A fuga do paraíso

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 - Bia, dá tempo?

Celine ouvia as informações enquanto vasculhava a mala aberta. Ao retirar uma troca de roupas, o telefone escorrega e cai dentro da mala. Ela cavou o emaranhado de tecidos recuperando o aparelho. Em seguida se despediu de Bianca e voltou a arrumar a mala do melhor jeito possível, já que estava com muita pressa. Correu para o banheiro e abriu a torneira de água quente, enquanto esperava, se despia. O vestido, ela conseguiu tirar num empuxo, mas teve de se esforçar mais com o colar. Seus dedos tremiam de nervosismo fazendo com que o fecho fosse perdido seguidamente. Isso a fez ter gana de chorar. Por fim, o colar, misteriosamente, caiu de seu colo indo parar direto no mármore frio do banheiro.

Um quarto de hora depois, ela já estava pronta para deixar o hotel. Empurrava a bagagem.

O voo fretado saiu de uma pista particular. A carona, que Bianca havia arranjado para elas, era de uns amigos de Carlos que eram modelos como ele e voltavam de um trabalho. Celine se sentiu grata, pois não se sentia capaz de enfrentar o burburinho de um aeroporto. Também por Bianca, que estava interessadíssima em travar novas amizades. Assim, ela foi deixada em paz por toda a viagem. Enquanto durou o trajeto, conversou com os outros apenas o suficiente, ouviu um pouco de música e traçou novos planos. Enfrentou a amiga somente em Nova York, no ônibus interestadual para Baltimore. Contou a ela sobre Sabrina e sobre o vídeo, repetiu a história por várias vezes para que Bianca não perdesse nenhum detalhe. Antonio, no fim da história, passou a ser tão vítima quanto ela. Ela só não contou sobre a gravidez. Porque não era certeza, e, se fosse, seria um segredo somente dela.

Mais tarde, em Baltimore, quando abraçou os pais de Bianca, Celine lamentou essa decisão. Esconder a gravidez deles seria o mais difícil. Quanto a Mister Graaf, ele se comportou como se não a conhecesse, demorou um tempo para que aceitasse o seu colo.

No dia seguinte, durante o café da manhã:

- Rose, brigada por cuidar do meu gato. Espero que ele não tenha dado trabalho em relação ao Tob.

- Nenhum, pode acreditar. - Rose dizia. - Nos primeiros dias, ele ficou meio arisco, mas logo sossegou, principalmente quando percebeu que o Tob não teria permissão para entrar na casa.

- Foi até engraçado o jeito com que ele provocava o Tob da janela da cozinha. - Robert acrescentava. - Esse seu gato é um grande malandrinho.

- É sim, eu sei. Trouxe presentes. - Ela faz entregando as sacolas a eles.

Rose adorou a água de colônia e Robert ficou impressionado com o rótulo do vinho. Ela bem que tentou substituir à altura o famoso Sassiscaia, mas fora se San Guido, o vinho custava muito caro. Comprou, no lugar, um demi-sec indicado pelo sommelier do restaurante de Monte Carlo.

Durante o café da manhã a campainha tocou e Robert foi abrir a porta. Reapareceu com um sorriso largo no rosto, balançava um pequeno chaveiro na ponta dos dedos.

- Eu também tenho uma surpresinha. - Disse. - E ela chegou bem a tempo.

- Uhull, surpresa! - Bianca se interessou.

- Não é para você, não. É para Cecel. São as chaves de um apartamento em Nova York, no SoHo. Já está mobilhado e, se quiser, será todinho seu por um ano.

- Mas é lógico que eu quero! Por um ano, verdade?

- Verdade, um ano sem pagar um centavo de aluguel. Basta pagar as contas, regar as plantas e enviar a correspondência para o dono do apartamento.

- Oh, Robert. Isso parece bom demais para ser verdade.

- Pois é verdade, acredite. Tome, sinta com suas próprias mãos. - Ele faz entregando as chaves a ela. - O apartamento é do filho de um amigo meu. Eu não disse antes porque não era certeza. O rapaz foi transferido para Nova Zelândia e não quer se desfazer do apartamento, nem alugar. Se no final de um ano, ele não se adaptar ao novo emprego, vai largar tudo e voltar para Nova York. Quem sabe Cecel, você não dá sorte e acaba ficando com o apartamento de vez.

- Nossa, isso seria perfeito! Oh, Robert, não tenho como agradecê-lo. Graças a você já tenho onde morar.

- Agradeça ao Marco, o proprietário do apartamento. No fim, você também estará fazendo um grande favor a ele cuidando de tudo e enviando sua correspondência para Nova Zelândia. Ele não conseguiria ninguém tão confiável quanto você, Cecel. E foi exatamente isso que eu disse ao pai dele.

- Ah.... - Celine se derreteu. - Mesmo assim, muito obrigado por me indicar.

Celine suspirou, aquelas chaves era uma benção, mas, de certa forma, dificultavam as coisas para ela. Agora, mais de uma pessoa conhecia seu novo endereço. Se ela realmente estivesse grávida e Robert viesse a suspeitar, a primeira coisa que ele faria seria ir tirar satisfações com o homem que a engravidou. Também havia a possibilidade do próprio Antonio vir procurá-la na casa deles. Bianca viajaria em menos de uma semana. Mas, e quanto a Rose, será que Antonio não a convenceria a dizer onde ela estava? Mas Celine não podia rejeitar aquelas chaves...

- Agora eu terei que pedir outro favor. - Ela começa, envergonhada. Mas se esforçou para ir em frente, o enjoo que ainda sentia devia significar algo. Antonio não podia saber onde ela estava. - É um pouco constrangedor, então, se não se sentirem à vontade, por favor, me falem. - Respirou fundo e pediu. - Se alguém aparecer nessa porta querendo saber onde estou morando, por favor, não passem esse endereço. Independentemente de quem seja. Peçam o telefone, dizendo que eu entrarei em contato. Eu sei que parece estranho, mas isso é muito importante para mim...

Bianca largou o grafo sobre o prato e saiu da mesa, emburrada. Celine parou o que dizia e acompanhou os movimentos dela, preocupada.

Rose explica a Robert:

- Acho que isso tem a ver com o italiano que Celine conheceu no iate.

- O quê? Por acaso a nossa Cecel se envolveu com algum mafioso?!

- Não, Robert, não é nada disso... - Rose tentou contornar.

Mas Robert continuou mesmo assim:

- Cecel, não vai me dizer que você tem o mesmo dedo podre de Bianca. Porque duas, eu não aguento!

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora