Estratégia

155 11 1
                                    


Pensar no gato, ajudou Celine a tomar decisões mais controladas quando voltou ao iate. Bianca, ao atribuir seu estado lamentável de pesar à morte do bichano, fez com que algo estalasse dentro dela. Desde que subira a bordo de Dionísio, ela mal se lembrara de Mister Graaf, e ele era tudo o que lhe restaria. Já havia decidido, antes mesmo de se decepcionar com Antonio, que sua vida seria assim. Agora, depois de tudo o que houve, estava mais do certa dessa decisão. Uma das razões se devia a admirável fidelidade dos gatos, é sabido que os gatos jamais abandonam seus donos, mesmo que fosse apenas pela comida... Outra razão, a mais importante, era sua possível incapacidade de dissociar amor de sexo.

Celine dos Santos, definitivamente, está fora do mercado!

Na cabine, Celine liga o computador e vai direto à página social de Rose. Havia fotos recentes de Mister Graaf. Por um breve momento, seu coração se acalma. O gato estava vivo!

- O que vai fazer sobre a reunião? - Bianca perguntava do banheiro. Como Celine não respondeu, ela vai até o quarto. - Se pretende continuar usando a desculpa da enxaqueca, vou logo avisando que dessa vez não vai colar.

- Não, eu irei. - Celine responde. - Mesmo porque, estou farta de migalhas e Thor me intimou a comparecer. Escreveu um e-mail avisando para eu ir nem que for de maca.

- Hum, é a cara dele ser condescendente assim.

- Bia, será que Antonio vai estar lá?

- Pode apostar que sim. Essa reunião antecede a feira de Livorno, é lógico que Antonio tem instruções importantes para dar. Aos que restarem é claro, já que uma boa parte da equipe vai desembarcar amanhã. Acho que da equipe de apoio só fica eu e Micahel. Pelo menos, as sessões de fotografia acabaram. Graças a Deus!

- Gostaria de poder desembarcar também, mas com o fim do projeto haverá muito trabalho para ser feito. Folhas de pagamentos, balancete.... Para mim, isso aqui vai ser um inferno.

- Pois eu fico feliz por isso. Nós seguiremos juntas até o fim, minha amiga, com Antonio ou sem Antonio...

Naquele dia, Celine fez questão do elevador, acreditando ser capaz de tropeçar nos últimos lances de escada, caso se deparasse com Antonio no camarote. Mas, para sua surpresa, ele não estava lá.

Samuel e Garete receberam ela com olhares pesarosos. E foi só aí que Celine entendeu o quanto sua imagem ainda estava comprometida pelo choro. Quando saiu, não se deu ao trabalho de se olhar no espelho e Bianca não foi capaz de avisá-la. Um pouco de maquiagem, ou até mesmo os óculos, teria disfarçado as bolsas e manchas escuras que tinha sobre as pálpebras. Mas não, havia saído de cara limpa mesmo...

Obviamente que eles atribuíram àquela imagem apática à uma de suas crises de enxaqueca. Apesar de ter saído no fim da tarde para o passeio em Pompéia, Celine se agarrou a mentira, porque isso de certa forma facilitava as coisas para ela. Percebeu, depois disso, que já podia encerrar sua patética carreira de mentirosa, pois, ao que tudo indicava, ela não era muito boa. Uma roda se formou em torno dela, muitas caras de pesares, e ela, enquanto emendava uma mentira atrás da outra piscando feito uma louca, se sentia como um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Isso porque nada parecia ser o bastante para justificar seu comportamento incoerente. Em um desses momentos, seus olhos cruzaram com os de Thor, estava claro que seu chefe conhecia a verdade. Mas foi justamente ele, com seu sorriso cínico e cheio de censura, que a desafiou a continuar. O circo estava armado e Celine representou do melhor jeito que foi capaz:

- Não, eu já estou bem... Foi uma crise passageira, é que eu ando passando muito tempo na frente do computador.... (Esfregou os olhos). Por isso preferi trabalhar na cabine hoje, o escritório seria insuportável. Reluzente demais!

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora