Ibiza

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Existia, lá fora, um burburinho maior que em Valência, o que era estranho, já que o porto de Ibiza era considerado o mais badalado da Europa, iates luxuosos não eram novidade por ali. No entanto, o número de curiosos só fazia aumentar. Câmeras fotográficas eram sacadas a todo instante. Havia sido assim pela manhã toda, enquanto Dionísio se aproximava da ilha. Thor, com certeza, estava gostando da figuração gratuita. Essas atenções agregariam mais glamour às imagens aéreas que estavam sendo documentadas pelo helicóptero.

- Vamos, Celine, acena, esse povo todo deve estar pensando que somos celebridades. - Bianca brincava enquanto agitava a mão em concha.

- É, parece que sim. Mas eu nem ligo.

- Porque você é uma chata. Acho que vou descer usando aquele meu chapéu de abas moles. Lembra-se dele, aquele com ares de Diva?

- Bianca, acho que não é boa ideia, aquela coisa vai fazê-la tropeçar. - Celine comenta, distraída com o topo do penhasco. - Será que vai dar? Parece meio longe.

- Claro que vai. Duas horas, é tempo o suficiente para subirmos esse... morrinho. Espere por mim, eu já volto.

Bianca desaparece em busca do chapéu e Celine continua apoiada na amurada, observando as amarras sendo feitas. Não via a hora de percorrer as ruas de pedra. Ela adorava exercícios ao ar livre e a academia de Dionísio não provia, nem de longe, aquela paisagem magnífica. Duvidava que algumas dessas fotos fossem capazes de registrar a emoção quando se via a península ao vivo. Casarios brancos de janelas pintadas, castelos, muralhas, tudo escarrapichado numa bela montanha. Suas pernas chegam a formigar de vontade de percorrer aquilo tudo.

Por isso quase morreu de frustração quando Bianca esteve de volta. Como se não bastasse o chapéu ridículo, ela vinha calçando saltos Anabela. Discutiram um pouco sobre isso, mas Celine desistiu. Seria bem pior se perdessem mais tempo. Depois, enquanto percorriam as ruazinhas de Ibiza, ela teve de admitir que o ritmo lento de Bianca trazia alguns benefícios. Construções de linhas simples e mediterrâneas, lojinhas de artesanatos, velhinhas varrendo as calçadas de pedra, enfim, tudo por ali era de uma calidez tão poética que passava a impressão de que a antiga cidade houvesse parado no tempo só para que elas tivessem o privilégio de admirar sua beleza pitoresca. Então, nada mais justo, que a admirassem com calma.

Mesmo as passadas lentas não foram o suficiente para Bianca, antes de atravessarem as muralhas do castelo, ela já reclamava de exaustão. Celine parou para avaliar a amiga e sentiu uma pontinha de remorsos, não havia permitido paradas, pensando que o ritmo lento seria o suficiente. Mesmo assim, ela encorajou Bianca a seguir em frente, queria muito chegar até o mirante. Do alto do castelo, as duas encontraram sentido para a exaustiva caminhada que fizeram. De lá, a vista era ainda melhor do que a do porto, dava para ver praticamente a ilha toda. A beleza rústica da cidade findando no mar Mediterrâneo e no azul mais puro do céu. Com o benefício extra de que, no lugar do mormaço da cidade, tinham ali a carícia de uma brisa fresca e melodiosa. E Dionísio, ancorado no porto, o iate impressionava mesmo daquela distância.

- Micahel disse que corta seu cabelo, se quiser. - Bianca falou depois de um tempo. Ela se referia ao cabeleireiro do iate que havia se tornado seu amigo.

Celine a fitou surpresa e não disse nada. Desfez o que sobrou do coque, provisionado com um elástico. A sensação dos cabelos cascateando sobre suas costas era sempre muito boa. Soltar os cabelos era sempre um momento muito íntimo para ela, no qual se sentia próxima da mãe. Quando era criança, sua mãe gostava muito de penteá-los e fazia isso com tanto carinho que a sensação de que se lembrava era a mesma da carícia da brisa. Era por isso que evitava cortá-los.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora