Quando a viu atravessar o camarote até o convés, Celine, na opinião dele, parecia uma nuvenzinha, volátil e silenciosa. O vestido branco que ela usava era bem fluido, absolutamente disforme e a barra ia roçando de leve o piso enquanto ela caminhava. Já que não tinha sido visto, Antonio não se sentiu no direito de incomodá-la, voltou sua atenção para o relatório técnico que estava lendo. Mas, depois de algum tempo, desistiu; as informações vagavam por sua cabeça, tão rarefeitas quanto a brisa que entrava pelo convés.
Era o primeiro dia daquela empreitada maluca que Thor o convencera a fazer. Mas, tão logo amanheceu, ele soube, de uma forma mais maluca ainda, que não havia com o que se preocupar, o projeto realmente seria um sucesso. No calendário mitológico, o dia de Ares. Como se não bastasse isso, a alvorada nascia trazendo no horizonte uma nuvem semelhante a um cavalo incandescente. De acordo com seu falecido avô, esse era o símbolo máximo da paixão pela vitória. O prenúncio de Ares de que algo grandioso estava prestes a acontecer. E era isso que o projeto significava para ele, a chance de provar aos acionistas que em suas veias corria o mesmo sangue Navarro de seu pai, de seu avô, a mesma paixão que movera a empresa através de gerações. Se os dias seguintes nascessem tão perfeitos quanto esse, e ele estava certo que isso aconteceria, as imagens ficariam mais do que convincentes. Dionísio já era um sucesso, todos que o conheciam ficavam extasiados com seu design único, aliado à uma engenharia perfeita. Nada poderia dar errado.
Ele só não entendia por que a garota estava ali enquanto todos comemoravam em torno da piscina. De onde estava, podia ter um vislumbre da silhueta dela debruçada sobre a amurada do tombadilho. Quieta e introspectiva. Algumas pessoas eram assim e ele devia respeitar isso, mas não aguentava a própria curiosidade, aquela vontade persistente de saber mais dela. A garota era como um mistério, e, por mais que dissesse a si mesmo que esse mistério não era da sua conta, ele se pegava, invariavelmente, pensando nela, no rosto vermelho e acanhado. Há quanto tempo não via uma garota corar daquele jeito? Talvez fosse só isso, o prazer que aquele acanhamento lhe dava. Bom, pelo menos deveria ser, pois ele não se sentia no direito de tirar dela mais do isso. Celine era jovem e inocente demais para um homem como ele. De qualquer forma, certo ou não, naquele momento, ele se sentia incapaz de prestar atenção naqueles documentos. Sentia necessidade de olhar para ela, de certificar-se do quanto era bonita apesar das roupas estranhas que usava.
Ele deita os papéis sobre a mesinha e vai até o tombadilho. Celine, de onde estava, parecia tão absorta contemplando a paisagem que, por um lapso de segundo, ele pensou em voltar.
- Olá. - Ele faz antes de sair.
Celine pulou de susto, o que deixou indeciso entre o camarote e o convés. Mas logo ela se recompõe fazendo uma carranca de irritação. E foi justo isso, o prazer de provocá-la, que lhe deu um novo impulso para sair.
- Me desculpe por assustá-la. Eu estava aqui o tempo todo, pensei que tivesse me visto.
- Oh.... É mesmo, Sr. Navarro? Eu não notei. - Ela disse, parecendo decepcionada.
- Antes de tudo, não me chame de senhor. Não exijo esse tipo de formalidade nem mesmo da minha tripulação. Quero que chame de Antonio, sì? - Celine assentiu, mas Antonio desconfiou de que não seria tão fácil assim. - O que está fazendo aqui, sozinha? - Ele pergunta se aproximando bem devagar para não a assustar. - Por que não está com os outros?
- É que eu não gosto muito dessa agitação. Acho que estou preferindo o silêncio... - Celine começou meio incerta, sem saber o que devia dizer para mantê-lo afastado. - Mas talvez eu vá. É, talvez, seja... melhor... que eu vá.
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O segredo de Celine - Livro 1 da série Dionísio
Romance- Gosto de fazer parte de seus segredos, perla... Ele disse, provocativamente. Será que aquele maldito italiano seria capaz de por tudo a perder apenas para acariciar seu ego sórdido de conquistador? Uma carreira meticulosamente planejada indo água...