Capítulo 31 - Boletim de ocorrência

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  Eu não sabia que tinha desmaiado até o momento que acordei em um galpão vazio. Quando tentei me levantar fui empedida por uma corrente que prendia minhas mãos e estava fixada em um pilar. Eu ainda estava com aquele vestido então pelo menos violentada eu não tinha sido.

- Tem alguém aqui?! - grito como posso com a voz falhada pela garganta seca.

Ninguém apareceu, para mim parecia ter se passado duas horas mas pode ter se passado menos ou até mais, era difícil de saber se estava de dia ou de noite pois todas as janelas estavam vedadas com madeira, mas uma pessoa apareceu. Quando alguém subiu a grande porta de metal a claridade do dia lá fora me cegou por um momento mas olhei para a posição da sombra da pessoa, era quase meio dia. Aos poucos consegui distinguir de quem se tratava e dei uma risada sarcástica.

- Tia? - encaro a megera em minha frente - Por que será que não estou surpresa? Deixe-me advinhar, foi você eu querido tio que tentaram me matar das outras vezes e o meu irmão também. Os freios do carro sabotado, o assalto no banco muito mal elaborado, minha sela sabotada também. Tio, por favor, contrate capangas mais competentes. - peço quando ele também entra e se aproxima.

- Cale a boca! - ele rosna ao mesmo tempo que desfere um tapa em meu rosto que me faz virar a cabeça pro lado.

   Respiro fundo mesmo sentindo o lado esquerdo do meu rosto arder e o encaro.

- Aposto que você vem desejando fazer isso a muito tempo. - falo olhando em seus olhos.

- Não só eu, você tem uma antiga amiga que está doida para te ver. - ele sorri perverso.

  Para aproveitar a deixa outra pessoa surge.

- Ok, eu sabia que você era baixa agora se rebaixou ainda mais se juntando a esses dois Isadora. - lamento por ela.

- Olha, não sou eu que está presa como um cão vira-lata. - da de ombros.

- Você já é uma cadela domesticada. - faço o mesmo movimento com os ombros.

- Me diga Alana, do que adianta essa faixa, essa coroa e esse vestido se agora está aqui? - ela aponta para minhas coisas jogadas no chão e se abaixa para ficar da minha altura, antes que ela toque meu rosto eu mordo sua mão e uso toda a força da minha mandíbula possivel - Sua maluca! - grita quando consegue se soltar.

- Desculpe, sou um vira-lata com problemas de comportamento. - faço biquinho e finjo tristeza.

  Uso todo o meu sarcasmo a todo momento pois sei que é o que meus tios odeiam e eu não tinha mais o que fazer mesmo.

- Ela nos ajudou a trazer você aqui. Enquanto você estava sozinha naquela festa e já iriam embora. - Camila, minha tia, diz enquanto abraça o marido por trás.

- O Luan é tão bobinho, acreditou quando disse que tinha alguém me perceguindo na festa e ele nem quis saber o que eu estava fazendo lá. Não sei como dei em cima dele, não faz meu tipo mas mesmo assim ainda quero ele comendo na minha mão. - ela sorri como uma bonequinha inoscente.

- Bom, você nos foi boa quando nos foi útil. - Luiz tira a arma da cintura e atira em Isadora pelas costas.

   Grito de pavor no mesmo instante que o corpo dela cai sobre mim e seu sangue se mistura a cor do meu vestido.

- Tira ela de cima de mim! - imploro com o rosto virado, as lágrimas já desciam pelo meu rosto.

- Ela está morta. - Camila diz após ver a pulsação .

- Um ótimo trabalho meu a próxima é você. - aponta a arma para mim - Mas não hoje, quero te ver sofrer mais um pouco e fazer seu irmão acreditar que terá você de volta se caso der tudo o que eu quero.

- Por favor, tirem ela de mim. - peço entre desesperada, ela estava morta e com os olhos abertos como se estivesse olhando para mim.

- Vamos querido, temos que convencer o idiota do Davi que fomos bons tios e prestamos os boletins de ocorrência. - Camila o chama e ele guarda a arma na cintura - Boa estadia com a defunta.

   Não aguentando ver Isadora morta em minha frente de olhos abertos empurro com o pé para mais longe o corpo e tento não ficar olhando.

LUAN
DOIS DIAS DEPOIS...

- Mas faz dois dias Bruna! - esbravejo e sem perceber meu nível de descontrole soco o guarda-roupa do quarto que estava ficando, não tive coragem de dormir no quarto da Alana.

   Era estranho e aterrorizante não tê-la por perto. Eu sentia falta de cada detalhe daquela mulher e saber que ela estava correndo risco de vida me deixava mais angustiado ainda.

- Se acalma Pi daqui a pouco o Davi chega e vai nos dar notícias dela. - Bruna segura minhas mãos.

  Não tinha como ficar calmo, eu deixei ela sozinha e foi culpa minha o seu sequestro. Ela tinha me pedido para ir com ela no banheiro antes de ir embora mas eu me afastei quando Isadora apareceu do nada me falando que estava sendo perseguido. Na hora nem me toquei que era estranho sua presença ali.
    Thiago apareceu no quarto nos chamando para descer quando Davi chegou da cidade.

- Procurei ela por todas a partes e não encontrei em lugar nenhum. - Marcela, que tinha se colocado de prontidão para buscas, disse enquanto bagunçava os cabelos e andava de um lado para o outro.

- Pode ter sido você mesma, sua inveja te corroi e não deixa as outras pessoas serem felizes. - Dani despeja a culpa sobre Marcela.

- Eu não sou a melhor pessoa do mundo mas também não faria isso! - Marcela rosna ficando frente a frente com Daniela.

- Ei vocês duas! - Bruna entra no meio da discussão - Parem de agir como crianças.

- Era para essa casa estar cheia de policiais. - murmuro me sentando no sofá e passando a mão pelo rosto

- Luiz e Camila ficaram encarregados disso, eles fizeram o boletim de ocorrência. - Thiago se senta em minha frente.

   Thiago desce as escadas junto com alguns policiais e roupas da Alana.

- Não fizeram coisa nenhuma. - entra na sala e parecia muito bravo - Fui até a delegacia que esses crápulas disseram ter feito mas não avia nada lá. As buscas tem que começar imediatamente. - ele tenta manter a calma e entrega as roupas da Alana para os policais.

  Tento controlar a vontade de ir atrás desses dois e mata-los lentamente. Desconfiamos desde o início com a maneira calma que ele nos ajudou. Foi tudo calculado, o policial que veio conversar com a gente, o boletim de ocorrência falso que Davi assinou.

ALANA

   Há três dias estou aqui. Sem comer e sem beber nada, presa ainda com essas correntes  mmassacrando meus punhos, Isadora morta em minha frente e o cheiro de corpo em estado de decomposição era horrível. Aqueles dois covardes não deram as caras mais.

- Nossa que cheiro horrível! - Camila entra tampando o nariz.

- Tirem esse corpo daqui. - Luiz ordena a dois homens.

- O que vocês fizeram com minha família? - pergunto fraca.

- Nada que eu queria na verdade. Agora eu vou deixar minha mulher aqui e vou ver seu irmão e fazer ele assina mais alguns papéis. - ele balança as folhas que estão em sua mão.

- Vou me diverti aqui amor. - Camila o beija.

- Vocês dois venham comigo, ela não vai dar trabalho algum.

Cartas Para AlanaOnde histórias criam vida. Descubra agora