Mônaco

133 10 1
                                    


Enfim, o último porto. E foi nas primeiras horas da manhã que Mônaco veio despertar a equipe de marketing. Enfim, o grande evento, destino do predestinado Dionísio. Também era chegado o dia do desembarque, o porto que os separariam, quem sabe, para sempre. Depois de mais de um mês, juntos naquele iate, singrando pelas mais belas paisagens do velho mundo, era justo que houvesse uma despedida cheia de pesares.

Bianca fez questão de abraçar todo mundo. Celine apenas a seguia pelos corredores, sentia-se vazia, exaurida de qualquer tipo de sentimento. Em alguns casos, ela se viu obrigada a se entregar num abraço, mal conseguia disfarçar o enfado. Cartões, promessas de que manteria contato. Claro, por que não? Até ela era capaz de fazer promessas vãs.

Estavam no hall, onde havia um grupo maior de pessoas. Celine viu Antonio, ele dava ordens a um tripulante enquanto verificava uma lista, seus olhares se cruzam. Mesmo assim, nenhum sentimento, ela estava mesmo vazia. Antonio desviou os olhos para a mala de rodinhas que ela trazia. Celine entendeu a mudança na expressão dele. Ali estava a bagagem de um mês. Depois que ultrapassasse aquela porta, não haveria rastros dela naquele iate, nem na vida dele.

O que Celine não esperava, é que Antonio fosse largar tudo e se aproximar.

- Você não pode ir com os outros. - Ele chega dizendo. E todos, até mesmo as pessoas que estavam à beira da saída, param com tudo para observá-los. - Juan, leve a senhorita Celine ao hotel, o mesmo onde ficarei hospedado.

- Antonio, não... - Ela pede num murmúrio constrangido.

- Preciso acertar alguns detalhes com você antes da festa. Sobre o trabalho que realizou em Dionísio. Não disponho de muito tempo, por isso, terá que ser assim.

Impressionante como aquele breve esclarecimento foi capaz de diluir o grupo de curiosos. Mesmo assim, ela não ficou nada satisfeita, principalmente quando Juan avançou sobre sua mala. Ela se negou a entregá-la, apertou a alça até que as juntas doessem. Bianca, que até então reclamava por não ter sido avisada sobre a mudança de planos, passou a notar o duelo.

- Tudo bem, Celine. - Ela faz e segura o punho da amiga amenizando a tensão dos dedos. Juan pôde finalmente pegar a mala. - Não tem problema que a gente fique em hotéis diferente. Nós nos veremos na festa. Eu também vou, esqueceu?

Celine não abre a boca para responder, de tão aturdida que estava. Ela estava sendo entregue novamente aos cuidados de Juan. Bianca perguntava algo sobre o dia seguinte, sobre a carona para Nova York. Ela saiu sem responder, sentia que, se abrisse a boca naquele momento, era capaz de cair num choro convulsivo.

Mas, afinal, porque é que ela não gritou que nem em milhão de anos aceitaria ir a uma festa com ele? Que Antonio havia perdido esse direito ao tratá-la de modo tão deplorável no dia anterior? Que ela sabia que ele vinha exibindo o vídeo...

Mais tarde, ela entendeu que continuava a adiar o rompimento. Que seguiu Juan, naquele dia, guiada pela própria vontade.

No estacionamento, um sedã negro esperava por eles. Celine se lembra de Enrico, compara. Suas pernas agora pareciam feitas de chumbo, seus gestos sem vida, toda ela, puro desânimo. Somente à porta do carro, foi que ela percebeu que ainda carregava a mochila, retirou as alças do ombro, entregou o fardo a Juan.

Quanto ao tripulante, ele teve pena da garota amontoada no banco de trás. Enquanto dirigia pelas belas ruas de Mônaco, tentava distraí-la com a nova paisagem, sem êxito. Não obteve nenhuma reação que demonstrasse um interesse genuíno pelo que mostrava. A marina mais luxuosa do mundo, não passava de um estacionamento para barcos; o requinte da cidade principesca, mera cópia dos franceses; a famosa curva hairpin, uma simples elipse. Celine nem ao menos levantou os olhos para o lendário cassino de Monte Carlo.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora