Regras

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- Ficou bom, mas que tal se a gente fechasse no logo da empresa?

- É, até que pode ser... Isso daria um pouco de drama, principalmente, se alterarmos a sonografia.

Celine acompanhava a conversa de Samuel e Garate, curiosa com as imagens que se desenrolavam na tela do computador, não resistiu e pediu para ver o que eles estavam fazendo.

- Claro, Celine, chega aqui. - Samuel diz abrindo espaço para ela deslizar a cadeira. - Já estamos no finalzinho da edição. Está vendo ali, em segundo plano, é a Ilha de Pedra. Vou voltar ao início e você fala se ficou bom ou não.

Havia algo de fantástico na composição daquelas imagens. Dionísio surgia entre dois afloramentos rochosos como se saísse de portais mágicos. No horizonte, dava para ver o cume da ilha, onde jaziam os restos de uma cidade medieval. A qualidade das imagens e o som digital também davam um requinte impressionável às cenas. Somado a tudo isso, havia as histórias míticas que Garate ia contando sobre a Ilha de Pedra, histórias sobre ninfas e gigantes...

- Sabrina é realmente uma ótima fotógrafa. - Ele dispara no fim, tirando toda a magia dela. - Vou mostrar algo realmente extraordinário. Vamos ver... Aqui está. Sabrina para conseguir essa imagem, Celine, ficou cerca de duas horas suspensa por cabos. Cara, acredito que ela seja capaz de qualquer coisa pela foto perfeita.

- Já ouvi falar sobre a obstinação dela...- Celine comentou enquanto admirava a imagem. Uma visão indiscreta da modelo fazendo topless no tombadilho do iate aparecia através de um rasgo na pedra, semelhante a um olho gigante. Sabrina era capaz de tudo pela foto perfeita, e do que mais ela seria capaz para ter o que desejava? O pensamento a deixa doente. Imediatamente procura Antonio, porque era nele que pensava.

Ele estava lá, no lugar de sempre, na parte mais distante da sala. E totalmente concentrado no trabalho. Desde que brigaram, vinha sendo ignorada. Ela não teve, por um momento sequer, os olhos intensos ao seu alcance. Mesmo nos momentos em que ele se dirigia diretamente a ela, mantinha o olhar preso num ponto qualquer, mas, na maior parte das vezes, só se falavam pelas mensagens ou através de Thor. Ela só podia entender isso como um rompimento, ele finalmente havia desistido dela. Foi um alívio no início, mas conforme o primeiro dia correu, ela começou a ponderar se não havia ido longe demais com aquele impropério. Talvez Antonio estivesse com raiva dela por ter ferido seus brios de sedutor irresistível. Chegou até a pensar em pedir desculpas, não que estivesse com pena dele, ou arrependida de tê-lo xingado, mas só para ser educada e manter um clima "civilizado". No fim, sentiu-se no direito de manter a afronta. Antonio estava indo longe demais com aquele jogo, ele não tinha o direito de tentar seduzi-la de modo tão implacável. Em algum momento da conversa, que tiveram noutro dia, ela até acreditou que ele realmente tivesse algum escrúpulo quanto à sua virgindade, mas, depois daquele lampejo, quando ela desdenhou dos encontros dizendo que estava interessada apenas em sexo, não teve mais dúvidas. Havia cutucado a fera, literalmente; Antonio estava com os instintos de caçador aguçados, não sossegaria enquanto não a visse caidinha por ele, rastejando como as outras fizeram. Não, assim ela não queria, era arriscado demais. O melhor, então, era deixar tudo como estava, enquanto o relacionamento deles se mantivesse regular no trabalho, o resto não tinha a menor importância.

Mas agora, naquele momento, com Sabrina imiscuindo-se entre eles, ela já não estava mais certa disso. Ciúmes? Até podia ser, ou quem sabe uma simples vaidade. O certo é que só de pensar na obstinação da fotógrafa estendendo-se até Antonio doía-lhe até os ossos.

Celine começou a ficar cada vez mais inquieta, furiosa até, conforme ia acalentando aquelas ideias. Para ela, o caso entre a fotógrafa e Antonio já era certo. Incapaz de se concentrar no trabalho, ela passou o resto da tarde buscando pelo escritório rastros do interesse dele. Engoliu o orgulho e enviou mensagens com perguntas corriqueiras e até desnecessárias sobre um trabalho que estava fazendo. As respostas dele vieram secas e objetivas, nada que indicasse um entendimento do esforço que ela estava fazendo para abrir um diálogo. Por fim, resolveu ir até a outra parte da sala e pedir informações para um trabalho que já tinha sido entregue. Não houve nada. Antes de sair, derrubou uma caneta propositalmente, esse gesto também foi ignorado. Como último recurso, desesperada e decidida a ser mais óbvia do que nunca, ela voltou até ele, dessa vez, para tirar dúvidas sobre um relatório, dados irrelevantes para uma análise que estava fazendo sobre os ativos da empresa. Ele respondeu sem olhar para ela, sem esboçar uma única reação, como se a ignorância dela fosse algo corriqueiro. O que era de se duvidar, pois mesmo Thor havia notado seu esforço. Ela conhecia muito bem aquele risinho debochado. Deixou o escritório, naquela tarde, profundamente desanimada, acreditando que não havia mais nada que pudesse fazer.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora