Dionísio

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          As embarcações ancoradas no estaleiro tremeluziam sob a luz do sol, quando elas chegaram, no dia seguinte. Celine admirava o tamanho do lugar enquanto seguiam pelos corredores de concreto, havia vários galpões margeando do rio Potomac. De onde estavam, dava para ouvir o aço sendo açoitado e havia muitos operários movimentando o lugar. Tudo o que via dava sentido ao que o italiano dissera no dia da entrevista, o estaleiro estava mesmo atribulado, por isso tiveram que contratá-la para assumir o cargo de analista financeira do projeto de marketing e não alguém da própria empresa. Mesmo assim, ela ousa perguntar se tudo aquilo era por causa do iate. Paulo, o funcionário que as acompanhava, explica que o movimento na verdade era devido à alta temporada. O verão trazia todo tipo de embarcação em busca de reparos, além dos serviços de construção que sempre tinham por ali. Ele também explica que a localização, na parte menos movimentada do rio, fora um dos fatores que determinara a escolha do estaleiro de Baltimore para sediar a construção do iate. Desse modo, teriam um desemboque seguro e total privacidade, pois o projeto estava sendo mantido no mais completo sigilo. Os cuidados eram tantos, nesse sentido, que viera uma equipe da Itália para executar o armamento; a maior parte dos funcionários dali só havia visto a carcaça do iate.

        - Armamento?

         - Oh, me desculpem, não me atentei que as senhoritas ainda não conhecem os jargões do ramo. Armamento é tudo o que vai no interior de uma embarcação. Toda a parte de revestimento, decoração e também o design.

        - Sério que o acesso ao iate é tão restrito assim? - Bianca lamentava. - E quanto a você, Paulo, conseguiu vê-lo?

        - Sim, e é a embarcação mais incrível que já vi, desde que comecei a trabalhar no ramo. Sinto até inveja de vocês, gostaria muito de ser um dos privilegiados que vão embarcar rumo a Mônaco.

         - Ah, eu sei. Mas agora que disse isso, estou mais curiosa do que nunca.  Gostaria tanto de  vê-lo... - Bianca choraminga. – Paulo, por favor!

         - Não sei não. Se eu pudesse, o mostraria com certeza, o problema é que só Antonio pode autorizar esse tipo de coisa. Mas não se preocupem senhoritas, amanhã à tarde, ele estará atracado na Baía. Vai ser uma grande estreia...

           O galpão, onde o escritório estava estabelecido, se diferenciava dos demais apenas por um pequeno jardim, onde uma placa de concreto servia de identificação. Mas, assim que Paulo as encaminha para o interior, percebem, admiradas, o ambiente rústico e barulhento desaparecer para dar lugar a salas climatizadas e iluminadas artificialmente. Eles percorrem os corredores estreitos até uma sala retangular.

          - Sr. José, esta é Celine e sua amiga Bianca.

          Paulo as apresentava a um homem meio calvo, trajava o que parecia ser um tipo de uniforme por ali: calças escuras, camisa branca e gravata azul marinho.

           - Ah sim, a analista. Muito prazer em conhecê-las. Podem me chamar apenas de José, está bem? Somos bem informais por aqui.

           Após as apresentações, ele encarrega Paulo de levar Bianca para conhecer o resto do estaleiro e faz com que Celine o siga novamente através dos corredores.

          Dizia pelo caminho:

         - Fico feliz que esteja aqui. Temia ter que embarcar no seu lugar. E isso seria um problema enorme, duvido muito que esse escritório funcione sem a minha orientação. A propósito, eu dei uma olhada no seu currículo e devo dizer que achei impressionante para alguém da sua idade.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora