Antonio abre a porta que dava acesso ao convés superior. Localizada entre o bar e a entrada da cozinha, a porta estreita fora planejada para que o hóspede da cabine principal fosse atendido com eficiência e discrição. E estava sendo útil também para que ele pudesse observar as pessoas interagindo com o iate sem que o notassem. Havia aprendido com seu pai que nenhum projeto era bom o suficiente, que sempre haveria formas de melhorá-lo. Dionísio estava respondendo muito bem pelo que se esperava dele. Era seguro, robusto, veloz e o lazer, por tudo o que viu até agora, era o que melhor o qualificava. Ele vai até a amurada para respirar o frescor da maresia. Era uma daquelas noites escuras, sem estrelas, a lua estava escondida atrás de uma nuvem grande e densa. A piscina brilhava como nunca, etérea, quase mágica.
Ele quis que Dionísio tivesse essa áurea mística e estava funcionando muito bem. A piscina, idealizada pelos projetistas, era única, uma das grandes sacadas do projeto, não havia nada parecido no mercado. O acrílico substituindo o chapeamento da polpa deixava transparecer o interior iluminado até quase a linha d'água. Naquele momento, para quem o visse de longe, o iate se pareceria com um corpo celeste pousado sobre o mar.
Enquanto deixava o peso do corpo sobre a amurada, Antonio ergue o olhar até o convés superior, verifica que a porta que dava para o tombadilho estava fechada, o som que vinha da boate saía abafado e quase não interferia no barulho das ondas contra o casco. Havia saído do quarto pensando em se juntar ao resto da equipe, mas, antes mesmo de subir as escadas, já tinha perdido a vontade, estava cansado para esse tipo de festa. Ele então pensa no pai, na condição que o velho impusera para liberação da verba. Antonio teria que acompanhar o desenvolvimento do projeto pessoalmente. O que não estava fazendo diferença alguma, já que seu volume de trabalho só aumentava a cada dia. Por sorte, tinha Celine para ajudá-lo. A garota era uma pirralha voluntariosa às vezes, mas muito competente. Era impressionante a facilidade com que ela lidava com aquela montanha de números. Os relatórios dela eram, para dizer o minimo, indefectíveis. Ele sorri com o termo que encontrou. Pedia para conferir o trabalho dela apenas para se impressionar ainda mais, e é claro que para mantê-la em seu devido lugar. Apenas uma rusga que o divertia, o prazer pelo rosto corado.
Dio Santo, eu preciso deixar essa garota em paz. Antonio se recrimina mais uma vez. Mesmo duvidando que conseguiria manter distância dela por muito tempo, havia decidido que Celine, no momento, era ingênua demais para um homem como ele. Pensar em tirar proveito disso chegava a ser constrangedor. Talvez mais tarde, quando ela amadurece um pouco mais, ele voltaria a se aproximar dela. Saberia onde encontrá-la, na Merill Lynch, não é mesmo? Ele volta a sorrir ao se lembrar da petulância dela ao esfregar aquilo na cara dele no dia da entrevista. Aqueles arroubos de imaturidade chegavam a ser cômicos, ele nem sabia direito por que estava tão fascinado...
O barulho do elevador chama a atenção de Antonio e ele se recolhe na parte mais escurecida do tombadilho. Quis privacidade para decidir se ficaria para uma conversa, dependendo de quem fosse sairia sem ser notado, e direto para o próprio quarto. Ia dormir cedo naquela noite.
E era ela...
Como se tivesse sido conjurada por seus pensamentos, Celine surgia, silenciosa como sempre, no deque da piscina. No início, ele pensou que era outra garota, devido à ausência dos óculos e dos cabelos que caíam soltos até a altura dos quadris. Mas era ela, definitivamente, nenhuma garota a bordo usaria um vestido tão feio quanto aquele. Antonio pensa em mostrar-se, mas se detém quando a vê sentir a temperatura da água com a ponta do pé. Se a garota tinha a intenção de mergulhar na piscina, ele é que não perderia isso por nada. Já fazia muito tempo que estava curioso para conhecer seus segredos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O segredo de Celine - Livro 1 da série Dionísio
Romance- Gosto de fazer parte de seus segredos, perla... Ele disse, provocativamente. Será que aquele maldito italiano seria capaz de por tudo a perder apenas para acariciar seu ego sórdido de conquistador? Uma carreira meticulosamente planejada indo água...