Charlie - 7 anos
Lizzie - 6 anos.
A viagem até Danbourshire não foi longa, e era incrível ver tanta natureza estando há menos de duas horas de Londres. As fazendas, as árvores, os animais, tudo em abundancia. Parecia que estavam do outro lado do país, mas estava há apenas alguns quilômetros da capital. Havia um vilarejo no centro da cidade, com uma praça, uma pequena igreja, e comércio. Lizzie, que mal dormiu a noite com tamanha empolgação, não parava de olhar pela janela, soltando pequenos suspiros de alegria e excitação.
- Olhe Lucy! - ela mostrava tudo para sua babá, que sorria diante da agitação dela. - São crianças, crianças para brincar comigo.
O sorriso radiante de Lizzie contagiou até mesmo o motorista rabugento dos Edwards.
- Querida, preste atenção. - apesar de estar feliz por Lizzie, Lucy não podia descuidar-se das regras que regiam os Edwards. - Quando chegarmos na casa, você precisa apresentar-se para os empregados, como a herdeira que é, uma jovem dama refinada.
Lizzie soltou um bufo de frustração diante dos avisos de sua babá
- Achei que aqui eu poderia ser um macaco Lucy. - ela revirou os olhos, mas assim que parou, encontrou o olhar zangado de sua babá. - Desculpe Lucy!
- Sabe muito bem que sempre lhe dou cobertura, e deixo você brincar, mas há momentos pra tudo Elizabeth, você não pode nunca esquecer-se de seu lugar no mundo, e é minha obrigação lembra-la.
Cortava o coração de Lucy chamar a atenção dela assim, mas era necessário. Por mais que adorasse cada parte daquele pestinha, ela um dia seria uma herdeira, uma dama da sociedade, e se isso fosse um desastre, a culpa seria toda sua.
Lizzie a encarava triste com as duras palavras de sua babá, mas logo substituiu o olhar lacrimoso, por um olhar determinado, e um queixo erguido.
- Não a decepcionarei Lucy.
A babá sorriu com aprovação.
- Bem, se tudo ocorrer tranquilamente quando chegarmos, podemos sair a tarde para conhecer a vila.Lizzie ia saltitar de alegria, quando sua babá a olhou advertindo-a quanto aos modos, e ela apenas sorriu, e deu um gritinho baixo, fazendo Lucy reprimir uma risada.
Assim que o carro passou pelos portões de ferro, elas avistaram a casa, apesar de não ser tão grande e palaciana quanto a mansão londrina dos Edwards, era grande e luxuosa, com vários quartos, um lindo jardim, e pelo que a Sra. Edwards havia falado, havia também um estábulo, uma horta e alguns animais. Assim que o carro parou na entrada, todos os empregados pararam no hall, aguardando para conhecerem seus novos patrões, que chegavam para o verão, mas para a surpresa de todos, o que viram foi uma menina sorridente e sua babá.
- Olá senhores, eu sou Elizabeth Victória Edwards a senhora desta casa. - ela disse tentando segurar a risada - Esta é minha babá, a senhorita Jones, e nosso motorista, o senhor Still.
Os empregados se olharam um pouco constrangidos por terem que se dirigir a uma criança, mas aos poucos, um por um foram apresentando-se.
Um homem de estatura mediana, e cabelos grisalhos, foi o primeiro.
- Sou Montgomery, o mordomo e responsável pelo funcionamento desta casa. - ele aparentava estar na casa dos 50 talvez 60 anos. Estendendo a mão, ele seguiu com as apresentações. - Da direita para a esquerda. - ele apontou
- Minha filha Betsy, que é a arrumadeira - uma jovem alta e loira, com sorriso encantador, e olhos cor de chocolate deu um passo a frente sorrindo.
– Esta é a senhora Bitshop, a cozinheira – Apontou para uma mulher baixinha e rechonchuda com agudos olhos negros e o rosto rosado. - Ela também deu um passo a frente, anuindo com a cabeça.
- Este é o jovem Preston, ele cuida dos estábulos – e apontou para um rapaz loiro, alto, de olhar desconfiado, que apenas os cumprimentou com um meneio de cabeça.
Ele apresentou mais alguns empregados, mas Lucy não conseguiu gravar o nomes dos outros, e Lizzie já começava a dispersar sua mente de tudo aquilo, olhando para tudo com curiosidade infantil, e um incontrolável desejo de explorar o lugar. Lucy cutucou Lizzie indicando que era a vez dela falar, então sem saber exatamente o que dizer, lembrou de algo que tinha visto em um filme certo dia.
- Por ora estão todos dispensados. – Fez uma reverencia e se retirou com toda a dignidade possível, até que viu um lindo labrador, que a fez dar um grito de puro prazer, e sair correndo em direção ao cão. – Olhe Lucy! - seus olhos brilhavam - Ele é lindo! - ela dizia, acariciando a cabeça do cachorro, que já começava a lamber seu rosto, fazendo-a gargalhar de puro prazer. - Qual seu nome garoto?
Montgomery aproximou-se dela, e falou
- Este é o Duke senhorita.
- Olá Duke. Sou Lizzie e seremos os melhores amigos!
E assim como os empregados de Londres, os de Danbourshire, apaixonaram-se imediatamente por ela.
Lizzie saiu correndo pelo jardim com o cão, deixando Lucy e o motorista Still, conversando com os outros empregados, e conhecendo a casa. Still, que além de motorista era segurança, olhava tudo, minunciosamente, analisando a segurança da casa, suas saídas e entradas. Ele era um homem grande e forte, chamava muito a atenção das empregadas, e Lucy sabia disso, viu que no momento das apresentações, a filha do senhor Montgomery não tirava os olhos dele, e pensou que seria melhor adverti-lo para evitar problemas. Depois de anos trabalhando juntos, eles eram amigos, e tinham liberdade suficiente para falar sobre qualquer assunto um com o outro.
