No dia seguinte...

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 Celine acorda com frio, vira de lado e arrebanha um ninho de cobertas. O ar condicionado estava gelado, bem do jeito que Antonio gostava. Ela volta a se virar na cama, aborrecida por ter se lembrado disso. Espalma as mãos sobre o rosto para aquecer as faces que estavam geladas. Abriu os olhos devagar, depois totalmente. Lençóis escuros?

Sim, os lençóis eram escuros. O quarto, no entanto, estava parcialmente iluminado pela luz do sol. A cortina esvoaçou alargando a fresta. Um pedaço de mar...

- Ah, não! - Celine deu um gritinho e se lançou para fora da cama. Estava mesmo no quarto de Antonio. Dormiu lá e de acordo com a intensidade da luz, por tempo demais. E essa nem era a pior parte. Havia sido estúpida até doer. Havia implorado por sexo...

Podia até prever, Antonio, pela manhã, sorrindo daquele jeito presunçoso antes de sair e deixá-la por lá. Deliciado com a possibilidade de que outro, ou melhor, de que todos os homens do iate a vissem saindo de seu quarto.

- Isso é que não... - Celine se ordena e passa a procurar freneticamente por suas roupas. Olhou por todo lado, chegou a dar pulos de raiva por não as encontrar.

Transtornada, tropeçou na poltrona que estava em frente a cama. Teve gana de jogá-la ao chão, e fora exatamente lá que viu suas roupas. Suas roupas e até sua bolsa estavam no lugar mais óbvio de todos, no único lugar que ela não havia olhado. Tudo perfeitamente dobrado e empilhado. Antonio havia dobrado suas roupas e agora que ela olhava o quarto com mais calma, via também uma bandeja com café da manhã. Um bilhete.

- Ok, isso foi gentil. Mas eu preferia que ele tivesse me acordado mais cedo. Vou morrer de vergonha se alguém me vir saindo daqui.

Celine ignora a bandeja e começa a se vestir. A calcinha estava toda enrolada, isso por que tinha sido tirada às pressas. E por ela mesma. Novamente, ela conseguiu prever a expressão de Antonio, ao segurar a peça, com dó de desembaraçá-la e destruir a evidência.

- Celine, você é tão decepcionante...- Ela se recrimina em voz em alta para que a bronca valesse de verdade. Antes de sair, não resiste ao bilhete. Não o lê de imediato, pois estava com pressa, deslizou o papel para o fundo do bolso.

O elevador e os corredores estavam vazios, mesmo assim, ela só foi capaz de sentir algum alívio no interior de seu próprio quarto. Pousada sobre sua cama, estava a sacola com os presentes que havia comprado em Bolgueri. E isso provocou uma ruga de estranhamento em sua testa. Não conseguia imaginar uma razão para que a sacola tivesse sido plasmada ali, sendo que ela nem ao menos se lembrava do lugar onde a esqueceu. O papel pardo estava manchado num dos lados e no interior havia somente o perfume de Rose. Provavelmente a sacola devia ter caído de suas mãos enquanto ela era arrastada para dentro da cabine de Antonio. Essas lembranças ainda estavam meio adormecida, sem exatidão, ela só se lembrava com clareza do momento em que viu Antonio saindo das sombras como se fosse uma alma penada. O susto e o medo que sentiu quando ele começou a gritar fora tão grande que ela entrou numa espécie de estado de choque. Só foi se recuperar quando já estava dentro do quarto dele, seus pulsos doíam. Essa lacuna, no entanto, não a incomodava mais do que a sacola estar ali, repousando confortavelmente em sua cama. Possivelmente fora recolhida por um tripulante que assistiu ao ataque brutal sem poder fazer nada. Depois, por pura pena, recolheu tudo, teve o cuidado de secar a sacola e guardá-la em sua cabine.

- Não, isso não importa... - Celine suspira. Aquele incidente seria apenas mais um motivo para ela detestar o italiano.

Ela tomou banho rapidamente e se preparou para ir até o escritório. Dessa vez não dava para trabalhar na cabine, pois o projeto estava em vias de ser concluído. Seguiu para as escadas com medo de pegar o elevador e ter um sinal sonoro anunciando sua presença com quase três horas de atraso. Teria seguido em frente, se seu estômago não começasse a roncar de fome, a dor foi tamanha que ela chegou a lamentar por não ter comido da bandeja de Antonio. Seria um milagre encontrar café da manhã no buffet àquela hora.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora