A entrevista

371 22 13
                                    



- Isso não parece certo. - Celine pensou ao se analisar na vidraça da fachada do hotel cinco estrelas. Não esperava que o lugar fosse tão chique. A saia longa e a camisa de mangas compridas não pareciam o suficiente para uma entrevista de emprego. A sua primeira entrevista de emprego, já que sua colocação na Merill Lynch tinha sido conseguida por vias menos formais. Mas, infelizmente, ela não era do tipo que se preocupava com o que vestia. Suas roupas só tinham que obedecer a um determinado padrão. O que, de acordo com Bianca, era o menos sex possível, mas era justamente isso que a fazia se sentir segura.

Que se dane! Pensou consigo mesma, empertigando os ombros. Estava se preocupando demais com um emprego temporário...

Depois de quase tropeçar em uma pobre velhinha, chegou até o balcão de informação sentindo que aquele não era um bom dia para se conhecer um importante homem de negócios. Principalmente quando foi analisada de alto a baixo pelo trio de recepcionistas elegantemente vestidas em costumes de cor vermelho ferrugem.

- Sr. Navarro, por favor. - Celine disse as palavras mágicas que mudaram a expressão da moça que a atendia. - Tenho uma entrevista marcada.

A recepcionista sorriu e perguntou num tom de voz bastante solicito:

- Ah sim, o Sr. Navarro. Qual o seu nome, por favor?

- Celine. Celine dos Santos.

- Oh, está aqui. - A moça disse depois de conferir uma lista. – Vamos lá, vou leva-la a sala de negócios onde o Sr. Navarro está recebendo.

Se Celine já se sentia inadequada, essa sensação só piorou quando a recepcionista, de forma totalmente contrária à sua boa vontade, enviou um olhar de cumplicidade para suas companheiras que deram risadinhas maliciosas. Celine teve certeza que a razão desse deslize fosse suas roupas pouco atraentes. Isso porque Bianca vivia dizendo que já havia passado da hora de ela superar a nerd desleixada e se vestir de acordo com a imagem que desejava passar para as pessoas. Era obrigada a concordar com Bianca, mesmo porque essa não foi a primeira vez que desdenharam dela por causa de suas roupas estranhas, já estava até acostumada com isso. O problema é que ela ainda estava presa às imposições do espelho... ou de Melinda.... A verdade é que não se sentia pronta para uma mudança como aquela. Ainda não.

Sentindo uma pontinha de magoa, seguiu a recepcionista sem dizer uma palavra. No quinto andar, havia uma porta aberta e ela foi conduzida através dela para um cômodo amplo, dividido em dois ambientes: living e sala de reuniões. Tudo muito formal e neutro. Na extremidade oposta, havia um homem virado para a vidraça que dava para a vista de Cambridge e como ele falava ao celular, tiveram que esperar um pouco. Sem ter o que fazer, passou a observa-lo, tentando imaginar se era ele o tal de Antonio Navarro. Esperava por um homem mais velho, aquele ali não parecia ter mais do que vinte e oito anos. O perfil dele era bastante atraente, alto, cabelos castanhos escuros, tez bronzeada e um padrão muscular de quem frequenta academia. A barba por fazer poderia ser considerada um sinal de desleixo, mas não em um homem daquele porte, com aquelas roupas impecavelmente elegantes, de um caimento perfeito, quem sabe até feitas sob medidas. Pena que não dava para ouvir direito a sua voz e saber se era europeu ou não. Tomara que não. Vai ser estranho ser entrevistada por alguém tão atraente. Celine pensou enquanto descia os olhos um pouco mais. A parte de baixo era ainda melhor...

Ah, não. Estou admirando a bunda de um homem estranho! Celine gemeu para si, quando se deu conta de que seu rosto já estava a ponto de brasa.

O prazer, estranho e inusitado, que a simples visão do homem lhe causava era tão inconveniente quanto sua figura patética, parada ali, abobalhada, como se não soubesse se comportar na presença de um homem bonito. Aflita, ela se vira para a parede, onde havia uma enorme tela abstrata. Corava com facilidade e sabia que, naquele exato momento, seu rosto estava francamente iluminado por dois faróis vermelhos. Se aquele homem virasse e desse com ela daquele jeito, cairia morta de vergonha. Respirou e tentou se distrair com a pintura, mas foi impossível se concentrar nas pinceladas vigorosas e distinguir um tema para o arranjo das cores, pois seu pensamento teimava em se esgueirar para o mundo que acontecia dentro da sala. Ela, então, se vê torcendo novamente para que o homem misterioso não fosse Antonio Navarro. Não queria ser entrevistada por ele, muito menos trabalhar para ele.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora