Prólogo

590 43 48
                                    

Para alguns pais, o maior privilégio de suas vidas é acompanhar cada passo de seu filho, ver o desenvolvimento de seu pequeno milagre, ao caminhar, falar, ler, andar de bicicleta, descobrindo o mundo a sua volta, e protege-los das maldades do mundo ao seu redor, de todo e qualquer perigo.
Porém, nem todos os pais apreciam esta atividade, ou a encaram como algo maravilhoso. Para alguns um filho é apenas um acidente, obra do acaso ou descuido, uma obrigação, a continuidade de um nome. Seja como for, nem todos encaram seus filhos como bênçãos, milagres, alegrias.

Para Lizzie a mansão onde nasceu não passava de uma prisão, talvez um quartel, onde sua mãe era o general.

 Para Lizzie a mansão onde nasceu não passava de uma prisão, talvez um quartel, onde sua mãe era o general

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

- Sente-se corretamente Elizabeth! Não coma assim! Pare de correr! Quando vai entender que é a filha de um Lord? Que precisa portar-se como tal.
- Muito chato ser filha de um lord, é muito mais divertido ser um macaco. - disse sorrindo, deixando sua mãe a beira de um desmaio.
Com esta simples frase infantil, ela foi enviada para seu quarto, onde comeu apenas um caldo e ficou sem sobremesa, para aprender a ser mais respeitosa.

- Não entendo Lucy - ela choramingava no colo de sua babá - só arvores ficam paradas por tanto tempo. Eles não gostam de mim. - A carinha dela era de cortar o coração, mas Lucy dizia apenas que ela precisava aprender a se comportar e tudo ficaria bem. A verdade é que ela não era capaz de entender como eles poderiam ser tão duros com uma criança.
Não conseguia entender, na maior parte do tempo, os pais de Lizzie agiam como se a menina nem existisse, e quando a notavam, era apenas para dizer o quanto a menina era inadequada. A noite na cozinha os empregados se reuniam e sempre falavam a respeito, criticando a forma odiosa como eles criavam a menina.

Victória Catherine Edwards, era uma dama da alta sociedade londrina, que levava todos a seu redor com mãos de ferro, e muitas vezes isso incluía sua filha de apenas 6 anos.
Ela era uma mulher ruim?
Talvez dependa do ponto de vista de cada um. Ela queria o melhor para sua filha, e para sua família, foi criada para ser o que de fato transformou-se, a esposa de um homem importante, e cuidava dos interesse de sua família. Seu marido, Paul Willian Edwards III era um famoso diplomata, e membro da câmara dos Lordes, que seguindo a fiel tradição de sua família, casou-se e deu continuidade gerando uma herdeira, queria um menino, mas Deus quis que Elizabeth Victória Edwards fosse sua única filha, então limitou-se a aceitar sua sorte, e fez o que os Edwards faziam há mais de 300 anos, contratou uma babá com excelentes qualificações, a senhorita Lucinda Abbot Jones,  e quando ela atingiu a idade de 5 anos, colocou-a em um internato. Isso permitia a ele e sua esposa comparecer a eventos políticos e sociais sem interferências, ou inconvenientes.
Por parte deles, Lizzie não conhecia o afeto, ou o carinho, para seus pais,  sentimentalismos eram demonstrações vulgares, que apenas pessoas de classe baixas faziam. Porém, a doçura, e peraltice de Lizzie, roubava os corações por onde passava, com seus cabelos cor de cenoura, e sardas que se espalhavam por suas bochechas e nariz, ela encantava os empregados da mansão, e algumas funcionárias do colégio em que estudava. Assim, apesar da pouca assistência de seus pais, ela era muito amada, e mimada por todos.
Aos 6 anos de idade, ela já falava inglês e francês com a mesma fluência, pintava, fazia ballet, tinha aulas de piano e violino, sua agenda era tão cheia quanto a de seus pais, mas nos finais de semana, aqueles em que eles estavam viajando, ou seja, na maioria das vezes, ela era criança, apenas uma menina travessa, cheia de energia, que adorava subir em árvores e correr.
Pode ser que para muitos, a vida cheia de privilégios e riquezas dela, era perfeita, mas quando vista bem de perto, era bem triste. Suas férias, feriados, e datas comemorativas, na maioria das vezes era compartilhada com sua babá, que ela chamava de Lucy, quando seus pais não estavam perto, e os empregados da mansão, pois seus pais sempre estavam viajando, ou ocupados, não achavam correto levar sua filha de um lado a outro, e sempre diziam que Lizzie poderia acompanha-los apenas quando crescesse e aprendesse a comportar-se em público, pois como figuras da sociedade, eles tinham uma imagem a zelar. Ela nunca soube o que eram reuniões familiares, ou festas em família, e o máximo que recebia de atenção de alguém de seu próprio sangue, era sua quando visitava sua avó paterna, no asilo em que ela morava.


Não muito distante dali, em uma pequena e praticamente desconhecida cidade chamada Danbourshire, que ficava próximo a Costwolds, um menino tinha uma vida totalmente diferente. 


Charles Henrique Mackenzie, em seus 7 anos de idade, corria por toda a fazenda quase o dia todo, montava cavalos, subia em árvores, cuidava de animais feridos, perturbava seu irmão mais velho, e enlouquecia sua mãe

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Charles Henrique Mackenzie, em seus 7 anos de idade, corria por toda a fazenda quase o dia todo, montava cavalos, subia em árvores, cuidava de animais feridos, perturbava seu irmão mais velho, e enlouquecia sua mãe. Ele era inquieto e agitado, mas ao mesmo tempo carinhoso e bondoso. Sua vida poderia não ser luxo e riqueza, apesar de terem uma excelente situação financeira, seus pais levavam uma vida simples no campo, criando cavalos, e cultivando alguns alimentos na terra. Sua família era grande, e boa parte escocesa, não tinham o menor problema em dizer o quanto se amavam, e desde sempre aprendeu a dar valor ao relacionamento familiar. Em feriados e datas comemorativas, sua família reunia-se na maioria das vezes na fazenda Mackenzie na Escócia, onde ele via seus primos, e amigos, e parentes, e amigos de parentes, para muitos era loucura, mas para eles era puro amor. Quando não era possível deslocar-se para a Escócia, alguns deles, ou algumas vezes, todos eles, iam até Encantadora Encantadora Horse Farm, e reuniam-se para dias de pura felicidade.
Seus pais tinham uma história de amor lendária, que sempre era relembrada em família. Assim ele e seu irmão cresceram, livres e rodeados de amor, onde todos os dias, era dia de reunião em família, eles jantavam juntos, e seus pais contavam histórias para eles dormirem, todos os dias eles ralhavam com ele por suas travessuras, nunca ficou sem sobremesa depois do jantar, mas as vezes ficava sem poder chegar nas baias por alguns dias, ou sem sair de bicicleta, dependendo da travessura, e o estrago causado por ela, ele conhecia os limites, ele recebia o amor, ele era feliz.

Quando Lizzie completou seis anos, seus pais compraram uma casa de campo em Danbourshire, era uma versão menor e simplificada da mansão em Londres, mas nem por isso menos luxuosa, cujo objetivo, diziam eles, era manter a privacidade de sua herdeira, e zelar por sua saúde. Como a cidade não era conhecida, ela poderia desfrutar de suas férias de verão com liberdade.
- Mas lembre-se senhorita Jones. – dizia a mãe de Lizzie – Elizabeth é uma dama em tempo integral, e o fato de darmos a ela privacidade, não quer dizer que queremos que ela não tenha a educação de uma dama. Ela é a única filha de um lord, e deve comportar-se como tal em todas as ocasiões, e em todos os lugares.
- Sim senhora Edwards. – disse a babá, com um olhar sério e um meneio de cabeça.
- Ótimo! – a mulher sorriu do mesmo jeito contido de sempre – Assim que terminarmos os compromissos, nos juntaremos a vocês por alguns dias no campo. – disse isso, dispensando-a com o mesmo olhar gélido de sempre.
Lucy não acreditava nem um pouco que os Edwards incluiriam em sua agenda, uma visita ao campo para ver sua filha correr e brincar, mas todo inicio de verão eles diziam isso, e todo verão ela fingia acreditar, ficando furiosa por dentro com o descaso deles. Desta vez porém, ela não se importou, só conseguia imaginar Lizzie sorrindo feliz, aproveitando a natureza. Então correu para contar a sua pupila as novidades.
Naquela noite, Lizzie teve dificuldades para dormir, seus olhos brilhavam no escuro do quarto, e ela contava os minutos para ir para a tal casa de campo, já se imaginava correndo e brincando livremente, longe de seus pais, que só brigavam com ela, longe do internato, onde tinha poucas amigas, e longe das câmeras maldosas da imprensa, que insistiam em persegui-la, e capturar dela, mesmo o mais fugaz dos momentos, tentando mostrar ao mundo a herdeira dos Edwards. Ela seria livre para ser ela mesma por pelo menos um mês e meio, e isso a deixava radiante. Na manhã seguinte, Lizzie entrou no carro com sua babá e seu motorista, e seguiu para a casa de campo que mudaria sua vida para sempre.

Lembranças do meu coração [Contém Cenas Hot Em Alguns Capítulos]Onde histórias criam vida. Descubra agora