Melanie
Quando acordei os raios de Sol já espreitavam por entre as cortinas. Luke ainda dormia ao meu lado. O passar das horas tinha tirado as marcas de choro do seu rosto, mas a sua testa continuava franziada com preocupação. Dei-lhe um beijo no topo da cabeça e levantei-me lentamente da cama, queria que ele dormisse o mais possível. Saí do quarto dele e desci as escadas com um suspiro.
- Bom dia. - Cumprimentei ao chegar ao fundo das escadas.
- Bom dia, querida. - Liz respondeu da cozinha. - Já conheces o Andrew.
- Olá, Melanie. Como está o Luke?
- A dormir. Ontem quando subi para o quarto dele, ele já tinha adormecido. Tinha estado a chorar. - Aceitei a taça de cereais que Liz me entregou. - Custa-me vê-lo assim.
- A nós também, mas é bom saber que estás cá para ele.
- Eu estarei cá sempre que ele precisar. Mesmo que as coisas entre nós acabem.
Acabei de comer e pedi uma aspirina a Liz. Luke tinha adormecido a chorar, tinha a certeza que a cabeça doer-lhe-ia ao acordar. Depois de Andrew ter saído para trabalhar e Liz ter ido tomar duche voltei a subir até ao quarto de Luke.
Ele continuava a dormir. Mas não era um sonho pacífico como quando eu tinha saído do quarto. O seu corpo mexia-se na cama, dava voltas e mais voltas, a sua expressão era assustada e murmurava palavras que eu não conseguia entender. Aproximei-me devagar e abanei-o ligeiramente. Nada aconteceu. Chamei o seu nome. Não ouviu. Deitei-me ao seu lado, já desesperada para o acordar, e abracei-o contra mim. Não queria saber se ele se continuava a mexer e me estava a magoar, apenas o queria acordado.
- Luke, acorda, por favor. - Mexi no seu cabelo e dei-lhe um beijo na testa.
Ele acordou com um grito abafado. Os seus olhos estavam rasos com lágrimas e o meu coração partiu mais um bocadinho ao vê-lo assim.
- Melanie, Melanie, Melanie. - Ele murmurou como se dizer o meu nome o fosse salvar.
Tentei controlar o meu próprio choro, guardar as lágrimas dentro de mim, não o queria ver pior. Abracei-o com força enquanto sussurrava "Estou aqui" no seu ouvido. Ele precisa de alguém e eu estou aqui para ele. Quero que saiba isso, agora mais que nunca.
- Luke, foi só um pesadelo, não é real. - A frase cliché saiu da minha boca.
Afastei-o ligeiramente de mim para poder olhar para a sua cara. Estava a chorar, olhos arregalados, inchados e vermelhos, marcas de lágrimas na cara, transpirava e tinha um ar assustado.
- Luke. - Pus uma mão em cada uma das suas bochechas e limpei as lágrimas com o polegar. - Olha para mim. - Supliquei.
- Mel.
Deitei-o na cama e tapei-o apenas com o lençol. Sentei-me ao seu lado e comecei as mexer nos seus fios de cabelo, queria que ele alcalmasse.
- Respira fundo, amor. - Ele tentou. A sua respiração saía entrecortada e pequenos soluços escacapavam.
Desviei o cabelo que se tinha colado à testa dele com o suor. Ele estava tão indefeso e vulnerável, não o queria ver assim. Nunca.
Os seus olhos, até aqui abertos e assustados, começaram a fechar. A sua respiração acalmou e ele adormeceu. Tinha medo que ele voltasse a acordar com outro pesadelo, não seria capaz de lidar com outro sem eu própria desabar em lágrimas. Deixei-me estar ao seu lado durante algum tempo, queria ter a certeza que ele estava a dormir bem. Só depois me levantei.
Voltei a descer as escadas e sentei-me no sofá da sala. Pousei os cotevelos nos joelhos e enterrei a cara na mão.
- Melanie, querida, o que se passa? - Liz sentou-se ao meu lado e pôs uma mão no meu ombro.
- Ele teve um pesadelo. - Suspirei. - Quando cheguei ao quarto dele estava a nexer-se na cama. Consegui que ele acordasse mas... ele estava tão assustado. - Engoli em seco. - Só dizia "Melanie, Melanie, Melanie". Partiu-me o coração.
- Oh, Melanie, podias ter-me chamado.
- Nem me lembrei. Só sabia que o queria acordado.
- Anda cá querida. - Liz abriu os braços.
Abracei-a e deixei de conseguir conter as lágrimas. Liz cheirava a baunilha e maçãs verdes e o seu abraço era reconfortante e maternal. O tipo de abraço que alguém precisa depois de uma situação destas.
- Eu agradeço-te tanto por tudo o que estás a fazer pelo meu filho. Fico tão contente e aliviada por saber que ele se apaixonou por uma rapariga como tu.
- Não tem de me agradecer, Liz, eu faria qualquer coisa por ele. Qualquer coisa.
- Isso tem limites, Melanie, não quero que corras riscos por mim. - Afastei-me de Liz e olhei para o fundo das escadas.
Luke estava lá. Tinha um ar cansado mas estava melhor do que da última última vez que acordou.
- Luke. - Levantei-me e abracei-o com força.
- Mel, estou bem.
Afastei-me ligeiramente dele e dei-lhe um murro leve no braço.
- Ou, para que é que foi isso? - Resmungou enquanto esfregava o sítio onde lhe tinha batido.
- Não me voltes a assustar assim. Porra, Luke, tu não me respondias, só repetias o meu nome vezes sem conta. - Voltei a abraçá-lo.
- Como estás, filho? - Liz pôs-lhe uma mão no ombro.
- Melhor. - Ela deu-lhe um beijo no topo da cabeça.
- Vem tomar o pequeno almoço. - Liz voltou para a cozinha.
Ele apertou os meus braços: - Hoje é véspera de Natal. Passaste cá a noite e tens um jantar logo. Devias ir para casa, Mel.
- Não te quero deixar.
- Eu fico bem. A minha mãe está de férias, ela fica comigo.
- Luke...
- Não, Mel. - Ele cortou. - Tu vais ao jantar e vais divertir-te. Não te preocupes comigo. Amanhã vou a tua casa de manhã.
- Mas...
- Já te avisei, Melanie, não há mas nem meios mas. Vais e acabou.
- Qualquer coisas ligas-me e eu venho ter contigo.
- Sim, sim, claro. - Revirou os olhos.
- Estou a falar a sério.
- Eu também.
- Estás a tentar irritar-me, Luke?
- Não. Estou a tentar fazer-te ver que vou ficar bem. Nada de mal me vai acontecer.
- Promete que sr acontecer me ligas.
- Eu prometo, chata.
Ele beijou-me uma última vez antes de me levar até à porta.
- Descansa, e não penses demasiado nas coisas. Quero que estejas bem. - Abracei-o.
- Não te preocupes. A minha mãe vais estar sempre de olho em mim.
- OK, então. - Dei-lhe um beijo na cara. - Diz adeus à tua mãe por mim.
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San Francisco • 5SOS → Lobisomens ✔
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