Revelação

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- Duas taças? - Antonio insistia. - Celine, não é possível, ninguém passa mal com duas taças de vinho.

Celine, largada no banco ao lado, parecia um daqueles bonecos que emitiam ruídos quando chocalhados. Ela gemia e isso era tão frequente quanto as lombadas da via.

- Amor miei...

- Não me chame assim. - Ela grunhiu.

Antonio, frustrado, soca o volante do carro desestabilizando o veículo por uma fração de segundo.

- Esse seu ostracismo é irritante! Pelo menos, posso saber o que foi que eu fiz?

Dessa vez, Celine contou. E as palavras saíram de sua boca num jorro:

- Sabrina. Foi ela quem mandou o vídeo. Nós dois, Antonio, naquela piscina...

- Padre mio.... Mas do que é que você está falando?

Dessa vez, ele não obteve uma resposta. Celine estava encolhida, tapava os olhos com as pontas dos dedos e chorava. No lugar dos gemidos, ele agora ouvia soluços.

Antonio começou a se preocupar, seja lá o que estivesse acontecendo, parecia grave. Um vídeo dos dois na piscina. Mas por qual razão Sabrina enviaria isso a Celine? Será que se tratavam das imagens registradas pelas câmeras de segurança? Se fosse, essa não seria a primeira vez que ele ouvia falar sobre esse vídeo. Há dois dias, Celine havia pedido que ele destruísse esse mesmo arquivo. Pensando bem, também houve aquele dia, quando ele a encontrou chorando na cabine, seu rosto estava tão inchado e vermelho que ele chegou a pensar que ela estivesse doente. Celine também mencionou umas imagens, não especificamente essas, mas qualquer uma que os ligasse. Fez um monte de ameaças...

Porca misera, como eu não associei isso antes?

A verdade caía sobre ele como um raio.

- Celine você pensou que fosse eu. Perla...

- Não importa. - Ela choraminga. - Antonio, o vídeo não importa. Nada disso importa.

- Mas como...

Eles haviam chegado. Celine saltou, tão logo o carro parou, ignorando a ajuda do valete. O que se viu dela, foi somente o esvoaçar do tecido vermelho enquanto seu vulto desaparecia no interior do saguão. Antonio se desculpou com o rapaz, entregou as chaves e correu para junto dela. No elevador, ele não ousou pressioná-la, Celine tinha um aspecto doentio. Ele abriu a porta do quarto e permitiu que ela se trancasse no banheiro. Ficou do lado de fora ouvindo gorgolejos de vômito por quase um quarto de hora. Depois, um silêncio insuportável, ele chegou a pensar que ela tivesse desmaiado e sufocado com o próprio vômito. Tentou forçar a porta, mas estava trancada. Tornou a ficar em silêncio para ver se conseguia ouvir algum som mais íntimo. Um ruído teria sido o suficiente para tranquilizá-lo, mas não houve nada. Desesperado, Antonio passou a esmurrar a porta.

Então a chave virou e Celine finalmente apareceu. Passou por ele com cara de brava.

- Grazie! Pensei que tivesse morrido lá dentro.

- Ninguém morre vomitando.

- Podia ter sufocado, sei lá, batido a cabeça...

- Antonio, eu estava consciente!

- Eu sei que estava. Mas fiquei com medo mesmo assim.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora