Um ajuste perfeito

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Antonio olhava para as imagens paradisíacas na tela do computador, absorto em suas próprias lembranças. No dia anterior, no momento em que o iate se aproximava de Positano, ele havia saído para o tombadilho junto com os outros. Aquelas encostas eram lindíssimas, impressionantes para quem as visse pela primeira vez. Ele quis ver Celine, a expressão dela transfigurar-se de uma simples curiosidade para puro deslumbramento. E, por um momento, ficou entretido, deliciado com a felicidade dela, mas o que veio em seguida causou-lhe profundo desgosto. Um dos rapazes da edição a convidou para um rápido passeio; percorreriam a bela Costa Amalfitana de lancha, assim que Dionísio atracasse em Atrani. Imediato a isso, Celine olhou para o interior do camarote, ao se deparar com ele tão próximo se encolheu contra a amurada, assustada. Recusou o convite. Seus olhares se encontraram cada vez que ela disse não, pois houve insistência. Antonio pôde sentir nela um pesar meio envergonhado e contrito. E isso o envergonhou profundamente.

Devido a isso, ele interveio na conversa, mesmo contrariado, tentando se redimir com a própria consciência. Entrou no coro e insistiu para que ela fizesse o passeio, concordou com os rapazes, o trabalho do escritório podia ser feito noutra hora. Se ela tinha a oportunidade de conhecer uma das paisagens costeiras mais bonitas da Europa, não devia desperdiçar. É claro que, para isso, designou Juan, seu homem de confiança, para acompanhá-los na lancha. Não por ciúmes, não daqueles caras, mas porque Juan conhecia bem a região e era capaz de mantê-la em segurança. Só de pensar nela saltando do alto do fiorde di Furore, sentia-se doente.

Naquela mesma noite, Celine foi até sua cabine. Já meio sonolenta, relatou o passeio enquanto permanecia aninhada em seu colo. Ele jamais se esqueceria da expressão daquele rostinho lindo, enquanto ela perguntava o significado de "perla coltivata e molto testardo". Mesmo sabendo do que se tratava, perguntou onde ela tinha ouvido aquelas palavras. Os olhos âmbar imediatamente foram abaixados, envergonhados; a pele amorenada pelo sol do Mediterrâneo encobria o tom rosado que ele tanto adorava.

- É algum tipo de palavrão, um xingamento? - Ela havia insistido.

- Não, não é. A primeira, significa pérola, uma expressão que nós, italianos, usamos para definir um tipo especial de beleza. Testardo significa teimoso. Quem foi que lhe disse isso?

- Um senhor que remava o barco pela gruta esmeralda, ele parecia muito irritado. Por isso, eu imaginei que fossem palavras sujas. Pensava que testardo fosse retardado ou algo parecido. Sei lá, ele parecia bravo...

- Celine, nenhum italiano que se preze diria algo ofensivo à uma garota bonita como você. - Ele explicou, enquanto sentia o corpo dela se entregar languido de cansaço sobre seu peito. -E, então, você gostou da gruta?

- Gostei, é linda; pena que é proibido nadar por lá.

- Sì, é proibido... - Ele murmurou de volta, mesmo sabendo que ela havia nadado, contrariando as regras do guia. Mas não pôde discutir de tão absorto que estava. Cheio daquele sentimento terno e absoluto quando a tinha nos braços. E, por algum tempo, ficou em silêncio embalando o corpo mole de sono. Celine ainda estava quente do sol e começou a balbuciar coisas incompreensíveis. Foi então que ele a beijou, com o único intento de mandá-la para cama. Isto, no entanto, só resultou em acordá-la definitivamente para que correspondesse ao beijo de forma impetuosa e ardente.

Mia perla coltivata, se você soubesse o quanto eu fiquei contrariado por não ter feito parte dessas memórias.

As magníficas escarpas de Positano e Amalfi, com suas antigas construções encravadas na pedra, castelos medievais, os velhos casarões de veraneio da monarquia italiana, grutas místicas... Dionísio, enfim, navegava em território italiano, sua terra natal. Mesmo conhecendo aquele litoral com a palma da mão, seria um prazer único mostrar tudo a ela.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora