Capítulo 24

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Território Canídeo

Quando Hendrik voltou mais cedo para casa não tinha ninguém, estava totalmente triste e preocupado, mas simplesmente não podia fazer nada.

Sentou-se no sofá e passou a mão sobre os olhos, que agora insistiam em querer liberar água. Queria gritar, dar socos e chutes em alguém. Por que aquilo teve que acontecer? A amizade dos dois estava ótima. E por que ele tinha que criar sentimentos maiores que amizade? Isso está errado, não é justo.

Quando estava prestes a deixar as lágrimas escorrerem ouve a porta da cozinha sendo destrancada. Levantou-se rapidamente e ficou em modo de ataque até que Lizzie entra e se assusta com o lobo. Quando percebe que era a garota, relaxa os músculos e volta a sentar-se no sofá, cansado.

— Que... Que susto Hendrik, não sabia que já estava em casa - diz a menina colocando umas sacolas em cima da mesa — sua mãe ligou e pediu para eu ir ao mercado.

Hendrik apenas ouvia, nada respondia, coisa que preocupou Lizzie. A garota foi lentamente em direção ao sofá e encarou o lobo que estava todo jogado no mesmo e com a ponta do nariz avermelhada provavelmente por segurar o choro.

— Hendrik, está tudo bem? - pergunta a menina preocupada.

— Sim, só me deixa em paz - responde o moreno.

— Se precisar de alguma coisa, estou aqui para ajudar.

Um silêncio se instala no ambiente e apenas era possível ouvir a respiração de ambos. Hendrik pensou em fazer uma coisa, seria muita sacanagem, mas ele iria fazer.

— De verdade? - pergunta ele abrindo os olhos e encarando-a. Lizzie teve a sensação de receber uma descarga elétrica pelo corpo todo quando seus olhos entraram em contato com os olhos verdes de Hendrik.

— S... Sim - respondeu a menina sentindo as pernas tremer.

Hendrik a encara por mais algum tempo, se levanta lentamente e vai em direção a garota, apesar de estar assustada Lizzie não se afasta, queria ver até onde aquilo iria. Não cortaram o contato com os olhos em nenhum momento. Hendrik fica frente a frente com a menina, olhando para baixo enquanto ela olhava para cima, pois Hendrik era maior que ela.

— O... O que você precisa, Hendrik? - pergunta Lizzie.

Depois que começou a se encontrar com Zachary, Hendrik percebera que não estava transando com tanta frequência, então depois dessas palavras ditas pela mabeco, agarrou seus lábios finos levemente molhados de gloss, e a beijou.

Lizzie, primeiramente, ficou em choque com o ato inesperado, mas logo em seguida respondeu. Hendrik passou as mãos pela cintura da garota e a segurou forte, Lizzie passou seus braços no pescoço do garoto.

Hendrik começou a andar devagar, mas sem quebrar o beijo, Lizzie não protestou e deixou o lobo a guiar para aonde ele quisesse a levar. Hendrik entra em seu quarto e tranca a porta, deita Lizzie na cama e volta a beija-la.

...

Lizzie conseguiu o que queria. Mas não foi do jeito que sempre imaginou que seria. Hendrik não estava todo entregue. Ele estava ali, mas parte dele não estava. Mesmo depois de ter feito ele continuava com a mesma expressão de frustração.

Hendrik estava sentado na ponta da cama com os cotovelos apoiados na coxa e as mãos sobre o rosto. Estava nu, porém um pouco do lençol estava cobrindo seu colo. Lizzie também estava nua. Eles tinham acabado de fazer, e pela primeira vez Hendrik estava se sentindo mal por ter abusado dos sentimentos de alguém.

Lizzie sentou-se e foi em direção a Hendrik. Apoiou seu queixo no ombro do menino e ficou lá por alguns segundos. O lobo respirou fundo. Não era para ser assim, pensou.

— Hendrik - disse ela.

— Me desculpa - disse ele.

— Hendrik, o que aconteceu? - pergunta Lizzie ainda apoiada com o queixo no ombro do moreno.

— Eu não sei - sua voz saiu trêmula.

— Hendrik, você me usou, não é? - o menino nada responde — isso foi covarde da sua parte, sabia? Isso prova que você ainda é um moleque, você sabia dos meus sentimentos, mas não se importou, apenas queria tirar essa dor de dentro de você, mas adivinha? Ela continua ai, não é? - mesmo com essas palavras duras, a voz de Lizzie ainda continuava suave como se ela estivesse recitando um poema sobre amor.

Hendrik apenas assentiu com a cabeça, sabia que estava errado então não retrucou as palavras da menina. De alguma forma os dois se entendiam, ambos rejeitados.

— Agora vai me falar o que aconteceu? - pergunta ela.

— Não quero falar sobre isso, só... Desculpa.

O silêncio pairou no lugar. A menina levou sua mão aos cabelos pretos como a noite que o seu amado possuía e começou a fazer carinho. Não ia perder a oportunidade, não sabia quando iria ter a chance de fazer isso de novo, provavelmente nunca, então não podia perder a chance.

Depois de perceber que a garota realmente gostava e se importava com ele, resolveu falar.

— Eu gosto de uma pessoa - fala Hendrik, como Lizzie não diz nada prosseguiu — eu... eu beijei essa pessoa, poderia dizer que foi um beijo forçado, porém não foi, porque ela poderia ter evitado, mas ela simplesmente correspondeu o beijo e não me afastou, mas depois que nos separamos ela ficou brava comigo, como se a culpa fosse toda minha.

— Hendrik, eu sinto muito - diz a garota verdadeiramente triste pelo seu amado, sabia como era ser rejeitado.

— E agora eu tenho certeza que não verei mais esta pessoa - disse o menino tristemente.

— Se você disse que ela correspondeu e não te afastou, quer dizer que existe a possibilidade de ela gostar de você, você tem apenas que dar tempo a ela.

— Mas como eu saberei se ela vai ao mesmo local de sempre? - pergunta Hendrik mais para si mesmo do que para a garota.

— Manda uma mensagem.

— Ele não me responderia.

Ele? - pergunta Lizzie como se não tivesse entendido. O coração de Hendrik dispara e a garota consegue ouvir. Como já estava se abrindo com a menina resolve contar tudo, bom, quase tudo.

— Sim, ele, é um garoto. Mas não me considero gay, ele é o único garoto que senti atração. Na verdade nunca fui contra, acho que as pessoas vivem como querer, sabe? Porém me pegou de surpresa quando isso aconteceu justo comigo.

— Hendrik, não é o fim do mundo. Muitos amigos do meu irmão são gays, você não está sozinho, e também não existe apenas gays e héteros no mundo, tem os bissexuais.

— Mas eu não sei se ele é, eu tenho certeza que não, já conversamos sobre esse assunto de pegar mulher, e ele já me falou que fica só com mulher.

— Bom, se não era gay ou bissexual pode ter virado - disse a garota rindo.

— Ninguém vira gay ou bissexual, a pessoa já nasce, que nem hetero.

— Vai ver ele é um caso diferente ué - ela ri fazendo o moreno rir — mas também pode ser que ele sempre foi e você despertou "isso" nele - a garota fez aspas com os dedos.

— Mas mesmo que ele fosse, seria impossível para nós dois - se referiu ao fato de ser canídeo e ele felino, mas não falaria isso para Lizzie.

— Não fala assim Hendrik, tudo pode mudar.

— É - riu tristemente — me desculpa Lizzie, por usar seus sentimentos para meus caprichos e como você disse, a dor ainda está aqui, não foi embora.

— Tudo bem, Hendrik, te perdoo, mas só porque você está passando o mesmo que eu - diz Lizzie e Hendrik sorriu triste mesmo.

— Me desculpa, de verdade - Hendrik abraça a garota bem forte e a mesma corresponde. Hendrik teve de se segurar muito para não chorar no ombro da menina.

Entre Presas e Garras: Wild - 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora