashton aproximar-se da casa.

- Foi. Não sabias?

- Não. A Melanie já nos tinha dito, mas a Megan não.

- Ainda não estiveste com elas hoje?

- Não. – "Falsa" pensou Blake. – A propósito, essa cor fica-te bem no cabelo. – Ashley tinha pintado a cabelo de lilás nesse dia.

- Já estava cansada do azul. Foi a Melanie que me ofereceu a tinta como prenda de Natal.

Blake quase bateu com a cabeça no volante devido à ironia da cena. Sabia que ia ser difícil controlar-se durante o encontro. Estava irritado e magoado com a rapariga sentada ao seu lado no carro, ia ser complicado não deixar esses sentimentos à vista.

***

Ashton parou o carro a algumas casas de distância da casa de Ashley.

- Sinceramente, tenho quase a certeza que elas não estão aqui. – Calum abriu a porta do carro. – Ia ser estúpido.

- Verdade. – Michael concordou. – A Ashley saiu com o Blake e ele disse que a casa estava vazia. Não as iriam deixar sozinhas, sem vigilância.

- Bem, temos de entrar lá, podemos descobrir alguma coisa.

Apenas Ashton, Michael, Calum e Luke estavam no carro e encarregues a revistar a casa. O resto do grupo tinha ficado, de certa forma, a dar apoio aos pais de Megan e Melanie. Sabiam que eles tinham mais perguntas para lhes fazer quanto ao assunto "lobisomens" e estavam dispostos a responder a todas.

- Alguém sabe como é que vamos entrar numa casa fechada?

A verdade é que nenhum dos quatro sabia como o fazer. Não eram ladrões e nunca tinha sequer pensado em assaltar uma casa.

- Temos de ter cuidado. – Luke olhava para uma casa do outro lado da rua. – Não queremos que os vizinhos desconfiem de alguma coisa.

- Os vizinhos não vão ver nada, Luke.

- Diz isso à mulher que está a olhar para nós desde que saímos do carro, Ashton.

Ashton olhou, disfarçadamente, para onde Luke estivera a olhar previamente. Baixou a cabeça e murmurou entre dentes que Luke tinha razão. Michael e Calum começaram a tagarelar, mais alto do que seria recomendável para alguém que queria entrar numa casa à socapa.

- O que é que vocês estão a fazer? – Ashton olhou para eles severamente.

- A tentar não parecer suspeitos, estúpido. – Michael respondeu-lhe para logo depois voltar à sua conversa com Calum.

Calum piscou o olho e passou o braço à volta dos ombros de Michael, encostando-se ainda mais a ele.

- Segue o que eu faço, Mike, acho que sei como fazer a mulher entrar para casa.

Calum deu um beijo no topo da cabeça de Michael e este, percebendo a intenção do amigo, aninhou-se no peito dele.

- Desculpem. – Ouviram chamar. – Vocês os dois estão assim agarrados... porquê exatamente? – A mulher do outro lado da rua perguntou-lhes.

- Já não posso abraçar o meu namorado? – Calum olhou para ela com uma sobrancelha arqueada.

- Vocês na-namoram?

- Sim, algum problema com isso?

- N-Não, claro que não.

- Ainda bem. – Calum sorriu sarcasticamente enquanto viam a mulher entrar dentro de casa.

Michael afastou-se logo de Calum. – Como é que sabias que isso ia resultar.

- A mulher tinha quê... sessenta e tal anos? Tinha quase a certeza que ver um "casal" gay lhe ia fazer confusão. – Fez aspas com os dedos em casal.

- Bem, ainda bem que resultou. Está uma janela aberta na parte de trás da casa. – Ashton apareceu atrás deles.

- Nem te tínhamos visto afastar.

Os quatro deram a volta à casa com o cuidado de não serem vistos por vizinhos ou alguém a passar pela rua.

- Acho que é melhor não entrarmos todos. – Calum olhou pela janela. – Pelo menos um de nós tem de ficar cá fora para avisar quem está dentro se alguém estiver a chegar.

- Eu fico fora. – Michael prontificou-se. – Aproveito e passo o nível que me está a dar dor de cabeça neste jogo. – Apontou para uma das aplicações do seu telemóvel.

- Como queiras, Michael, mas não estejas só atento ao jogo. Não ia ser agradável ser apanhados em flagrante.

- Não se preocupem. Se eu vir o Blake a chegar, ou alguém a olhar muito para aqui, ou qualquer outra coisa suspeita, eu mando mensagem a um de vós. Confiem em mim.

Eles olharam uns para os outros e acenaram, entrando logo de seguida, um a um, pela janela aberta. Ainda ouvindo Michael murmurar "Que bela maneira de passar o Natal!". Não podiam evitar concordar com ele.

San Francisco • 5SOS → Lobisomens ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora