Tudo estava em branco e preto, como aqueles filmes antigos. Estava chovendo, um clichê de funerais. A minha frente está um caixão branco com uns detalhes bonitos com intensão de deixar o momento menos dolorido. O caixão não estava aberto, apenas uma parte onde mostrava o rosto de meu amigo, Isaac. Por incrível que pareça ele estava sereno, como se tivesse falecido de forma calma. Seu nariz estava tampado com algodão. Seu corpo, que não era visível, estava coberto por um terno branco, e em volta havia várias flores que eu não faço ideia de como chamam, aposto que Isaac também. As flores tinham cores, porém eu não sabia quais eram, pois as únicas cores que vejo é o branco, o preto e o cinza, surpreendo-me por saber a cor da roupa que Isaac está vestindo e o caixão em que ele foi colocado. Tudo passava rápido por meus olhos, o momento em que iam colocar o caixão no buraco voltou a velocidade normal, via pessoas com rostos familiares se aproximando da cova e jogando alguma flor lá dentro. Ouvi minha mãe falando alguma coisa em meu ouvido, porém não entendi o que é, abaixei meu olhar para minhas mãos e percebi que segurava uma rosa, ela era vermelha, era o único objeto que eu conseguia ver uma cor diferente do preto, branco e cinza. Acho que minha mãe estava me falando para jogar a flor no buraco onde meu amigo estava sendo enterrado, mas eu simplesmente não conseguia me mover, eu não tinha forças para nada, eu não conseguia falar, gritar nem chorar, eu estava apenas existindo, eu não queria estar aqui.
Território Canídeo
Zachary abre os olhos, senta-se na cama. Estava tudo escuro, porém conseguia ver onde estava. Olhou para o lado e viu Hendrik dormindo de bruços. Respirou fundo e coçou os olhos, ao fazer isso sentiu os mesmos molhados. Ao lembrar-se do motivo começou a chorar. Hendrik acorda assustado.
— O que foi Zachary, o que aconteceu? - pergunta o lobo preocupado.
— Eu sonhei com Isaac, na verdade não foi bem com ele, foi com o funeral dele.
— Eu sinto muito - Hendrik abraça Zachary.
— Esses sonhos são as únicas lembranças que eu tenho do funeral dele. Eu realmente não me recordo de muita coisa.
— Provavelmente você estava muito perturbado com tudo aquilo, e também pode ser que seus pais tenham lhe dado um calmante ou algo do tipo.
— É, deve ter sido isso.
Permaneceram no abraço em silêncio, Zachary puxou Hendrik mais para perto de si, se sentia protegido. Hendrik percebeu que o leão bocejou, provavelmente ainda estava com sono, já que nem amanhecera ainda.
— Vem, vamos voltar a dormir - falou Hendrik enquanto deitava e puxava o corpo de Zachary para deitar em seu braço.
Zach se acomodou e passou o braço sobre a cintura de Hendrik, respirou fundo e fechou os olhos, esperando o sono tomar conta de seu todo.
Território Felino
Apollo permanecia em silêncio enquanto ouvia a mãe gritar e chorar desesperada. O futuro líder havia contado que tinha ajudado o irmão a passar para o outro lado para que pudesse encontrar com o lobo. Não responderia nada para os pais, pois sabia que era o errado da história.
Olhou para o lado e viu Bali olhando para o chão totalmente perdido em seus pensamentos, Apollo tinha medo dos planos do pai para atacar os canídeos, já que o mesmo havia dito que não ia deixar a morte de Isaac passar em branco sem ser vingada. Olhou para a escada e viu Caleb encolhido no topo ouvindo as palavras grosseiras que Cherish estava proferindo.
— Foi por causa daquele maldito canídeo que o Isaac morreu - Apollo ouviu sua mãe falar — se seu irmão não tivesse o conhecido nós estaríamos perfeitamente bem, e agora você quer repetir isso de novo ajudando ele a encontrar o desgraçado de novo?
Apollo sabia que para sua mãe estar usando nomes feios para definir o lobo era porque estava muito irritado. Respirou fundo e levantou-se indo em direção a ela.
— Mãe olha para mim - disse tocando no ombro dela.
Cherish virou-se e deu um tapa no rosto de Apollo que produziu um estalo alto, o mais velho nem demonstrou reação, sabia que merecia. Levantou o olhar para o irmão mais novo e o mesmo estava com as mãos sobre a boca. Bali nem olhou em direção a esposa e ao filho.
— Mãe, por favor, eu quero que se acalme, você precisa se acalmar, pelo Caleb!
A senhora Nikolaevich olhou para escada onde viu o filho mais novo com lágrimas nos olhos. Caleb sempre fora o filho mais sentimental que chorava fácil. Cherish secou as lágrimas com a palma da mão, simplesmente ignorou a presença do filho mais velho e foi direto para a escada subindo-as e indo abraçar seu caçula.
Apollo respirou fundo e voltou a sentar no sofá, Bali deu uma última olhada para o filho e subiu as escadas também. Não vai ser fácil, pensou Apollo.
Território Canídeo
Os Gandares estavam preocupados com Hendrik, já era de tarde e o menino não havia retornado para casa. Violeta já tinha conversado com Alishie, mas nem mesmo a garota sabia onde o melhor amigo estava, e após descobrir que o mesmo tinha sumido ficou preocupada também.
— Ele está atendendo ao telefone? - perguntou Alishie.
— Não - respondeu Violeta — já tentei diversas vezes e sempre da que o celular está desligado.
— Mas então quer dizer que ele levou?
— Sim, levou, não está no quarto dele.
— Então acho que ele da algum sinal de vida - disse Alishie tentando ser confiante.
A ruiva ficou encarando o celular pensando nos lugares que o amigo poderia estar, Violeta disse que já foi na polícia, hospital e até mesmo na escola. Alishie pensou muito até chegar a uma conclusão.
— E se ele, de algum jeito, não foi tentar encontrar Zachary, digo, o felino?
— Não sei, ele não seria capaz.
— Senhora Gandares, o seu filho está apaixonado, ele já é meio sem noção, com certeza seria capaz de loucuras, afinal, desde quando eu o conheço ele nunca se apaixonou, então é um sentimento novo e dolorido para ele.
Violeta encarou a menina e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu não me importo se ele é gay ou não, mas por que teve que se apaixonar justamente por um felino?
— Senhora, a gente não manda no coração, vai ver esses dois tiveram que se apaixonar para poder acabar com essa briga entre felinos e canídeos.
— Isso é impossível, não vai acabar só porque dois jovens inconsequentes se apaixonaram um pelo outro.
— É, a senhora tem razão, é algo muito impossível acabar essa briga só para os dois ficarem juntos, contanto que não os peguem de novo.
O celular de Violeta apita indicando que havia chegado uma mensagem.
— É de Hendrik!
A mensagem dizia:
Mãe, eu sei que a senhora está preocupada comigo, mas, por favor, não fique, eu estou bem, realmente bem, não sei quanto tempo vai demorar até eu voltar para casa, só te peço para não alertar os policiais, eu amo você e o papai.
Violeta deixou as lágrimas caírem novamente e Alishie a abraçou forte.
— Onde está o senhor Nicholas? - perguntou a ruiva.
— Ele foi procurar por Hendrik no centro, mas já vou ligar para ele avisando que não é mais necessário.
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Entre Presas e Garras: Wild - 1ª Temporada
WerewolfUm universo alternativo onde o mundo é dividido em duas partes: os seres humanos felinos e os seres humanos canídeos. Vive cada um no seu canto com seu território. Cada povo com suas regras e ideologias, cada grupo em seus respectivos lugares sem co...