Quando a porta da cabine foi aberta, Celine deu um salto da cama. Ela nem se incomodou quando seu notebook caiu no chão num baque seco.
Antonio havia entrado em seu quarto de forma intempestiva.
- O que faz aqui?! Como ousa entrar no meu quarto?! - Celine, passado o susto, esbravejava.
Antonio olhava para ela de um jeito desvairado.
- Thor me avisou que está doente. Eu vim correndo. Celine...
Antonio parou o que estava falando e esperou pacientemente enquanto Celine pulava de uma cama para outra.
- O que está havendo? Celine, se você está doente, tem que me dizer. Se for preciso, eu mandarei buscar um médico.
Mas Celine não respondeu, ao invés disso, gritava a pleno pulmões que ele não devia estar ali.
- Se continuar gritando desse jeito, alguém vai acabar ouvindo e o escândalo será maior. Além disso, a porta estava aberta, eu bati antes de entrar. Você não deve ter ouvido porque estava concentrada no computador.
- Não interessa, eu quero que saia. Agora!
- Calma, eu vou sair, assim que me disser o que está sentindo. Celine, pode ser grave! Seu rosto está cheio de manchas vermelhas.
Celine esfrega as maçãs do rosto com as mãos. Sabia o quanto estava vermelha, fora impossível conter o choro quando, de madrugada, ouviu o rugido do helicóptero. Depois que a primeira lágrima caiu, vieram muitas outras e não pararam desde então. Essa foi uma das razões que a levaram a mandar um e-mail para Thor avisando que não se sentia bem e que ia trabalhar na cabine. A outra, era o próprio Antonio.
- Isto não é nada. - Ela diz, esfregando o rosto. - Nada que diz respeito a você, pelo menos. Agora saia daqui. A-go-ra!
- Não seja tola, andiamo, deixe-me ver. - Antonio ordena e avança sobre ela. Celine tenta escapar pulando de volta até a outra cama. Antonio, no entanto, foi mais rápido e a agarrou. Ele a manteve presa sobre o colo enquanto lutava para sentir sua temperatura.
Celine esbravejou e lutou o quanto foi capaz. Quando Antonio finalmente a soltou, seu corpo escorregou, exausto e trêmulo, para o chão.
- Não é febre. - Antonio constatava em voz alta. -Você está um pouco quente, mas não é febre. Isso significa que essas manchas vermelhas só podem ser de choro. Celine, você estava chorando...
- Chorando. Então você acha que eu estava chorando? - Ela debocha ao mesmo tempo em que limpava uma lágrima.
- Sì, como agora. Mas o que está havendo? Você não respondeu minhas mensagens. Eu apressei a minha volta, pousei de madrugada pensando que a encontraria na cabine...
- Pois não me espere naquela cabine nunca mais... - Ela rosnou apesar da vontade de gritar. - Chega! E até o fim dessa merda, até esse maldito iate atracar em Mônaco, eu exijo que se dirija a mim apenas no âmbito profissional, está me ouvindo? Eu não vou ser feita de boba. Você vai cumprir com o nosso trato até o fim ou eu largo essa merda agora mesmo. Agora mesmo!
Antonio se enrijece. Somente depois de algum tempo é que ele foi capaz de dizer:
- Mas o que é que eu fiz afinal? (Sem resposta). Você não pode estar tão furiosa assim só porque eu entrei no seu quarto. Isto é um absurdo! Se você está chorando por algo que eu fiz, então diga porque eu tenho o direito de saber.
Celine tentou um riso forçado, mas estava tão amarga que o som saiu mais parecido com um ganido medonho.
- Aaah, então você acha que essas lágrimas são por sua causa. Mas é muita pretensão mesmo.... - Ela guinchou enquanto tentava deter a enxurrada que saía de seus olhos. Se Antonio não a tivesse visto chorar, ela teria falado sobre o vídeo, exigido uma explicação, feito ameaças, mas agora isso era impossível. Jamais daria esse gostinho a ele.
- Va bene, se não é sobre nós, se é algo pessoal e não quer falar sobre isso, eu saio. Voltaremos a conversar quando estiver pronta.
- Não haverá depois, Antonio, será que não entendeu? - Celine informa, mais controlada. - Antonio, eu estou rompendo com você. É isso mesmo que ouviu, rompendo. Essa história já foi longe demais, não quero mais continuar. Mas faço questão de uma coisa: que cumpra com sua parte no acordo. Quero que você destrua qualquer tipo de imagem que me relacione a você. Faça isso agora mesmo... Se insistir em me tornar parte dessa anarquia que chama de vida pública, eu sou capaz de processá-lo. É isso mesmo que ouviu. Vou processá-lo por assédio, crime contra a honra, o que for. Antonio, eu sou capaz de armar um escândalo, mesmo que saia queimada dele. Garanto que será muito pior para você. Eu tenho meios para arruiná-lo.
- Assédio, crime contra a honra... Ma che cazzo è questo? Celine, me explique direito essa história. Se todo esse choro é por minha causa, então me diga o que foi que eu fiz.
- Chega, Antonio, chega! Eu já disse que não é por sua causa. Não derramaria uma única lágrima por sua causa. Aceite que está sendo dispensado e vamos acabar logo com isso. Acabou. Não preciso mais dos seus serviços, estou te dispensando. Saia!
Antonio saiu. Por que, se não o fizesse, teria sido capaz de sacudir Celine até que ela falasse. Estava furioso, sabia do que era capaz quando se sentia assim. Um gigolô, então era isto que o resumiria? Não, ele não seria usado, Celine não faria dele um maldito ritual!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O segredo de Celine - Livro 1 da série Dionísio
Romansa- Gosto de fazer parte de seus segredos, perla... Ele disse, provocativamente. Será que aquele maldito italiano seria capaz de por tudo a perder apenas para acariciar seu ego sórdido de conquistador? Uma carreira meticulosamente planejada indo água...