Quando chegaram ao segundo andar, as malas já estavam em seus devidos quartos, e ela já conhecia toda a casa.
- Muito obrigada pela recepção senhor Montgomery, fico feliz em encontrar tudo em tão perfeito estado, e por sua organização. - ela olhava para o mordomo, que dava um discreto sorriso diante do elogio. - Passaremos todo o verão aqui com a menina Elizabeth, o senhor e a senhora Edward não nos informaram de seus planos ainda, mas já estamos habituados a estar somente com a menina. Com relação ao cardápio da semana, eu gostaria de tomar a liberdade de analisa-lo pois a menina está com algumas restrições alimentares.
- Certo senhorita Jones, providenciarei para que seja entregue a senhorita em alguns minutos.
- Muito obrigada.
Com isso o mordomo retirou-se e Lucy desfrutou de alguns raros minutos de privacidade, observando pela janela o jardim, e vendo Lizzie divertindo-se como nunca, o que a fez sorrir.
- Você está muito apegada a esta menina. - a voz grave de Still invadiu repentinamente o quarto, assustando Lucy.
- Você deveria bater antes de entrar. - ela ralhou com o amigo, que apenas a olhou com uma sobrancelha erguida. - Sou humana, o que esperava?
- Só tome cuidado Lucy, por mais que goste desta menina, sabe que este é um trabalho que tem dias contados, e que os pais dela são terríveis, podem te demitir só por saberem que gosta da filha deles.
- Eu sei Doug - ela suspirou triste, ainda olhando para Lizzie brincando - Mas não posso evitar, ela só precisa de carinho e atenção, ela é uma criança muito doce.
- Eu sei Lucy - ele parou ao lado da amiga, empurrando o ombro dela com o seu - Só não quero que você sofra. - ela balançou a cabeça, e depois a deitou no ombro dela, para levantar abruptamente em seguida.
- Por falar em tomar cuidado, fique longe daquela garota, a filha do mordomo.
Still olhou para ela sorrindo do comentário.
- É sério Doug, ela é problema.
- Ai Lucy. - ele a olhava com intensidade, quando ela desviou o olhar, ele segurou seu queixo com seus dedos. - Obrigada.
Dizendo isso ele saiu, e então Lucy soltou o ar que nem ela sabia que estava segurando.
Depois de organizar-se, ela foi procurar Lizzie para almoçarem, ela estava faminta e a menina também deveria estar, decidiu que depois do almoço iriam ao vilarejo conhecer um pouco o lugar.
- Lizzie! – Ela procurou pelo jardim – Lizzie! – seguiu pelos estábulos – Elizabeth! – ela chamou e nada.... – Onde esta menina se meteu?
Ao voltar, viu Lizzie muito bem acomodada em um banco da cozinha, com as pernas balançando para frente e para traz, sua cabeça bem acomodada nas mãos e os cotovelos apoiados no balcão fazendo um verdadeiro interrogatório a pobre cozinheira.
- Há quanto tempo você mora aqui?
- Creio que desde que nasci menina – senhora Bitshop respondeu com um sorriso cansado, com a tagarelice infinita a que foi submetida. A menina tinha a energia de 50 crianças juntas, como ela constatou, e por Deus! não parava de falar. Betsy a abandonou nas primeiras 5 perguntas e agora lá estava ela, sozinha com a menina a falar sem parar um segundo.
Lizzie estava prestes a ir para a pergunta seguinte quando Lucy apareceu.
- Você precisa se lavar para o almoço Lizzie.
- Oh! Olá Lucy – a menina virou-se para a sua babá com um cândido sorriso – Eu e a senhora Bitshop estávamos tendo uma agradável conversa para nos conhecermos melhor.
Lucy olhou, e viu quando a mulher suspirou e revirou os olhos, sorrindo para ela com simpatia ao ver-se diante de uma menina tão peralta e faladora.
- Muito bem, uma vez que já se conheceram, vamos nos arrumar para o almoço.
Com um salto Lizzie desceu da cadeira. – Não vejo a hora! – ela olhou para senhora Bitshop e sorriu. – Sua comida parece deliciosa.
Apaziguada por aquele sorriso angelical, ela se virou para a menina e disse:
- Preparei também uma sobremesa especial. – A palavra sobremesa, por si só, fez os olhos de Lizzie brilharem de entusiasmos, e para selar aquela amizade que se iniciava, senhora Bitshop abaixou-se e cochichou com Lizzie. – Espero que goste de bolo de chocolate.
Lizzie deu um gritinho, pulou de entusiasmo e começou a bater palmas com verdadeira satisfação. Senhora Bitshop assentiu sorrido e voltou para o fogão, enquanto a menina saltitante saía da cozinha com sua babá.
- Lucy adorei esta casa tanto quanto gosto de nossa casa em Londres!
- Sim, que bom! – Lucy disse, porém lançou um olhar de reprimenda a menina. – Porém, assim como em Londres, você deve ter aqui a mesma postura e educação que se requer de uma dama.
Lizzie suspirou triste, e olhou com olhos suplicantes para a sua adorada babá. Que apenas reforçou o que dizia firmando o olhar severo, deixando Lizzie cabisbaixa resmungando mais uma vez sobre como adoraria ser um macaco ao invés de uma dama.
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Lembranças do meu coração [Contém Cenas Hot Em Alguns Capítulos]
RomanceLizzie sempre sonhou com a liberdade, Charlie sempre a teve. Duas crianças, dois mundos. Verões repletos de aventuras, uma amizade sincera que nasce da pureza de corações infantis. O tempo passa.... A amizade se transforma em amor, um intenso e ine...