Cap 2: Nasce a amizade

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Na manhã seguinte, antes mesmo do sol estar completamente exposto, Lucy foi acordar Lizzie.
- Vamos menina! - ela sacudia suavemente o ombro de Lizzie - Não adianta espernear, creio que da próxima vez pensará melhor antes de agir de forma tão selvagem.
- Não Lucy! Ainda está escuro. - A menina choramingava apertando seu travesseiro. – Este reverendo é terrível!
Lucy segurava-se para não rir, pois apesar de ser uma criança amável, Lizzie nunca foi uma criatura matinal, não chegava a ser azeda, mas sempre teve dificuldades em acordar cedo, principalmente naquele horário, que era pelo menos duas horas antes de seu horário habitual, frenquentemente ela recebia uma nota do colégio, incentivando a manter a rotina dela no horário de acordar, pois a jovem dama, como eles diziam, tinha dificuldades em cumprir bem seus horários matinais.
Assim, adotando uma postura mais séria, ela puxou o cobertor de Lizzie e chamou sua atenção.
- Terrível ou não você fez por merecer! Francamente menina, entrar em uma guerra de lama? Como se fosse um moleque! Acho que não me aprecia o suficiente, pois se isso chega aos ouvidos de seus pais, estarei na rua em segundos.
A menção de uma futura demissão de Lucy fez com que a menina pulasse da cama direto para os braços de sua babá.
- Oh Lucy! - dizia já com os olhos lacrimejantes - Por favor, eu juro que serei boazinha, mas não me deixe! Não me deixe nunca! - ela abraçou sua babá, enfiando o rosto em seu pescoço.
Naquele momento Lucy lamentou ter ido tão longe, e acariciou a cabeleira ruiva da menina, e embalou pedindo que se acalmasse, que tudo ficaria bem. A verdade é que Doug tinha razão, ela estava afeiçoada demais àquela sardentinha, mas era impossível não amar aquela menina, e Lucy já se preocupava que em algum momento não poderia mais ser a babá dela.
- Lucy – a menina ainda fungava – farei tudo o que o reverendo pedir, e prometo me comportar melhor, mas não diga que vai embora, eu só tenho você.
- Menina, eu não disse que vou - seu tom suave acalmou um pouco Lizzie - mas se seus pais souberem de seu mau comportamento sob minha supervisão, pensarão que não faço bem o meu trabalho. - Lizzie a encarava com seus olhos arregalados, e culpados - E não diga bobagens! Você tem muitas pessoas ao seu redor, lembre-se que você é uma jovem dama, com um belo futuro a sua frente! – Disse isso com um sorriso confiante, que logo se desvaneceu ao olhar a menina.
- Sei que sou apenas uma criança, mas não sou tão boba Lucy. Posso saber quem gosta ou não de mim, mas não me importo.- ela suspirou - Nada importa se tenho você.

Elas tomaram seu café, e logo foram para a igreja no horário determinado pelo vigário, ainda sem saber o que exatamente ele as mandariam fazer. No caminho Lucy se perguntava qual seria o objetivo do padre, que castigo ele planejava aplicar nas crianças, afinal depois de todo aquele sermão, ele simplesmente os dispensou e disse que retornassem no dia seguinte as sete da manhã. Assim que chegaram, viram Charlie, juntamente com uma mulher jovem e muito bonita, ela tinha cabelos negros cacheados, e uma pele morena, seus olhos eram de um tom raro de castanho, tão dourados como o sol, ela não parecia ter idade para ser mãe dele, mas os traços semelhantes eram inegáveis, e Lucy pensou que talvez eles fossem irmãos, ou algo assim. Elas passavam pelo calçamento da entrada, quando o reverendo acenou alegremente, não parecia a mesma besta furiosa do dia anterior, bem, uma vez que não tinha lama em seu rosto, era normal que ele não estivesse mais bravo, sua missão na vida deveria ser entender as imperfeições humanas e as perdoar.
- Senhorita Jones - ele caminhou até elas - Gostaria de lhes apresentar a senhora Alexandra Mackenzie, ela é a mãe de Charlie.
A mulher sorriu estendendo a mão para Lucy, mas parecia um pouco aborrecida.
- Apenas Alexandra por favor - ela explicou, fazendo Lucy sorrir.
- Então, sou apenas Lucy também.
Com um amistoso cumprimento elas olharam para as crianças, esperando que eles seguissem seu exemplo, e também se cumprimentassem, mas eles apenas ficaram parados, ignorando a existência um do outro. Então, com uma tossida, Alexandra lançou um olhar de advertência ao filho, quando ele fingiu não reparar, ela simplesmente lhe deu puxão de orelha.
- Ai mamãe. - ele esfregava a orelha - Não precisa me envergonhar.
- Você é quem envergonha a si mesmo. - ela abaixou-se, e olhando nos olhos de seu filho, falou calmamente - Querido, não seja tão orgulhos, fico profundamente triste em ver que nada do que te ensino entra nessa sua cabeça.
Ele se sentiu culpado, sua mãe era a melhor mãe que alguém poderia ter, ela cuidava dele e de seu irmão, lhes dava atenção, amor, e agora ele estava sendo um ingrato por ignorar um pedido dela, então ele virou, e estendeu a mão para Lucy.
- Muito bom vê-la novamente senhorita Jones.
Lucy aceitou a oferta de paz apertando a mão dele, enquanto Lizzi apenas franzia a testa em sinal de reprovação, mas Lucy a cutucou.
- Lembre-se de sua promessa - ela cochichou para a menina, que na mesma hora, ainda que de má vontade, virou-se para Charlie dando bom dia.

Lembranças do meu coração [Contém Cenas Hot Em Alguns Capítulos]Onde histórias criam vida. Descubra agora