Bagagem

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Leite. O branco não estava somente nas paredes do corredor, mas por todo lado; a sensação era densa. Suas pernas superavam com dificuldade o mar de leite. Quando ela finalmente chegou, não viu ninguém, estava sozinha. O mar Tirreno batia com violência no terraço da cabine. O barulho das ondas contra a porta de vidro era insuportável. Quando se virou para fugir, achando que jamais o encontraria, viu o garotinho. O mesmo menininho de Pompéia. Ele arrulhou sons de bebê e apontou o dedinho para além de seus ombros. Ela se virou cheia de expectativas e o que viu fez seu coração gelar. A porta de vidro começava a rachar, o mar bravo destruiria tudo. Tentou desesperadamente encontrar o garotinho, mas ele já não estava mais lá. Antonio não estava. Ela estava sozinha!

Celine estava na cama com os joelhos encolhidos até o queixo, tentando entender o pesadelo. Havia acordado assustada e seu coração ainda batia acelerado. Nos últimos momentos do sonho, enquanto ainda vagava entre o inconsciente e a realidade, ela tentou se recuperar do medo, tentou buscar o garoto, abraçar o corpinho macio dele, salvá-lo. Somente depois, salvaria a si mesma do fim. Antonio, quando disse que tudo ia acabar assim que Dionísio atracasse em Mônaco, plantou aquela ansiedade dentro dela. O pesadelo tinha sido o e feito disso.

Na noite anterior, quando se viu sozinha no quarto, depois de falar com Rose, Celine passou o resto do tempo tentando não pensar em Antonio. Para isso, se ocupou buscando apartamentos em sites imobiliários, separando anúncios e traçando um plano para quando chegasse à Nova York. Deitou na cama somente quando seus olhos já estavam ardidos de sono.

No entanto, dormir não foi tão fácil assim. No momento em que fechou os olhos, veio uma enxurrada de lembranças, de todo os momentos que passaram juntos. Principalmente de Panarea, a ilha eólia onde fizeram amor pela primeira vez. Aquilo ainda estava tão vivo em sua memória que ela podia até sentir o cheiro do quarto em que ficaram, o contado morno da pele dele. Tudo, e com uma riqueza de detalhes impressionante. E por mais que ela tentasse sufocar as lembranças, espremendo o pensamento em busca dos arranjos da sua mudança para Nova York, Antonio sempre encontrava um jeito de chegar até ela. Ainda jogavam o jogo da caça ao rato. Celine chegou a pensar que não conseguiria dormir, que passaria a noite fugindo de Antonio. Mas o sono, enfim, veio, e trouxe com ele o pesadelo, a horrível sensação de impotência. Seu doce mundinho ruindo mais uma vez, sem que ela não pudesse fazer nada.

Agora, ela estava ali, encolhida sobre a cama, ansiosa, revendo todos os momentos à procura de uma brecha. Pensando que, talvez, Antonio estivesse sendo sincero. Era difícil não querer acreditar no romance, acreditar em Panarea, no seu belo e gentil vulcão. Talvez aqueles dias não fossem apenas um capricho de um sedutor meticuloso. Talvez, o vídeo tivesse sido apenas um deslize, um pequeno equívoco. Algo que aconteceu no começo, antes de Antonio saber que estava apaixonado. Mesmo que ainda não fosse amor, parecia que ele gostava dela. Talvez um pouco, pelo menos, do jeito dele...

Sua lista de talvez era grande demais, Celine sentia que não poderia deixar o iate levando tudo aquilo na bagagem. Não, ela precisava das respostas.

Ela precisava de certezas!

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora